A hipótese de Riemann

Um táxi deixou Ellery Queen na chefatura de polícia, onde o inspetor Highsmith o aguardava.

- Imaginei que gostaria de participar desta investigação - informou o inspetor quando o detetive novaiorquino adentrou a central de operações, cujo espaço era dividido pelas mesas dos investigadores.

- O professor Varujan Rudeanu era da Valáquia, não é? - Indagou Queen, sentando-se numa cadeira vaga ao lado da mesa onde Highsmith se instalara.

- Precisamente - assentiu Highsmith. - Desde a morte de Georgeta Anghelescu em 2012, que imagino que gostaria de pegar os valaquianos em flagrante delito. Talvez essa seja a nossa oportunidade.

Queen olhou para a tela do computador na mesa de Highsmith. Havia ali um perfil aberto de Rudeanu, com uma foto dele, registrada há alguns dias num congresso de matemáticos em Londres.

- Mas, diferentemente de Anghelescu, Rudeanu não era um desertor ou exilado. Estava em Londres a serviço do governo da Valáquia. Por que imagina que iriam querer matá-lo? - Inquiriu.

- Talvez por dar com a língua nos dentes - avaliou o inspetor. - Rudeanu parecia estar perto de solucionar a hipótese de Riemann... e decidiu anunciar isso publicamente, durante o recente congresso internacional de matemáticos. Talvez devesse ter aguardado voltar para casa antes de fazer o pronunciamento...

- Não creio que o governo da Valáquia assassinasse um dos seus cientistas apenas por essa indiscrição - comentou Queen. - Ele certamente não forneceu nenhuma indicação prática sobre a solução do problema.

- De fato, não comprovou. Mas revelou que em poucos dias publicaria um artigo online resumindo sua descoberta.

- A solução para a hipótese de Riemann implica no pagamento de um prêmio em dinheiro, se não me engano?

- Exato. Um prêmio de um milhão de dólares, outorgado pelo Clay Mathematics Institute dos EUA.

- Imagino que já tenham investigado possíveis desafetos ou interessados em anunciar a descoberta antes de Rudeanu... - sugeriu Queen.

- Naturalmente. Rudeanu não parecia ter inimigos dentro da comunidade acadêmica... na verdade, sempre foi tido como uma pessoa cordata e ponderada, até onde conseguimos avaliar. O seu assassinato parece ter pego a todos de surpresa.

- Pelo que você me disse ao telefone, o apartamento dele foi revirado, como se o assassino estivesse procurando alguma coisa.

- Nossa melhor conjetura é que estivessem buscando algum registro da solução da hipótese de Riemann. O celular e o laptop do professor desapareceram.

- Por menos que eu goste do governo da Valáquia, desta vez não creio que tiveram participação neste caso. Simplesmente, não faz sentido - desabafou Queen. - Por que iriam querê-lo morto se a resolução do problema lhes daria projeção internacional?

- Mas não estamos aqui apenas falando de um enigma acadêmico que interessa somente aos matemáticos. A comprovação da hipótese colocaria em sério risco todas as transações efetuadas pela internet, chaves criptográficas complexas poderiam ser facilmente quebradas. Há a perspectiva de um possível desastre financeiro global, em larga escala.

- Ah, então é disso que se trata... - replicou Queen. - Você ainda não tem registros das câmeras de segurança no entorno da residência de Rudeanu, suponho?

- Estamos trabalhando nisso - admitiu Highsmith. - Mas sabemos que se tratava de profissionais... não foi um simples caso de latrocínio, como quiseram fazer parecer.

Queen quedou-se pensativo.

- Espero estar enganado, mas por tudo o que me disse, desconfio que a arma fumegante vai apontar para a embaixada do meu país - declarou finalmente.

- Que interesse o seu governo teria em assassinar um matemático valaquiano em Londres? - Questionou surpreso Highsmith.

- Você mesmo o disse: evitar um possível colapso das finanças globais. E, muito mais importante: ser capaz de quebrar qualquer senha criptográfica, inclusive de sistemas militares. Imagine o poder que um país capaz de fazer isso teria nas mãos...

Perante a expressão desconcertada de Highsmith, prosseguiu:

- Se descobriram alguma coisa no apartamento de Rudeanu, esteja certo de que não virá a público.

E erguendo-se para sair, finalizou:

- Mas, quer saber? Não creio que o professor fosse estúpido de deixar uma informação tão valiosa em sua própria casa... que o outro lado o tenha assassinado crendo nisso, só dá mostras do próprio desespero.

- [16-12-2018]