Os Segredos da Rua Baker 3: 21- Hora de voltar ao trabalho
Sean sempre achou a família Holmes muito intrigante, mas nunca se imaginou em uma reunião de família para começar uma “guerra” com outro membro da mesma família. Todos tinham seus limites, porém, aparentemente, os Holmes não tinham nenhum.
Diana começava a ficar impaciente com a demora da irmã para aparecer. Ao contrário dela, Sherlock e Mycroft estavam imersos em alguma conversa sobre um dos livros que o consultor investigativo mais famoso do mundo estava terminando de escrever.
-Por que diabos ela ‘tá’ demorando tanto? –Diana explodiu chamando a atenção do tio e do pai. – Onde ela pode estar?
-Onde mais? Em algum bar. – Mycroft falou calmamente.
-Ela concordou não ser o momento para distrações. – Sherlock comentou.
-Ela pode concordar, mas não significa que se distanciará. Se você é melhor que sua filha em alguma coisa, irmãozinho; é em controlar o seu vício. Irene já passou meses sem usar nada, porém sempre retornou a sua autodestruição com a desculpa de ser melhor para os pensamentos ou apenas por tédio. Na verdade, só a vi não usar drogas no período em que esteve trabalhando com aquele inspetor.
-Eles tinham um acordo – começou Diana -, Irene só usaria quando não estivesse trabalhando. Ela estava sempre trabalhando. Enfim, eu vou ligar pra ela. – Após chamar várias vezes, uma voz meio rouca e pastosa surge. - Irene?
-O que?
-Onde você está? Estamos te esperando.
-Oh! Já ‘tá’ todo mundo aí?
-Alex ainda não chegou.
-Então qual o motivo de me atrapalhar, Diana? Estou ocupada em um caso.
-Não, você não está!
-Sim, eu estou. Pego alguns para me distrair. Ficar tão focado no problema da nossa família acaba me fazendo perder detalhes importantes. Estarei aí em breve. Mande mensagem caso a Alex chegue primeiro.
Antes que Diana pudesse protestar, Irene já havia desligado. Mycroft estava certo, pois ela estava em um bar. No Pub que o Sr. Levils gerenciava. Ela dormia em um banco com a cabeça encostada no balcão quando a irmã ligou.
-Merda! – Ela disse jogando o celular no balcão. – Passei a noite toda aqui? Porra! Bom, hora de trabalhar.
Irene foi até o banheiro jogar uma água no rosto. Ela não demorou muito a entrar na sala da casa do Mycroft onde todos a esperavam. Irene estava claramente drogada, mas não se importava que percebessem. Mycroft e Sherlock em um gesto igualmente irritado levaram a mão à testa sem acreditar na cena que viam.
-Mas que P... Por que você está assim?
-Você pintou o cabelo? Desde quando?
-Sim, Irene, eu estou loira. E você não deveria aparecer aqui nesse estado.
-Ficou horrível, querida irmã. O que ele faz aqui?
-Ele é o meu marido, Irene. Sean faz parte da família.
-Se você diz. -Irene andava de um lado para o outro totalmente eufórica. – Onde está a mamãe?
-Lá em cima. – Respondeu Sherlock em um tom seco.
-Melhor assim, eu acho. Vamos começar. Ideias para tirar o John das mãos daquela vadia? – Todos se olharam um tanto surpresos pela pergunta, afinal Irene nunca foi de pedir ajuda para algum plano. – Vamos lá gente. Holmes... E Sean contra Holmes... E Zoe.
-Sigerson. – Respondeu Mycroft.
-Exato tio querido. Sabia que ia amar!
-Já detesto.
Irene sorriu. Esse pequeno momento de interação e cumplicidade de tio e sobrinha fez Sherlock visivelmente incomodado. Ele detestava essa proximidade dos dois e a cada vez que uma situação assim se repetia mais odiava o Sigerson.
Enquanto isso, Lilian acordava de um estranho sonho. Ela via suas filhas crianças correndo pelo quintal de sua casa brincando, em seguida o cenário mudava drasticamente para o local de seu cativeiro. Uma criança estava sempre ao seu lado, mas a garotinha ia se transformando em uma mulher e depois em um monstro que a obrigava a atacar suas próprias filhas. Lilian estava suada e ofegante, então decidiu levantar para tomar um pouco de água.
Na sala a discussão continuava, Alex explicava como não conseguiam nenhum acesso ao quarto do John. Os homens da Zoe eram muito fieis. Ninguém se vendia por dinheiro nenhum e nem tinham medo de qualquer ameaça.
-É como se tivessem sofrido algum tipo de lavagem cerebral. – Alex concluiu.
-Certa vez – Diana tomou a palavra -, Zoe me contou sobre já ter sonhado ser psiquiatra. Porém, não conseguiu uma bolsa para medicina e como gostava de ciências...
-As melhores mentiras são baseadas em verdades. – Irene interrompeu.
-E quanto aos membros da Cúpula? Vocês deveriam usar a influência dessa organização.
-Oh Sherlock querido, você realmente acha que não tentamos? Alex?
-Os membros preferem não se meter em toda essa história. Zoe sempre foi protegida do Sigerson que tem muito poder dentro da Cúpula. Mesmo a Irene sendo a Mestre, ele ainda acaba tendo muitos aliados que nunca se interporão.
Sean levantou a mão como se fosse um estudante confuso.
-Não devia ser a Mestra? Isso sempre me incomodou.
