Passarinho

Passarinho

A cantoria os alegrava e servia de passatempo para os passageiros de ônibus do Belo, pois não era todo dia que se via uma figura como essa. Chico Fumo, como o chamavam era um cara alegre, trabalhador, genitor de uma meia dúzia de meninos, gostava de umas biritas, nunca fez mal a ninguém, a não ser para si mesmo e sua família, o maldito vício o consumia. Ele era tomado de uma força estranha que destruía os móveis de sua casa, amarava sua companheira com a corrente que prendia o seu cachorro, e a esmurrava até que ela entrasse em torpor, os filhos viam, e se falassem alguma coisa, era tapa para todo lado. Um Rapaz comentava na viagem como o cara era feliz e cantava bem, mas ele nem sabia quem estava elogiando.

Horas depois Chico procurou um hospital, para fazer um curativo, se dirigiu a enfermeira e perguntou, com língua pesada:

- Eu queria que você... me fizesse um curativo, minha mulher me bateu, é você sabe né tem lei Maria da Penha, mas ela não funciona. A mulher me deu uma facada na perna que esgotou muito, a senhora pode ver nos sinais de sangue seco?

- Eu estou vendo!

Tomado de grande pavor pedi para que se despisse e tirasse botina. Assim ele o fez, quase desmaiei diante dele, abri o pacote de curativo, irriguei com soro fisiológico, e enquanto realizava o procedimento, continuou.

- Você precisa me ajudar a aconselhar minha mulher, ela quase me matou com uma faca, a vantagem é que essa faca foi eu quem fiz, de mola de fusca, e estava sem ponta.

- Meu senhor aqui neste nosocômio, nós não fazemos nada além de cuidados e injeções, brigas é com a polícia.

Com o ressoar destas palavras saiu bem pensativo. No mesmo dia a notícia de sua prisão, ao procurar pela polícia fora preso, pois a polícia já procurara por algum tempo. Como um passarinho fora cantar na gaiola.

Rogério Alves de Carvalho
Enviado por Rogério Alves de Carvalho em 21/09/2007
Reeditado em 21/09/2007
Código do texto: T662658
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