Jingle Bells Envenenado - Parte 2
Jamais imaginaria, que um chique cruzeiro e uma bela ceia de Natal, se transformariam numa viagem macabra, com direito a um cadáver a bordo. Essa sensação funesta, pesava em meus ombros. Se não foi morte natural, foi assassinato, assim, além de um cadáver, também havia um assassino a bordo. Que poderia atacar novamente. Decidi não alertar a tripulação sobre a suspeita de crime, para não deixar o criminoso de sobreaviso.
Precisava coletar provas e evidências de que eu estava certo, ou enganado. Se houve assassinato, qual seria o motivo? Quem se beneficiaria?
Os sintomas apresentados, lembravam casos de envenenamento por cianureto: convulsões, cianose e odor de amêndoas. O criminoso era alguém entre a tripulação, que teve contato com ele minutos antes de sua morte.
— Alguém comeu amêndoas? – perguntei.
— Só temos nozes! – disse Belisa.
Isso confirmava minha suspeita. Certifiquei-me de que todos, comeram a mesma comida na ceia. O bolo nem todos. Era preciso rastrear, onde o veneno foi colocado, e por eliminação, encontrar a oportunidade de cada um para matá-lo. Se a comida fosse envenenada, todos morreriam. Não havia como atingir somente uma pessoa daquela forma. A dose fatal, foi dada diretamente a ele.
— Todos estamos bem até sermos beijados pela morte! – disse Donat.
— A ceia estava perfeita! – interrompi — Quem fez as iguarias?
Donat não esperava tamanha frieza, mas eu precisava saber da origem da comida.
— Belisa escolheu e o restaurante trouxe tudo embalado…
— Aquela moça, Lucy…
— Não a conheço, é uma nova amiga de Belisa.
— Trabalha para aquele político…
— Isso é estranho, veja… Pediu para guardar… - entregou-me um envelope.
Era um filme fotográfico. Examinei à luz., e vi dois homens trocando maletas executivas. Para mim não significava nada, mas deveria ser importante para Conway. Lucy poderia estar atrás disso. Mas não tentaria algo à Ross, isso chamaria mais atenção para si.
— Ficarei com isso…
Lucy Merril poderia oferecer dinheiro em troca dos negativos. Mas não saberia, que ele estaria no barco, e os levaria com ele.
Momentos depois, a encontrei sentada num canto do Netuno, olhando a chuva pela janela. Falei em voz baixa, o barco era claustrofóbico e sem privacidade.
— Mal conheço Belisa! A vi algumas vezes na companhia de Cora. Elas falaram do cruzeiro de Natal, e me ofereci para ir junto… Sou muito só e o Natal é tão mágico… Não queria ficar sozinha em casa…
Admitiu conhecer Cora, mas não mencionou Ross. Nem falou sobre o processo criminal entre ele e o chefe.
— O falecido e o dono do barco, não conhecia pessoalmente.
Senti os enjoos e a bile amarga no fundo da garganta. Levei a mão no bolso e percebi que meu remédio havia acabado.
Uma ideia funesta e desrespeitosa me ocorreu. Tomar as cápsulas de Ross. Deviam estar em seu bolso.
Donat que me acompanhou até o quarto. Examinei seus bolsos e não as encontrei.
— Donat! Não estão aqui! – falei surpreso.
— Deve ter colocado em outro lugar…
— Fiquei ao seu lado o tempo todo! Ele ingeriu e colocou no bolso. Nada caiu de sua roupa enquanto o carregamos…
Belisa fumava na cozinha.
— Não importo que Lucy seja uma desconhecida! – ela disse — Assim como você, ela foi convidada, para ceia. Imagino que não é você, quem deve se preocupar com quem frequenta ou não o meu barco.
— Tem razão, mas…
— Claro que tenho!
Ela abriu o freezer, remexia procurando um saco de gelo.
— Planejamos o ano inteiro… os detalhes mais sutis. E o que ganhamos? Um cadáver bem no meio da minha sala, enfeitando a árvore de Natal!
— Que isso faz aqui? – ela disse, surpresa ao encontrar algo escondido no freezer.
Eram as cápsulas com antiácido de Ross.
Isso me lançou uma luz sobre o caso, como uma maçã caindo de uma árvore.
Acendi um cigarro e olhava o cais se aproximando no horizonte. Fui até o bar e servi o vinho para a tripulação beber. Estavam todos na sala.
O frio da chuvosa noite natalina, não era mais frio que o clima entre nós.
— Sei que não sou bem-vindo, por uma pessoa aqui…– comecei.
Donat pareceu inquieto. Remexeu-se no sofá, mas fiz um gesto, pedindo que se calasse.
— Frustrei os planos de um criminoso!
Continuei, diante de uma plateia surpresa:
— Ross era saudável! Fui seu médico particular, como sabem… Realizamos exames de rotina, a pouco tempo, e ele padecia de uma gastrite. Tomava as mesmas cápsulas com antiácido, que eu tomo para os enjoos marítimos. Tenho seus exames e quando estivermos em terra firme, comprovarei tudo que digo! Uma necrópsia atestará minha teoria…