Os Segredos da Rua Baker 3: 24- Sorrisos

Sean e Diana entram em casa tão cansados como nunca na vida. Apesar de terem passado a noite na casa do Mycroft, eles não viam a hora de chegarem ao seu lar.

-Como você está meu amor? – Ele perguntou se jogando no sofá.

-Exausta. Triste. Preocupada. – Ela soltou um pesado suspiro sentando-se ao lado do marido.

-Se entendi bem a sua mãe foi obrigada a espionar vocês. Estou certo?

-De certa forma. Zoe colocou vários gatilhos na mente da minha mãe a obrigando a não nos contar a respeito do conteúdo de suas conversas.

-Ela não tinha opção sobre contar a vocês, mas tinha sobre não reportar cada passo da Irene para a Zoe, é isso?

-Bem, Irene descobriu um dos gatilhos e não temos certeza a respeito dos outros. No entanto, mamãe vê a Zoe como uma garotinha indefesa que precisa de ajuda. Quanto a Irene, mamãe a acha forte o suficiente para vencer mesmo com todos esses empecilhos. Só tinha receio de ser odiada.

-Você acha que sua irmã está bem?

-Você a conhece faz um tempo. O que você acha?

-Ela não está. Você vai vê-la? Irene deve achar que toda a família teve a mesma atitude do Sherlock. Eu não quero insultá-lo nem nada, afinal é seu pai e estamos falando de um problema com a esposa dele... Argh. Tudo saiu do controle.

-Ow, olha você se preocupando com minha família. – Eles trocam um leve beijo. – Não pense muito a respeito. Meu pai e minha irmã sempre tiveram essas brigas, sabe? Eles odeiam estar errados e adoram apontar os erros dos outros.

-Devia ser um inferninho quando moravam juntos.

-Sim. Mesmo pequena a Irene via umas coisas tão claramente que deixava todos boquiabertos. Meu pai se deleitava, mas quando ela usava isso para apontar o dedo na direção dele. Nossa! Sai de perto.

-E quanto a você e sua mãe?

-Nós nos chamávamos de mediadoras. Eu puxava a Irene e ela o Sherlock. Apesar disso, era lindo observar os dois trabalhando juntos. Era como uma obra de arte. Um jogo feito pelos melhores jogadores. Um falava e o outro rebatia. Um completava a fala do outro.

-Quando vocês eram crianças?

-Meu pai não pegava casos depois de se aposentar, mas uns pequenos, porém intrigantes o fazia não resistir. Contra a vontade da nossa mãe, ele nos levava junto... Vou procurar a Irene em alguns dias.

-Você vai consertá-la.

-Eu vou tentar. Mas ultimamente isso tem sido difícil.

-O que quer dizer?

-Sempre fui capaz de fazer com que minha irmã voltasse a si. Porém... Eu acho que agora o John é único a conseguir.

***

Irene estava sentada em sua mesa reservada no bar que agora é do Daryl. Ela roía uma unha e mexia a perna, pra cima e pra baixo, incontrolavelmente. Uma garrafa, já pela metade, de Jack Daniels na sua frente. Ao vê essa cena um homem decidiu lhe fazer companhia.

-Ei, gata, eu estava te observando.

-Óbvio.

-Você parece ter levado um bolo.

Ela, intrigada, o encarou.

-Que tipo de dedução é essa? Levar um bolo pra onde? Argh. Você está errado de qualquer forma.

-Não. – Ela balançou a cabeça de um lado para o outro. - Eu quis dizer que parece ter levado um pé do namorado.

-Por que eu estaria aqui com a parte do corpo de alguém?

O homem piscou várias vezes se perguntando o que estava acontecendo.

-Por que você está aqui sozinha? Você é tão linda. Claro, podia se vestir melhor, mas gosto do estilo rebelde. – Irene franziu o cenho. – Não tem namorado?

-Não é da sua conta.

-Escuta, gata, nós podíamos ir para um lugar mais tranquilo...

Irene inalou profundamente o aroma que vinha do intruso.

-Dois desodorantes...

-O que?

-Sugere problema crônico com odor. Aliás, você se encontra em um relacionamento de longa data. Um traidor compulsivo.

-Eu só tentei te ajudar aqui. – Ele elevou as duas mãos em sinal de trégua.

-Capa impermeável no celular. – Ela apontou com o queixo para o bolso externo do blazer dele. -Você o leva junto para o banheiro, assim pode responder as mensagens mais tranquilamente.

-Qual é! Você está errada. Eu trabalho com piscinas e...

