Barão do Casarão
"Os russos apertam às mãos e sabem a intenção das pessoas... "
09:23 hrs
Estava chovendo e ela voltava de sua corrida matinal vestida com um casaco vermelho Lafuma, tênis Asics e roupas Track Field azul marinho... Não havia preocupação ao estar se molhando e sua naturalidade era algo surpreendente única.
Diante aos seus olhos ela avistava um Casarão todo branco e com ares de lugar abandonado, qual tinha um homem que sempre estava na varanda mais alta. Era tipo um lugar vazio e ao mesmo tempo com uma vida solitária e perdida em algum sentimento de tempo passado.
Em breve sorriso, ela o comprimentou e ele com uma das mãos acenou em retribuição dizendo:
- Olá! Espera... Vou descer!
Ela pensou em um breve momento que não custava ser gentil e esperar. Mesmo que nunca houvessem se falado, mas ela tinha uma certa curiosidade desde a sua infância que olhava encantada aquele Casarão. Sempre soube que aquele homem residia ali e muitas vezes ouviu das pessoas que maldosamente o apelidaram... "Barão do Casarão"
Um homem que sugava pessoas para fazer delas suas vítimas fatais... Contos e estórias de pessoas provincianas e linguarudos desocupados.
Então ele abriu o portão, qual estava cheio de correntes enferrujadas e entrelaçando nelas haviam três cadeados de tamanhos diferentes.
- Puxa! Você cresceu!!! Sempre linda e cheia de vida!!!
- Obrigada! Eu sempre te vi e nunca tive o prazer de falar com você! Desculpa... Estava na praia correndo e começou à chover...Faço exercícios pela manhã... Estou toda molhada... Desculpa! Eu amo chuva!!!
- Você é linda de qualquer jeito!!!
Seu rosto era delicado e em ocasiões embaraçosas lhe fazia um ar profundo com expressões em silhuetas pintadas em tonalidades de sombras nas pinturas clássicas. Ela lembrava um anjo em forma de demônio com sorriso de fada e sua presença dava um inalar harmonioso com cheiro místico de rosa, incensos, carvalho, cevada, mel em gotículas da gelada chuva.
- Entre! Gostas de pinturas?! Eu estava pintando umas telas... Estão com tinta fresca e acredito que você vá gostar!!!
- Oh! Você pinta?! É um prazer! Eu fico lisonjeada em poder apreciar as suas pinturas!!!
Ao atravessar o imenso portão, ela observou a pressa com quê, ele fechou as correntes e os cadeados... Então, seguiu caminhando com ele até a entrada principal do grande Casarão.
- Me dá licença?! _(Ela disse ao entrar)
- Entre... Veja minhas telas!!!
Eram telas pintadas à óleo em natureza morta, mas todas já haviam sido criadas com um longo tempo... Existiam teias de aranhas, muito pó e um forte cheiro de mofo. O lugar era escuro e não parecia habitado... Havia uma mesa em mármore onde estava uma estátua do corpo humano feminino. Daquelas que médicos ginecologistas usam em seus consultórios... Com cavidades para movimentar os órgãos e observar o seu interior em estado clínico e hábil para quem estuda medicina.
Ele olhava com receio para os olhos dela, mas continuava à mencionar que havia pintado aquelas telas em um tempo próximo do real e perdido no imaginário. Também havia um imenso espelho no fundo da sala, com um cobertor que não tinha o tamanho exato para cobrir toda a sua luz.
Ela perguntou sobre a estátua e ele somente ouviu e nada respondeu.
Um gato atravessou a frente da porta, mas não adentrou... Deu um miado e os seus olhos se iluminaram com o reflexo do imenso espelho. Então, ela saiu até a varanda e viu cerca de 22 gatos, todos rodeando o Casarão.
- Uau! Você tem uma coleção de felinos!!! São lindos!!!
- Sim...
Caminhando ao lado dele ela via o Casarão por ângulos próximos e podia tocar nas suas paredes, cujas tinham grandes janelas fechadas e muitas teias de aranha... A chuva aumentou e ele à puxou na direção de um mezanino.
