Os Segredos da Rua Baker 3: 13- Hospital

Diana estava sentada perto da janela da sua casa olhando a rua quando Sean apareceu vestindo um casaco. Ele detestava ter de deixa-la sozinha em casa, não era um bom momento para isso.

-Eu preciso ir pegar uns documentos na universidade.

-Ok. – Ela não tirava os olhos da rua.

-Quando voltar, nós podemos ir visitar sua irmã no hospital ou você poderia vir comigo e da universidade vamos direto pra lá.

-Obrigada, amor. – Ela mostrou um sorriso carinhoso. – Mas não irei ao hospital.

-Não quer ir vê a Irene?

-John me contou que ela está bem. Estável. Ainda desacordada, mas reagindo ao tratamento.

-Diana, – ele se aproximou e segurou a mão dela entre as suas -, você sabe que não era a Irene de verdade naquele dia. Ela estava fora de si. Se eu posso ter certeza de algo em relação a minha cunhada é que ela nunca te machucaria. Aliás, nós a vimos lutando bravamente para não fazer isso.

-Uau! Você defendendo a Irene.

-Isso me surpreendeu também.

-Não se preocupe amor, eu estou apenas cansada. – Diana levanta dá um suave beijo no marido e vai para o quarto. - Vou deitar um pouco.

Lilian cumpria o prometido a filha, ela não pôs os pés em Londres, porém John teria de informa-la de tudo. E ele executava essa tarefa com perfeição. O inspetor ia ao hospital todos os dias, essa foi uma das razões para Lilian fazer esse pedido a ele e não ao Sherlock. O pai das já famosas garotas Holmes também tinha suas preocupações, entretanto estava mais concentrado em manter o Sigerson longe do hospital.

John estava sentado no sofá mexendo no notebook quando alguém bate. Ele pausa uma suave música que havia colocado e convida a pessoa a entrar.

-Jess!

-Hey, John. – Ele coloca o notebook de lado e levanta. – Como ela está?

-Respondendo ao tratamento, mas sem ideia de quando vai acordar. Os médicos falaram que já era para ter acordado. – Ele se aproxima para lhe dá um beijo, mas ela se afasta. – Desculpe Jess, eu devia ter ligado. Tudo tem sido uma confusão.

-Você tem ficado na 221B?

-A maior parte do tempo, eu fico aqui.

-Eu vim apenas para lhe devolver isso. – Ela entrega o anel de noivado. Miller prefere evitar encarar os olhos do John nessa hora, pois teme acabar enxergando algum traço de alívio.

-Por que... ?

-Pensei muito a respeito das palavras da Diana. Eu percebi que estou completamente apaixonada por você e por isso não queria vê o óbvio. Ela estava certa. Como poderia começar uma vida ao lado de alguém que prefere estar do lado de outra?

-Jess... A Irene... Nós...

-Eu sei que não tem nada romântico rolando entre vocês. John, não vim aqui para brigar, reclamar ou chorar. Pensei muito e com seu sumiço nos últimos dias tive a certeza de ter tomado a decisão certa. – Ela lhe dá um beijo no rosto, então olha para a Irene. – Devia tentar se libertar John, ou irá perder toda a sua vida ligado a algo que nunca vai rolar.

-Não é desse jeito, Jess.

-Tchau, John. Eu te vejo no trabalho e fiquei tranquilo, não irei misturar as coisas.

-Não estava preocupado.

Sean aparece pouco depois, ele vê John sentado no sofá com o notebook nas pernas, um ar pensativo e um anel de noivado na mão. Ele percebe o que acabou de acontecer; o que todos já esperavam que acontecesse.

-Tudo bem?

-Hã? Oh, sim, a Irene está...

-Não. – Ele aponta para o anel. – Eu a vi saindo quando entrei.

-É, ela pensa que não estou apaixonado.

-Você está?

-É claro.

-Sem julgamentos aqui, cara. Você pode estar apaixonado, mas e quanto a amor? – John o encara parecendo confuso. – Aprendi a diferença ao conhecer a Diana. Eu tive uma noiva nos Estados Unidos e era louco por ela. Completamente apaixonado, mas terminamos, vim pra cá e no primeiro segundo que olhei para Diana, eu soube.

-Que ela é a mulher da sua vida.

-Eu sei. Você pode rir se quiser meu camarada. Pode ser cliché ou piegas. Porém, essa é a verdade. Eu faria qualquer coisa para ela ser feliz; para protegê-la.

