ASSASSINATOS EM SÉRIE.... FINAL.

A morte da primeira dama comoveu a cidade. Mais um dia triste. Mais um velório. Mais revolta. Mais uma dor de cabeça para o delegado. Carmela, 50 anos, era fundadora da creche e do asilo. Um anjo de candura. O delegado mandou o policial Campos a capital. O laboratório de análises desvendaria o que tinha naquele chá. O delegado foi a agência dos Correios. O único funcionário, Gilberto, verificou nos registros se alguém recebera xícaras ou frascos suspeitos. Olhou tudo. Livros do ano passado e atual. Nada. Nenhuma pista. A Tribuna de Miramar circulou com inéditas oito folhas, dedicadas a primeira dama. A agenda da primeira dama foi analisada. Tim tim por tim tim.... Nenhuma pista. Nada de suspeito. Café com as jovens da favela, visita a creche, doação de cestas, vacinação de cães e gatos, almoço com as senhoras do grupo de oração, palestra na escola.... tudo normal. Dona Heleninha, da loja de artesanatos, liderou uma passeata por justiça. A praça ficou tomada de manifestantes. Pediam a saída do delegado. Pediam a contratação de mais policiais. O guarda Campos retornou, enfim. Envelope lacrado. O delegado abriu. Altas níveis de veneno no chá. O assassino usou veneno!!! O prefeito ficou horrorizado. A notícia se espalhou. A cidade se alarmou. Duas semanas tranquilas. O prefeito contratou mais seis policiais. Amália, filha de dona Julieta, dona da peixaria Lambari Dourado, encontrou a mãe morta. O delegado foi chamado. Amarrada e amordaçada, dona Julieta era mais uma vítima do serial killer. Uma senhora boa. Gente do bem. Mais um dia triste. A polícia técnica da capital não achou digitais na xícara de porcelana inglesa nem no resto da casa. Nada roubado. Nenhum inimigo. Nenhum suspeito. A vítima era do grupo de oração. Uma voluntária das causas sociais. Um anjo na terra. O delegado foi afastado do cargo. Dr. Praxedes Oliveira assumiu o cargo. Três semanas depois, Bibico foi encontrado morto na praça. O bebum bateu as botas. O delegado deu de ombros. O policial Campos pegou a garrafa de pinga e mandou pra análise. Tinha veneno. Bibico fora vítima do serial killer. -" Ele agora mata homens???" Reagiu o novo delegado. -" Dessa vez não teve xícara. Foi na garrafa mesmo!!!" Disse o guarda Campos. Investigação e entrevistas sem êxito, sem pistas, sem suspeitos.... O delegado pediu a contratação de dez novos policiais. A praça e a avenida da orla da praia ganharam câmeras de vigilância dia e noite. O prefeito recebeu duas viaturas novas do governo do estado. Um mês. Um ano sem mortes. O caso foi arquivado. Sem solução!!! Dona Heleninha recebeu as duas filhas e os quatro netos para o almoço de Natal. Fizera peixe assado no leite de côco, prato que não fazia há uma década quando a mãe se foi. Comprou Chester e frutas pra ceia. Há dez anos não montava a árvore de natal nem colocava pisca pisca na casa. Perdeu a graça, dizia. O que acontecera pra ela mudar??!!! Comprara um pinheiro e dez jogos de luzes natalinas. O esposo Brandão estava eufórico com a alegria de Heleninha. Até rabanadas ela preparou. A família foi ao quintal ver a queima de fogos da praia. Meia noite. Na tevê o show da virada. Heleninha foi ao banheiro. Lavou o rosto e se olhou no espelho. -" Feliz Natal, Maria Mercedes!!! Amiga!!! Há dez anos te emprestei o meu tesouro. Insistiu e emprestei mas você não devolveu. Cobrei tanto. Minha mãe se foi. Ela me ensinou os pontos em cruz. Meu tesouro foi minha primeira criação! Você a deu pra Carmela!! Aquela sonsa. Procurei, procurei. Nada de rever meu tesouro. Ela morreu após dizer que deu meu tesouro pra Julieta. Ficou anos com ela!!! Meu tesouro enrolando peixes!!!! Aquele veneno daquele índio de Ubatuba me serviu bem. Feliz Natal, Bibico. Me reconheceu ao sair da casa da peixeira! Pau d'água... Infeliz!!!!!" O marido dela a chamou. -"Heleninha, vamos abrir os presentes!!!!" Ela saiu do banheiro. -" Já vou, paixão!!! Ela foi ao quarto. O oratório com as imagens de Nossa Senhora Aparecida e Santo Antônio. Heleninha acariciou a toalhinha bege, bordada em ponto cruz, sob as imagens. -" Meu tesouro. Minha toalhinha!!! Finalmente retornou ao seu lugar!!!" FIM.