Dava para ver a chuva e ouvir todas às suas expressões ao cair pelo vento nas telhas, nas paredes e no chão.
- Desculpa! Eu te puxei para não se molhar... Eu te conheço há tantos anos, mas nunca soube o seu nome...
- Tudo bem! Obrigada! Eva... Meu nome somente tem três letras...
- Sou Ali... Também tenho apenas três letras! _(Dando um sorriso tímido)
- Que coincidência!!! Gosto disto!!!
- Venha ver o meu carro... A garagem é aqui ao lado... Vamos?!
Ao descer uma escada sinuosa, Eva pôde ver um porão que ficava do lado da garagem... Era tipo um lugar abandonado e no mesmo tempo, um lugar cheio de estórias à transbordar.
- Este é o meu carro!!! Ele é novo, mas lhe falta o motor... Bandidos invadiram aqui e roubaram... Eles quebraram o vidro, pois queriam levar o carro... Somente conseguiram roubar o motor. _(Dando um suspiro e olhando na direção do porão).
Era um carro muito velho e em estado de deterioração... Faltava muita coisa para estar completo, mas na visão do dono, era um carro novo.
Diante de tudo, era evidente que algo dentro daquela estória estava sem sentido ou faltando alguma maneira coerente de aceitar.
Outra vez um gato surgiu... O felino ficou todo arrepiado e encarando Eva com os seus olhos brilhantes, ele atravessou por uma fenda ao lado da escada que levava ao porão. Claro quê... Ela não desejou segui-lo.
Eva foi saindo da garagem dizendo que a chuva estava passando. Quando chegou em uma parte do jardim, viu pedaços de carne crua jogados ao chão... Algo meio mórbido e incomum, pois não nasceram na grama e na lógica foram jogados por alguém.
- Ali... O que significa isto?!
- Comida para gatos.
- E você dá carne crua?!
- Eles nunca reclamaram.
- Nem fariam... Se eu fosse uma gata, não recusaria e nem reclamaria.
Ele deu um sorriso e ficou sério olhando para os olhos dela, que se apressou em conduzir a conversa para outro ângulo em uma plataforma esférica e veloz, dando sensatos movimentos em seus neurônios. A sua perspicácia e experiência psicológica se armou e não lhe abandonou naquele instante.
Fazendo biquinho com os lábios, ela emitiu um som inusitado, qual os gatos ouvem com clareza...
"Pichuuuuu-chu... Chu-chuuuuuu... Pichuuuuuuuuuu-chu..."
Os gatos rodearam Eva e fizeram uma espécie de muro que ninguém passava.
- Eles gostam de você... Sabem sempre, quando alguém não é ruim.
- Sim... Eu sei! Eu também sinto quando alguém está com boa intenção... Também sei tudo o que acontece ou aconteceu nos lugares que entro. Às vezes faço trabalhos para a Polícia e ajudo muito nas investigações...
- Você trabalha com a Polícia?
- É...
- E o que você sentiu ao me ver? Sabe o que estou à pensar? O que aconteceu aqui?
- Sim.
Ainda rodeada pelos gatos e muito séria, Eva olhou nos olhos daquele homem, segurou sua mão ao encontro da mão dele e disse:
"Os russos apertam às mãos e sabem a intenção das pessoas... Geralmente ninguém faz a medição dos batimentos cardíacos na artéria que leva oxigênio para o cérebro, pois sempre se dão à apalpar aquela que está cheia de gás carbônico... Assim, eu tenho certeza de todas as intenções e nunca erro. Você não fará nada que eu não tenha ciência e lhe dê absoluta aprovação... Vamos!!! Abra o portão!!! Eu tenho obrigações à fazer e outra hora retorno aqui, ok?!"
Naquele momento o Sol se abriu e em meio cinzentas nuvens, até um arco-íris quis surgir. Tudo estava um tanto forte, mas na sua firme conduta, não havia chances de ser diferente. Os gatos saíram de perto de Eva e através do portão, ela se despediu do Barão do Casarão.