John olha para a Irene se lembrando de tudo que já fez por ela. Chegou até a arriscar a própria carreira ao se envolver em tantos planos ilícitos feitos na tentativa de se livrar do Morse e depois do Sigerson, antes de saber a real identidade do mesmo.

-Como está Diana?

-Ela está deprimida, mas não se abre comigo. Por mais que a Irene aprontasse e a afastasse, Diana sempre quis vê se a irmã estava bem. Ela precisava colocar os olhos nela para ter certeza. Dessa vez é diferente.

-Não se preocupe tanto. Essas duas vão se acertar.

Sherlock adentrou na sala da casa do Mycroft onde Alex já se encontrava sentada no sofá. Ela o convidou a fazer o mesmo. A espera não foi longa, logo Mycroft apareceu.

Sentando-se na poltrona em frente ao irmão e a filha, ele ofereceu uma bebida negada por ambos. Sherlock não queria perder mais tempo e Alex tinha mais o que fazer.

-Muito bem, – disse Mycroft -, qual a razão dessa reunião de última hora, querido irmão?

-A única razão possível, querido pai, falar da Irene. Não é tio?

-Óbvio, Alex, esse é o motivo. Ela irá acordar em breve e recomeçará seu jogo. Quero ter certeza de que vencerá sem mais danos.

-E o que pretende fazer para impedir tais danos? – Perguntou Mycroft.

-Garantir que ela não terá com quem se preocupar. Qual a sua relação com o Sigerson, Alex? Ele pode usá-la contra a Irene?

-Usar a mim? Não creio que ela se importa tanto comigo.

-Pelo contrário, – iniciou Mycroft -, ela se importa com a família e com suas promessas. Você é da família.

-Nesse caso, ela pode ficar tranquila. Sou agora a substituta da Irene na Cúpula dos Nobres e tenho vários outros negócios sigilosos em que o Sigerson está pessoal ou parcialmente envolvido. Ele não ousaria tocar em mim por um simples capricho ou estaria arruinado.

-Bom saber! – Exclamou Sherlock – Lilian e John Watson estão protegidos ao meu lado. E quanto a você, Mycroft?

-Ele prefere me atingir através da Irene. Nunca fará nada diretamente a mim. Diana?

-Ela está sendo vigiada dia e noite. – Comentou Alex. – Meus agentes não agiram naquela fatídica tarde por não imaginarem que Irene representasse perigo a irmã. Susan e os filhos do Bernard, que configuram as promessas da Irene, também estão sob constante vigilância, não só dos meus homens como também dos ajudantes da Irene. Sendo assim, ela está livre para agir como achar melhor sem preocupações.

-Só um minuto, Alex. – Mycroft a interrompeu. – Não colocaram aquele inspetor sob vigilância? Ele é mais importante do que ela prefere admitir.

-Desculpe. Eu não sabia que ele também era uma prioridade.

-Ele é. – Sherlock afirmou imediatamente.

-Considere feito. - Disse Alex após digitar algo no celular.

Irene abriu os olhos lentamente se sentindo nauseada, ao olhar ao redor ela se viu em um lugar escuro com cinzas caindo por todo lado. Ela sentou na cama e percebendo que ali era seu quarto na 221B. Achava estranho, pois não se lembrava de como foi parar na sua cama, mas era fato de que não se recordava muito daquele dia.

Ela se levantou e ao tocar na maçaneta da porta já notou estar no corredor do segundo andar da casa do Mycroft. Tudo era igual e ao mesmo tempo diferente. O corredor se esticava quase infinitamente e tinha várias portas de ambos os lados. Algumas estavam escancaradas, outras apenas com as portas fechadas, mas muitas estavam trancadas.

Irene andava devagar tentando decidir se aquilo era real, um sonho ou outra alucinação. Ela se aproximou de um dos quartos com a porta aberta e sorriu ao vê o dia em que entrou no laboratório da Diana após anos sem se verem. Nunca esqueceria a cara de surpresa da irmã.

Ela se afastou indo abrir uma das outras portas: ela ainda adolescente sentada à mesa junto ao Mycroft e Diana.

-O dia que eu saí da reabilitação e eles me contaram que Diana havia se mudado.

A maçaneta parecia queimar sua mão, então Irene decidiu fechar novamente a porta. Ela caminhou mais um pouco, tentou abrir outra, mas estava trancada. Colocando-se quase nas pontas dos pés passou a espiar, através de uma pequena vidraça, o que havia dentro daquele recinto.

