Os Segredos da Rua Baker 3: 23- A raiva cega
Diana trabalhava no laboratório enquanto esperava o marido para irem juntos pra casa quando o telefone tocou. Ela congelou ao ouvir as palavras da irmã deixando cair alguns materiais.
-Você deve estar enganada, Irene. Por que a nossa mãe faria isso?
-Todo aquele interesse dela na nossa vida. Fazendo o John ligar todos os dias para falar de mim. Todo esse tempo... Como eu sou burra! Eu estava cega pelo... Isso não vai acontecer de novo.
-Irene não é tão simples assim. Não pode ser. Zoe deve estar a ameaçando de alguma forma. Irene? IRENE! Oh merda, merda, merda! – Ela pega rapidamente sua bolsa, casaco e sai correndo, passa por Sean no corredor. – Apenas me siga.
Mesmo sem entender nada o soldado apenas obedece. Os dois entram no carro e Diana sai em disparada. Chegando a casa do Mycroft, eles enxergam Irene descendo do táxi.
-Irene! – Diana a alcança já entrado na sala. – Acalme-se, por favor!
-LILIAN! Onde diabos você está?
Em um pequeno recinto, Mycroft, Sherlock e Lilian tomavam um chá sem ter noção dos últimos acontecimentos até as irmãs Holmes entrarem.
-Pense um pouco e se acalme!
-Você não quer respostas?
-É claro que sim. Mas não assim. Deixe pra depois. Você está bêbada, drogada, nada de bom sairá disso.
-O que está acontecendo? – Sherlock perguntou.
-Onde você estava quando tive uma pequena discussão com o Mycroft e o Sherlock? – Irene se direcionou a mãe fingindo não ter mais ninguém perto.
-Ela estava lá em cima.
-Eu não te perguntei nada, Sherlock. Fique fora disso.
-Não fale assim com o seu pai.
-Lilian, não me faça perder o resto de paciência que tenho. ONDE VOCÊ ESTAVA?
Mycroft estava quase boquiaberto, ele nunca havia visto a sobrinha tão descontrolada. Sherlock pôs-se de pé imediatamente, enquanto Lilian lutava com seus demônios internos. Era como se uma força invisível a impedisse de dizer toda a verdade, então ela só falou:
-No corredor perto da escada. Eu havia descido para beber um copo d’água e ao retornar ouvi a briga.
Irene moveu o tronco pra frente para encarar a mãe mais de perto.
-Você contou sobre isso para alguém?
-E-eu não me lembro. – Ela evitava os olhos de todos. – F-fiz algo de errado? Sinto muito minha filha. -Ela tenta tomar a mão da Irene que a afasta bruscamente. – Tenho alguns lapsos de memórias, às vezes.
Irene pede para todos saírem, mas Diana os impede explicando não ser sentado fazer exatamente o que a irmã quer. Pelo menos, não nesse exato momento.
Lilian observava a filha, andando devagar, como se estivesse esperando por sua sentença. Irene diminuiu a luz e sentou na frente da mãe.
-Não se atreva a desviar o olhar, Lilian. – Ela sussurra pra mãe. -Os lírios estão frescos?
Lilian a fita com horror.
-O que faz aqui?
-Eu vim pra brincar. O que mais? Conte-me tudo.
Ela levantou indo perto da parede. Irene a seguiu.
-Depois da briga não houve mais nada. Se continuar assim Irene vai desconfiar e vai me odiar. Zoe, você tem de ser mais discreta.
Uma lágrima escorria pelo rosto da Diana, Sean segurava a mão da esposa, Sherlock e Mycroft estavam surpresos e Irene tremia de tanto ódio.
-Você me ama mais, não é? Você esteve do meu lado minha vida inteira. Obrigada por entregar os planos da sua filha pra mim.
-Não é assim e você sabe, Zoe. Esses seus jogos mentais... Não é como se eu tivesse uma escolha. No entanto, vê seu sorriso é sempre tão bom. – Ela toca no rosto da Irene. – Sei o quanto já sofreu... Faria qualquer coisa para você ficar bem.
Nesse instante a ira da Irene subiu a níveis improváveis. Ela pegou a mãe pelos braços a sacudindo.
-Como você pôde? Não é como se eu estivesse fazendo algo errado. Ela quem me persegue. Ela está com o John e você a escolhe? Se algo acontecer com ele, você vai pagar. A culpa será sua!
Irene acaba empurrando a mãe que bate as costas na parede. Esse repentino gesto a faz “acordar”.
-I-Irene? Você... O que?
Entretanto Irene não enxergava mais nada na sua frente. Ela caiu por cima da mãe e quando foi lhe acertar um soco, Sherlock interveio. Ele puxou a filha com tanta força que ela quase cai do outro lado da sala.
-Não consegue enxergar que ela foi usada? Você me decepciona cada dia mais.
Sean ajudou a cunhada a se pôr de pé antes de abraçar Diana que tremia sem parar. Ela afundou o rosto no peito do marido. Sherlock ajudou Lilian a levantar. Os dois sentaram no sofá.
-Eu sei.
