Os Últimos Decibéis

Enquanto eu os vigio, eles festejam e comemoram.

Continuo silencioso, olhando pelas brechas da janela do meu quarto. Pensamentos diabólicos. E, antes do galo cantar, sinto-me pronto para concluir o plano.

Por sorte, a arma encomendada pelo mercado negro, que atravessou a tríplice fronteira, após o contrabandista "molhar" a mão da polícia, chegou antes do Carnaval.

Não tenho trabalho algum. O artefato metálico de 965 gramas, de ação simples e dupla, trava manual e acabamento oxidado veio com a numeração raspada.

Após cintá-la no meu quadril, eu desço a escada e dou de cara com a rua fria. Alguns passos até o destino final.

A caixa amplificadora de som trabalha com vigor. Paredes vibram, esqueletos tremem e meu dedo coça. Alguns dançam, outros não conseguem permanecer de pé. O cheiro é de escárnio, falta de respeito e total desprezo. O mito da sociedade contemporânea bem sucedida novamente é colocado à prova. Nós fracassamos.

Eu entro na festa, e busco o culpado. Ele foi réu em meu julgamento pouco criterioso. Após uma análise fria, eu o sentencio culpado. Pena: Perder o direito a vida. O canalha deve pagar. E eu serei o carrasco.

Logo, percebe minha presença, e pergunta quem sou Eu.

Na verdade, pelo nível que se encontra o jogo, não importa.

Eu saco à arma e descarrego o pente. Dou tudo que ele merece e um pouco mais. Deixo o maldito sangrar, enquanto desconto o restante da raiva no aparelho sonoro.

No chão, seus amigos fogem e sua mulher chora. Eu dou risada.

E, ainda rindo, volto para casa com a certeza de dever cumprido.

Fim.