Frutos do mar
A lancha da Polícia Marítima portuguesa, com dois agentes à bordo, fez uma volta graciosa e embicou em direção às três embarcações suspeitas. Duas afastaram-se imediatamente em direções opostas, seguindo paralelas à costa; a terceira, um pequeno pesqueiro com motor de popa, prosseguiu no rumo anterior, rumo à praia.
- Suspeito indo em sua direção - avisou pelo rádio o agente Raposo, enquanto o agente Menezes acelerava no encalço do fugitivo.
Antes que o alcançassem, o pesqueiro cortou a arrebentação e um homem de camisa xadrez e bermudas pulou na água, com três recipientes que lembravam armadilhas para lagostas. Imediatamente, o pesqueiro virou à direita e partiu à toda velocidade. Menezes ia seguir em perseguição do barco, mas Raposo tocou no seu braço.
- Deixe que se vá, temos que pegar o sujeito!
O fugitivo e suas gaiolas já havia chegado à praia deserta, e partira em desabalada carreira.
- Temos um pescador com três gaiolas indo em direção à rodovia! Deve haver alguém esperando por ele! - Alertou Raposo pelo rádio.
- Estamos a chegar - foi a resposta lacônica.
A lancha embicou na areia da praia e Raposo saiu correndo, arma em punho. O fugitivo levava uma vantagem de mais de 200 metros em relação a ele e já estava no alto das dunas. O tipo corria bem!
- Polícia! Parado! - Ouviu alguém gritar lá de cima: os reforços haviam chegado. O pescador fez menção de voltar, mas ao ver Raposo com a arma apontada para ele, deixou cair os recipientes e levantou os braços, devagar. Em breve, estava cercado por quatro agentes em uniformes azul-marinho.
- Viram alguém à espera dele? - Indagou, ao chegar ao topo das dunas.
- Uma Mercedes-Benz... arrancou, quando nos aproximamos, mas o Aguiar partiu em perseguição - explicou um dos policiais recém-chegados.
Enquanto o pescador era revistado, Raposo acocorou-se junto às caixas de plástico. Abriu um sorriso.
- Ei! Estão vivos ainda!
O agente Tavares agachou-se junto dele.
- Que criaturas mais feias! Isso se come?
- Come-se - assegurou Raposo. - Os asiáticos pagam um bom dinheiro por esses bichos...
Sopesou os recipientes e fez uma conta mental rápida.
- Isso aqui deve valer uns três mil euros!
Lançou um olhar de ironia para o pescador que estava sendo algemado, e completou:
- Valem mais vivos?
O interpelado nada disse.
Raposo pegou as caixas e começou a fazer o caminho de volta. Na praia, descalçou as botinas, enrolou as pernas da calça e, recipientes nas mãos, caminhou até próximo da arrebentação. Ali, abriu os recipientes e espalhou seu conteúdo de volta água: algumas dúzias de pepinos-do-mar verde-oliva, medindo cerca de 20 centímetros cada. Os animais foram engolidos pelas ondas e desapareceram de vista.
Caminhou então para o ponto onde Menezes o aguardava, sentado na lancha.
- Para onde, agora? - Indagou o agente, ajeitando os óculos de sol no rosto.
- De volta à patrulha - comandou Raposo.
E ato contínuo, ajudou o colega a empurrar a lancha de volta a água.
- [26-08-2018]