-Oh, por favor! Você é marceneiro.

-Como você sabe?

-Tem um pouco de pó de madeira na sua manga direita e tem uma serragem presa no seu sapato. – Ela disse tomando um gole de sua bebida.

-Uau! Garota. Você podia fazer muito dinheiro com esse seu dom. Que tal uma sociedade? Nós ficaremos milionários.

-Dinheiro não me interessa. E não é um dom. É apenas observação.

-Pode dizer mais alguma coisa?

-Sua namorada tem um gato preto que você odeia.

Ele começou a rir abismado com o talento da Irene.

-Estou atrapalhando?

-Hey, esse é meu novo amigo... Qual o seu nome?

-Pode adivinhar isso também?

-Não sou adivinha Jack. Eu preciso ter uma séria conversa com esse aqui, então cai fora.

-Esse não é meu nome.

-Mas eu gostei. Tchau Jack.

O homem decidiu entregar um cartão a Irene para que pudesse entrar em contato, no entanto John foi mais rápido. Pegou o cartão e o rasgou. Apesar de ter estranhado o gesto, o cara preferiu sair sem dizer mais nada.

Frente a frente, John pegou um copo e se serviu de um pouco de uísque.

-Novo amigo, hein?

-Larga de merda, inspetor! Explique-se.

-Inspetor?! – Ele ficou espantando em rever a frieza do início. -Você está brava, não é?

-Você também decidiu me trair?

-Eu nunca te trairia. Você sabe disso.

-Qualquer um é capaz de trair, inspetor. – Irene fixou o olhar dentro do copo quase vazio. - Até mesmo minha mãe.

-Ela era o tal informante? Lilian foi obrigada, Irene. Ela nunca...

-Chega! – Bateu com a mão na mesa. -Todos estão escolhendo a Zoe. Você não a escolheu também, não é? – Irene parecia mais falar sozinha do que se dirigir ao inspetor. – Eu não posso... Basta! Não é hora. – Ela levou uma mão a cabeça deixando a outra repousar na mesa.

O caos tomava conta dos pensamentos e emoções da Irene. Mais do que nunca era penoso pra ela tentar entender os próprios sentimentos.

Um toque.

Apenas um toque de mão foi o suficiente para trazê-la de volta a si.

-Você está bem?

Ela o acarava como se o visse pela primeira vez.

-Qual o seu plano? – Perguntou retomando sua compostura.

-Ter a confiança da Zoe. Com isso encontrar algo que a incrimine.

-Não.

-Por que não?

-É perigoso. Zoe é pior do que parece. Eu não vou permitir...

-Não é como se eu precisasse da sua permissão, Irene, mas eu gostaria de um pouco mais de fé em mim. No meu trabalho. Eu entendo; você tem uma promessa a cumprir...

-Não se trata disso...

-Porém, eu quero e vou te ajudar. Só me diga algo específico para eu procurar.

Irene passou as mãos pelos cabelos, irritada.

-Está bem. Vou dizer para a Alex te contatar pessoalmente sobre umas pesquisas que ela tem feito. Precisaríamos de alguém infiltrado para provar, então você vai servir. Também quero relatórios diários, nada de mensagens, você vai me ligar todo dia para me dizer o que está acontecendo. Entendido?

-Sim senhora. Obrigado.

Eles beberam em silêncio por um tempo, até Irene decidir matar certa curiosidade.

-Quão próximos vocês precisam ser nesse seu plano? – John levantou uma sobrancelha interrogativa. – Quero dizer, vocês vão fazer ou já fizeram sexo?

John abriu um sorriso.

-Por quê? Esse pensamento a incomoda?

-Realmente não sei como responder. – Ela passou a mexer no copo. – Porém... S-se – Irene limpou a garganta –,se for necessário para o plano...

-Não fizemos. Ainda estou em recuperação. Passo a maior parte do tempo na casa dela, mas sempre durmo na 221B. Sozinho. Não tenho o menor interesse em transar com a Zoe e prometo nunca fazer isso.

-Ok. – Uma mensagem chegou ao celular dela. – Tenho uma reunião com sócios do Sigerson. Sou obrigada a usar roupas escolhidas por ele. Vestidos horríveis. – Ela levantou e bebeu um último gole. – A gente se vê John. – Disse já saindo.

O sorriso dele se alargou ainda mais ao ouvir o seu nome voltar a ser pronunciado por sua consultora investigativa favorita.

ALANY ROSE
Enviado por ALANY ROSE em 25/11/2018
Código do texto: T6511247
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.