Ali tinha uma cena diferente das outras, a consultora investigava não passava de uma criança de cinco anos. Sigerson estava ajoelhado na sua frente lhe entregando algumas pílulas.

“São balinhas com uma sensação mais profunda. Você irá gostar meu amor! Confie no seu tio favorito”

Mais uma vez sentiu a mão queimar com o contato com a maçaneta. Ela deu alguns passos para trás quase em choque. Passou a correr na tentativa de sair dali, no entanto nunca encontrou o fim daquele lugar. Sua corrida pareceu durar horas e horas, então decidiu tentar outra porta.

-Trancada! O que vou encontrar agora?

Ao espiar pela vidraça, ela se observou ser colocada na cama da casa do Sigerson. Os homens saíram em seguida os deixando a sós. Ele sentou na cama ao lado dela que mal conseguia manter os olhos abertos. Sigerson passou mão pelo seu braço subindo até o rosto, então começou a acariciar seus lábios com o dedão. Uma Irene completamente dopada tentou afastar a mão dele, mas Sigerson a segura colocando o braço dela de volto ao lado do corpo e voltou a tocar seu rosto.

-Xi! Calma meu amor. Tomarei conta de você. Logo se sentirá bem.

Ele a beijou na testa e depois nos lábios, a mão dele moveu-se vagarosamente para baixo. Tocando o rosto, depois o pescoço... Nesse instante Irene sentiu uma forte corrente elétrica a lançar contra a parede do outro lado do corredor.

Parecia ter ficado desacordada por algum tempo, quando voltou a si conseguiu perceber uma porta no final do corredor do lado esquerdo. Ela correu até lá na esperança de ser a saída.

-Emperrada! – Ela disse enquanto colocava força para abrir.

Passado alguns minutos, Irene conseguiu entrar no local. Era uma antiga cela. Tudo estava muito escuro, mas ela ouvia tilintar, após alguns passos conseguiu vê a silhueta de alguém acorrentado. A pessoa tinha os braços em correntes, cada uma presa em um lado da cela, os cabelos compridos negros e soltos escondiam o rosto que pendia para frente. Quem quer que fosse o prisioneiro era certo que havia sofrido tortura por horas a fio e por essa razão Irene pensava ser a lembrança de quando encontrou Sherlock nas mãos do Morse quando criança. Ela não podia estar mais enganada.

Um passo de cada vez e assim foi se aproximado. Já bem perto, Irene notou que não se tratava de Sherlock, na verdade, era uma mulher presa naquelas correntes.

-Quem é você?

-Eu pensei que fosse mais esperta.

A pessoa falava com certa dificuldade deixando um pouco de sangue cair de sua boca. Irene sentiu um calafrio subindo sua espinha. Ela estava quase tocando na mulher quando esta levantou a cabeça se mostrando por completo.

-Você sou eu. Como... ?

-Eu sou o seu segredo Irene. Sou quem você tem machucado para conseguir abrir essas portas.

-Eu não estou entendo. – Uma lágrima escorre por seu rosto.

-As portas trancadas são as que você não é capaz de lembrar, as apenas fechadas são as que você prefere não lembrar e as abertas... Bem, você entendeu.

-Como as abro?

-Eu sou a chave para todas elas.

-Preciso abrir. Eu tenho de saber quem eu sou.

-Tem certeza que está preparada para se enxergar como realmente é?

-Sim. – Sua voz soou fraca e incerta.

Ela tocou a mão da outra Irene, as correntes somiram, a sua versão torturada estava em pé cheia de sangue. Em seguida sentiu uma forte corrente elétrica passando por seu corpo e começou a vê e ouvir várias pessoas ao seu redor em várias cenas diferentes, umas de quando era criança, outras adolescente e até mesmo as da idade adulta.

“Por favor, pare! Você está me assustando.”

“É sua culpa!”

“IRENE!”

“Você tem de matar. É o único jeito”

“Você devia ter medo de mim!”

“Sua vaca!”

“FIQUE LONGE DE MIM!”

“Eu não posso mais fazer isso.”

“Eu não confio em você”

“Você é um monstro”

“Você é máquina”

“Nós a detestamos”

“JOHN”

Ela caiu no chão e acordou no hospital. O inspetor segurava a sua mão, ele se mostrou feliz ao vê-la acordar.

-Eu sei quem eu sou!

Irene o olhou e sorriu.

ALANY ROSE
Enviado por ALANY ROSE em 23/03/2018
Código do texto: T6288031
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