As palavras da Irene ficaram soltas no ar. Não se podia afirmar sobre qual frase do pai ela se referia. Sherlock a fitou por uma última vez.
-Nunca mais chegue perto da minha esposa.
Irene parou perto da porta.
-Não precisa se preocupar com isso. Eu não vou.
Mycroft não tinha aberto a boca ou se movido durante todo o evento. As ações da sobrinha demonstrava que ela sucumbia a pressão. Irene estava fora de controle. Seria capaz de colocar todo o seu plano a perder se saísse dali naquele instante sozinha e tão brava. Ele a seguiu até a entrada da casa.
-Irene!
-Deixe-me em paz, Mycroft.
-Eu avisei várias vezes. Não se apegue. Veja todos os seus erros...
-É, –ela se voltou para o tio -, veja você os erros que cometeu junto do seu irmão para me proteger. Por ter se apegado a mim. Não me venha com sermão idiota, Mycroft. Eu não estou no clima.
-O melhor é você ir lá pra cima. Descanse, Irene. Amanhã pensaremos nos próximos passos.
-Ficar nessa casa? Com todos vocês? Lilian me traiu, Mycroft. Sherlock está do lado dela. Isso era de se esperar, eu acho. Diana está tão desesperada que nem sabe como agir. Você acha que eu estava brincando antes? Pra mim chega! Esse lugar não é pra mim. – Ela baixou a cabeça respirando fundo tentando esconder sua trêmula voz. - Essa família não é pra mim. Vou terminar o meu trabalho com a Zoe e o Sigerson, depois disso minha dívida estará paga. Não terei mais ligação com ninguém.
Mycroft ainda tentou chamar pela sobrinha por mais duas ou três vezes, mas não adiantava. Ele entrou, Diana tomava um chá que o Sean havia preparado, enquanto Lilian ainda agarrada no braço do marido apenas repetia as mesmas palavras:
-Irene é esperta e vai conseguir lidar bem com os problemas. Eu sinto muito! Eu sinto muito!
Sherlock conversou com o irmão sobre contratar alguém para tirar esse vínculo da Lilian com a Zoe. Era óbvio que a garota tinha feito algo com a mente da esposa de Sherlock Holmes, afinal ela era uma cria do Sigerson que sempre foi um especialista nesse assunto.
***
Alex estava no meio de um encontro em um restaurante muito bem conceituado. Durante uma adorável conversa sobre arte, ela recebeu uma mensagem da prima. Como uma pessoa educada, ela pediu licença a sua companhia, pois era um assunto importante.
Hora do ato final.
Tem certeza? Não é muito cedo?
Vamos colocar a parte um em andamento, depois pensamos na real finalização.
Entendido.
-Desculpe, era algo urgente do trabalho. - Disse Alex. - Onde nós paramos?
***
Zoe pedia explicações sobre Sigerson ter voltado todo o apoio dele para Irene. Transtornada, ela gritava o relembrando de ter prometido ficar fora da relação entre as duas. Contanto que não matasse Irene, Zoe tinha permissão para brincar como bem entendesse.
Sirgerson começava a perder a paciência, ele não era um homem de se explicar. No entanto, não teve a chance de expressar seu desapontamento, pois Irene entrou parecendo um furacão.
-Sigerson... – Irene parou inopinadamente ao vê a Zoe. – Não havia percebido que estava ocupado.
-Não estou. Zoe já falou bobagens o suficiente. Do que se trata sobrinha?
-Os seus negócios. Quero retomar seus ensinamentos para eu ser a única – ela olhava para Zoe – a tomar conta deles.
-A linha de negócios do Sigerson é bem vasta. Você acha mesmo que vai conseguir liderar todos sem problemas? – Zoe falou com desdém.
-Sim, afinal se uma pessoa como você conseguia, então qualquer um consegue. Brincadeira de criança.
-Já estava de saída. – Ela falou entre os dentes cerrados.
-Os lírios frescos irão apodrecer cada dia mais.
Zoe pausou sua caminhada e voltou com um sorriso.
-Eu me perguntava quando iria descobrir. Mas, não vai ser bem assim. Essa foi só a primeira chave. E além do mais, Lilian me adora. Ela nunca ficará cem por cento do seu lado.
-Mycroft irá se encarregar de descobrir as outras. Agora não ouse mais chegar perto da minha... Da Lilian.
-Não preciso mais dela de qualquer forma. Eu já tenho o John.
Sem nem pensar duas vezes, Irene a agarrou pela camisa a jogando na parede.
-Ouse brincar com o John. Não irá gostar do que irá lhe acontecer.
-Oh, tão bruta.
-Solte-a Irene.
John acabara de entrar no recinto, ele andava com uma bengala e tinha ainda alguns hematomas. Irene soltou Zoe sem parar de encará-lo. A atual inimiga da Irene vai até o inspetor que a puxa pela cintura e os dois se beijam.
-Mas que merda é essa?! – Sua voz não passava de um sussurro zangado.
Os dois saíram abraçados, diferente de John que não ousou se virar, Zoe deu uma piscadela para Irene antes de sumir no final de um corredor.