DANIEL

DANIEL

_Onde ele está? Já o colocou na sala de interrogatório?

_Sim Doutor Carlos. Inclusive queria avisá-lo que ele já pediu um advogado.

Dá uma segurada Fran. Eu vou ver se amarro uma confissão.

O Delegado Carlos era implacável, levava consigo o slogan "o crime nunca dorme". Combatia o roubo de galinha com o mesmo grau de um assassinato.

_ Então Sr...Sr. Daniel. Já sabemos que o Sr. Esteve na boate no dia do assassinato da Sra. Sônia.

_Olha Sr. Eu só falo na presença do meu advogado.

_Mas o Sr. sabe que já sabemos que vocês conversaram na porta do banheiro e a investigação levou a testemunhas que já os viram juntos.

O que foi rapaz..ela te deixou, uma moça bonita como ela, de repente desistiu de ficar com um jovem que não estuda, não trabalha...

A austeridade do Delegado impunha provas.

_Olha Sr. Eu não tenho nada com isso. Eu não a matei, conversamos no banheiro sim..mas foi só um oi, um cumprimento.

_Olha rapaz, você não tem ficha, você veio até aqui sem se rebelar..eu aconselho você a confessar, me pouparia tempo e até teria uma redução na sua pena.

_Olha...

Três batidas na porta, fomos interrompidos com a chegada do advogado. Inferno, ele começava a falar.

Após seu advogado se sentar. Pediu que Daniel ficasse calado, "nem uma palavra".

_Bom, vou ser rápido aqui. Temos provas contundentes que seu cliente esteve na boate, temos filmagens de vocês conversando no banheiro Daniel, pelas gravações eram quatro da manhã. Mas as quatro e meia ela foi encontrada morta no quarto de hotel.

Assassinada com um punhal. Já sabemos também que ela era uma garota de programa nas redondezas.

O carro era dela, e uma digital está sendo identificada.

Então Daniel, onde você foi após a boate?

Daniel, era um garoto ainda, era magro e alto. Deixou a escola para cuidar da mãe viciada em crack. Ela o tinha e ele tinha só a ela. Não era violento, passava a maior parte do tempo em casa, desenhando, amava artes e às vezes pintava quadros abstratos, em outras ocasiões trabalhava com Sr. Bonafio o marceneiro, lhe rendia o básico para viver.

Era apaixonado por Sônia.

Mesmo ela sendo uma garota fácil, insegura porém muito bonita, no qual usava desse recurso para regozijar-se da vida, caira na prostituição.

Daniel estava resgatando sua mãe da boca de fumo, não podia relatar onde estava na noite do crime. Não tinha saída, era sim inocente, mas sabia que isso não faria diferença. Esteve no local errado com a pessoa errada.

Após o depoimento. Ele saiu da sala. Olhou nos olhos do Delegado, fez sinal com a sobrancelha, sinal esse que a experiência do Delegado fisgou no ar.

Saiu da Delegacia, atravessou a rua, sentou-se num quiosque com o advogado e pediu uma cerveja. Talvez a última degustada em liberdade. Encheu a boca e engoliu devagar.

_ Muito bom Daniel. - Disse o advogado - Usei luvas o tempo todo, ele jogou com você. Agora mantenha o que combinamos e sua mãe fica fora de problemas. Fui claro,

Era para você entregar o dinheiro para ela com a chave do quarto, mas sem ser visto garoto burro.

Jogou a bituca de cigarro no peito de Daniel e saiu fechando o paletó.

Daniel vestiu o capuz da blusa, desceu a rua a pé.

Perdeu as esperanças, sabia que não tinha saída. Era ele ou sua mãe.

Pagou o bilhete do metrô, subiu a estação, com a memória de Sônia beijando seu rosto na boate. Colocou as mãos nos ombros em forma de cruz, esperou se aproximar e se jogou na frente do metrô.

Continua...

Priscila Ferrer
Enviado por Priscila Ferrer em 07/03/2018
Código do texto: T6273624
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