-Oh meu Deus! – Irene levou as mãos à face.
-Mestre é o nome do cargo símbolo do mais alto poder dentro da Cúpula dos Nobres. Cada um tem um nome específico. Nesse caso, apenas mostra aos menores que devem obediência a essa pessoa, sem contestações. E não importa o sexo.
-Agora que foi esclarecida essa dúvida tão importante do soldado vamos voltar ao nosso pequeno problema.
-Tem de convencer o Sigerson a deixar seus aliados se intrometerem na situação das duas. Pendendo para o lado da Irene, é claro.
-Eu concordo pai, mas como a Irene vai fazer isso?
Mycroft fitou a sobrinha com uma ideia terrível e Irene parece ter pensado o mesmo. Ela sorriu histericamente. A constante troca de olhares fez Sean perceber que o clima ficaria cada vez mais tenso e o quanto ele não queria participar disso, então se despediu da esposa e pegou uma carona com a Alex que parecia ter uma reunião urgente no palácio de Buckingham.
-Você não vai fazer o que estou pensando! – Sherlock falou rispidamente seguindo Irene que já se encaminhava para a saída apenas parando perto da escada para pegar sua jaqueta.
-Você não sabe o que estou pensando.
-Vai me fazer falar em voz alta?
Irene olha rapidamente para Diana. Mycroft e ela os acompanharam na tentativa de evitar algum tipo de confronto. Afinal, Sherlock e Irene eram teimosos como uma mula empacada e nenhum dos dois gostava de admitir algum erro.
-Por que você sempre faz isso, Sherlock? Sempre tentando assumir o controle das minhas decisões como se eu fosse apenas uma garotinha estúpida que nunca faz nada direito. Por que você me subestima tanto?
-Só estou tentando te ajudar. Você está fora de controle.
-Como se você nunca tivesse trabalhado nesse mesmo estado. Não me venha com essa, Sherlock. Ou vou pensar que o estúpido aqui é você!
-Por que tem tanta raiva de mim? Pergunto-me se é mesmo minha filha, afinal você é tão... Você devia agir mais como a Diana.
-Pai! – Diana exclamou.
Irene, de uma forma quase involuntária, deu alguns passos para trás.
-Não seria uma ofensa para Lilian, pois essa família tem tantos mistérios. Talvez esse seja mais um. Eu concordo Sherlock. Não sou sua filha e sim do Mycroft. Sabe como eu sei disso? Porque consigo vê claramente o erro que você cometeu anos atrás. Fazendo sua filha crescer sem os pais e sua esposa viver em cativeiro.
-Sua raiva é por Diana! Você acha que eu deveria ter levado as duas e apenas lhe deixado.
-E quanto a você crescer sem os seus pais, Irene? – Perguntou Diana.
-Posso tentar negar, mas tudo isso é minha culpa. Teria sido o mais racional a se fazer. Teria menos danos. Diana ficaria melhor sem mim. E, além do mais, Mycroft sempre foi o suficiente pra mim. Ele é meu pai.
-Sherlock apenas seguia minhas instruções. – Disse Mycroft.
-Como assim?
-Realmente acha que Sigerson teria deixado Diana viver em paz? Ele daria um jeito de sequestra-la para cria-la te odiando. Sherlock nunca foi inteiramente capaz de enfrentar Sigerson, mas ele nunca ousaria invadir meu território. Pelo menos, não se um acordo fosse feito.
-Quantas mais mentiras vocês escondem aqui? Diana, você sabia disso também? – Ela lentamente balançou a cabeça negativamente. – Quer saber? Eu não posso lidar com esse drama agora. Mais um trabalho. Só mais um trabalho e minha dívida com essa família estará paga.
Irene saiu e Diana foi junto. As irmãs se entreolharam em um tipo de conversa silenciosa até entrarem no carro de Diana que dirigiu rumo à casa do Sigerson.
Diana não tinha ideia qual era o plano da irmã, mas tinha certeza de que era algo extremo. Tanto pela discussão na casa do Mycroft quanto pelo uso de drogas.
-Você pode parar naquele café por um instante?
-Claro... Você precisa de outra dose, não é?
Irene não respondeu, mas nem precisava.
Diana a observou conversando rapidamente com a dona do estabelecimento e depois seguindo até o banheiro. Irene retornou, após alguns minutos, empolgada e falante. Ao chegarem e antes de saírem do carro, Irene pediu a arma da irmã. Diana sempre andava com uma.
Elas encontraram Sigerson perto da lareira. Diana foi a primeira a falar para a surpresa do tio que não era acostumado e nem tinha interesse na presença dela. Irene observava Diana explicando sobre a Cúpula, a Zoe e o John. Ela sempre achou muito divertido vê a irmã tomando a liderança pra si. Obviamente Sigerson não demonstrava nenhum interesse no assunto e logo afirmou não se intrometer nas brigas da Irene com a Zoe.
-Desculpe. Eu pensei que pudesse ajudar um pouco mais.
-Não se preocupe irmãzinha. Eu tenho tudo sob controle. Sigerson, tudo que preciso é que você mostre aos seus aliados da Cúpula dos Nobres que está apoiando a mim e não a Zoe.
-Como disse para a sua irmã: isso nunca vai acontecer.
-Se não fizer isso. Eu perco o John... E você perde a mim.
Ele a encarou com curiosidade. Irene tirou devagar a arma da parte de trás da calça e colocou na própria cabeça.
-Você não ousaria.
-Dez...