Draumstafir
[Continuação de "Efni"]
[Fyrirvari: þessi smásaga er hluti af áframhaldandi og óunninni sögu sem gerist á Íslandi]
- A principal força do nosso adversário, - declarou cripticamente Salóme Sigtryggsdóttir ao descer no posto policial de Heimaey para uma xícara de café com o inspetor Ormar Halldorsson - é negarmos que ele exista.
A chuva de verão castigava a construção de madeira. Dyri Steinkellsson, o assistente de Halldorsson, fora até o porto da ilha despachar a amostra de água retirada do caixão de Margit Hrimnirsdottir; com sorte, no dia seguinte ela estaria nos laboratórios da polícia islandesa em Reykjavík.
- Se estamos falando de um homem, - retrucou o inspetor, apanhando a cafeteira e enchendo duas xícaras- muito ajudaria se me fornecesse o nome e endereço.
- Esta informação eu ainda não tenho, inspetor - replicou Sigtryggsdóttir, pondo ênfase no "ainda". - Mas sinto que ele está por perto.
Ambos estavam sentados no pequeno e atravancado escritório de Halldorsson, em lados opostos de uma escrivaninha sobre a qual jaziam organizadamente relatórios e outros documentos produzidos pela burocracia policial. Havia também duas fotos emolduradas, de Halldorsson com a mulher e os dois filhos, e dele com a ministra da justiça.
- Poderia ao menos me dizer o que o motiva? - Indagou Halldorsson, colocando açúcar em seu café. - Já percebi que a senhora é uma sensitiva... médium, ou o que seja. Particularmente, nunca dei muita atenção para esse tipo de coisa, mas estamos na Islândia e acreditar em forças sobrenaturais faz parte do cotidiano.
Sigtryggsdóttir pingou adoçante na sua xícara.
- Não acreditar em forças sobrenaturais dá azar, inspetor - retorquiu ela, com um sorriso irônico. - Mas vamos ao que lhe interessa: o nosso homem não pode agir sozinho. Para fazer o que faz, ele precisa recrutar seguidores.
- Imagino que remover corpos de cemitérios deva exigir certo número de pessoas - ponderou Halldorsson bebericando seu café. - O difícil é acreditar que elas vivam aqui, em Heimaey, onde todo mundo se conhece.
- Pode estar certo de que vivem aqui e que, muito provavelmente você os conhece - afirmou Sigtryggsdóttir, estreitando os olhos. - A questão é que eles acreditam no nosso homem e no que ele propõe, e estão dispostos a seguir suas orientações para chegar lá.
- Lá... onde? - Inquiriu o inspetor, pousando sua xícara no pires sobre a escrivaninha.
- Se eu confirmar minhas suspeitas, na Terra Prometida; uma Terra Prometida purificada pelo fogo e erguida sobre as casas sepultadas dos vivos - redarguiu Sigtryggsdóttir em tom sombrio.
Halldorsson a encarou com uma expressão interrogativa.
- Não sei se entendi bem a analogia, mas quase me pareceu que estava descrevendo a erupção do Eldfell, em 1973... se bem que, claro, foi um fenômeno natural, não havia nenhuma sociedade ocultista por trás dele.
E perante o silêncio da interlocutora, indagou preocupado:
- Havia?
- Não, não havia, inspetor - acedeu finalmente Sigtryggsdóttir. - O que não significa dizer que não estejamos prestes a nos deparar com fenômenos muito mais sinistros do que uma erupção vulcânica.
Apontou para um bloco de papel que estava sobre a escrivaninha, e perguntou:
- Posso usar uma folha do seu bloco?
- Naturalmente! - Replicou Halldorsson.
Sigtryggsdóttir pegou uma caneta e desenhou no papel algumas linhas cortadas por círculos; em seguida, exibiu-o para o inspetor.
- Sabe o que é isso?
- Creio que... um símbolo mágico?
- É um "rosahringur minni", um círculo de proteção - explicou Sigtryggsdóttir. - Sugiro que prenda isso atrás da sua porta... e vamos ver quem terá dificuldades em entrar por ela.
- Um teste? - Questionou Halldorsson erguendo os sobrolhos.
- Podemos chamar assim - concordou Sigtryggsdóttir.
O inspetor ergueu-se, pegou o papel e o prendeu atrás da porta com fita durex.
Havia acabado de sentar-se em sua cadeira, quando bateram do lado de fora.
- Entre! - Exclamou ele.
[Continua em "Skelkunarstafur"]
- [28-01-2019]