Os Segredos da Rua Baker 3: 12- Uma ajuda de Sherlock Holmes
Sherlock estava concentrado digitando suas anotações a respeito da fazenda de abelhas quando Lilian entra anunciando um visitante no mínimo inesperado para o momento. Ele olha para o homem parado na porta do seu laboratório sabendo que tudo havia chegado a um ponto crítico.
-Irene? – Ele perguntou, mesmo já sabendo a resposta.
-Ela está desaparecida.
-Sente-se Sr. Smith.
-Nós realmente precisamos...
-Precisamos conversar. Depois buscaremos minha filha. – John sentou na cadeira em frente. – Então, o senhor está de volta à vida dela.
-Ela precisa de mim.
-Sim. Conte-me a respeito.
John fez um resumo de quando quase esbarrou com ela na rua até o momento em que voltaram juntos para a 221B. Ele não entendia o motivo dessa conversa toda, mas se Sherlock Holmes preferia lidar com a situação dessa forma, ele não iria contestar. Aprendeu com a Irene e Diana que qualquer conversa aparentemente desnecessária se mostrava essencial no fim das contas. Pelo menos, quando se tratava de alguém da família Holmes.
-Passamos os últimos dias tentando desintoxica-la...
-E quanto ao Sigerson?
-Conseguimos convencê-lo de que Irene tinha um caso muito importante e ficaria fora por um tempo.
-Não conseguiram.
-Sim, Sr. Holmes, nós conseguimos. Ele não apareceu mais como fez antes.
-Irene verdadeiramente se importa com o Senhor.
-Por que diz isso?
-Ela sabia que o Sigerson nunca cairia nessa, mas manteve a mentira para que o senhor não se preocupasse tanto.
-Ele a pegou, não foi?
A voz do John soou tão triste que fez Sherlock Holmes tentar ser mais cauteloso em suas palavras.
-Irene retornou a casa dele por vontade própria.
-Isso não pode estar certo. Fizemos um trato. Isso seria por causa das provas contra o Sean ou essa tentativa de ter as memórias de volta?
-Sr. Smith, a minha filha é viciada. Sigerson sabe muito bem disso. Irene se recusou a seguir o plano original por querer lembrar o passado. Eu tenho certeza, pelo que me contou, no estado em que se encontra, ela não quer mais recuperar as memórias. É doloroso demais. Porém, Irene não é capaz de resistir a ir lá.
-O que houve no passado dela?
-Pensei que nunca perguntaria.
Sherlock estava completamente certo. Sigerson estava fazendo Irene ser incapaz de se manter muitos dias longe dele. Suas lembranças estavam quase todas de volta, embora ainda de uma forma muito confusa.
Após três dias sem ir à casa do tio; sem usar nada, Irene não aguentou mais. Ela precisava ir lá; precisava vê-lo; precisava que injetasse novamente o estimulante para sua memória.
Sigerson sorriu ao vê-la entrar. Seu poder sobre a sobrinha estava aumentando.
-Oh minha querida! Você está tremendo como um graveto ao vento. Venha comigo. O tio Sigerson irá cuidar de você.
-Você sabe do que preciso.
-Sim, eu sei.
Irene não relutou quanto à injeção. Na verdade, ela até imploraria para recebê-la se lhe fosse ordenado. Sigerson aplicou pessoalmente na sobrinha que inclinou a cabeça pra trás pouco depois dele acariciar seu rosto.
Sherlock contou ao inspetor todos os traumas da vida da filha e, também, sobre como o Mycroft tentou esconder esses traumas nas profundezas da mente dela. John nesse instante entendia boa parte do comportamento destrutivo da Irene, e sua obsessão em conseguir as memórias de volta.
-O que faremos agora?
-Nada. – John o olha com incredulidade. – Irene é muito teimosa para nos deixar ajudá-la. Jamais admitiria ter o problema do vício...
-Desculpe, sr. Holmes, mas não posso aceitar isso. Irene está em perigo. Eu entendo que ela é teimosa, é viciada, no entanto a conheço o suficiente para ter certeza de que ela não é relapsa ao ponto de entrar em algo dessa magnitude sem um plano. Mesmo que seja algo estúpido como se deixar viciar para conseguir a confiança do Sigerson.
-Você realmente acha que a conhece.
-Não acho, Sr. Holmes. Eu conheço a sua filha e, além do mais, jamais aceitaria abandonar alguém que eu...
-Você?
-Que eu me importo profundamente. Se o senhor não irá ajuda-la tudo bem, eu darei um jeito.
-Era tudo que precisava ouvir. – Sherlock levanta e passa rápido pelo inspetor que o segue. – Lilian, eu vou ter de ficar fora por um tempo. Ligo mais tarde. Você está de carro?
-Sim.
-Ótimo. Eu dirijo enquanto você liga para a Alex e Diana.
-O senhor estava me testando? – O inspetor perguntou ao entrarem no carro.
-Sean é um ex soldado que faria qualquer coisa para proteger Diana. Eu não tinha certeza do motivo da Irene gostar de você. Até agora.
Diana preparava um chá quando ouviu a porta da sala se abrindo. Seu marido estava no banho, então deveria ser alguém da sua família. Ela foi até lá e viu Irene visivelmente instável.
-O que faz aqui? - Sem dizer qualquer palavra, Irene aponta uma arma para a irmã. – O que... ? O que está vendo, Irene? Seja o que for; não é real. Sou eu... Diana.
-Eu sei. – Ela tremia; uma lágrima escorreu pelo seu rosto.
-Abaixe a arma.
Faça! Você tem de fazer. É sua mãe ou ela... A escolha é sua! Dizia a voz em sua cabeça... A voz do Sigerson.
-Sinto muito, Diana... Eu não quero...
-Então não faça. Irmã, por favor, concentre-se.
-Ele vai mata-la se isso não acontecer. – Sua voz não passava de um sussurro amedrontado.
-Por que está sussurrando?
-Para não acorda-los.
-Quem?
-O que está acontecendo aqui? – Sean entrou na sala. –Irene abaixa essa arma!
Ela não o ouvia. Só Diana existia naquele lugar. Na verdade, o que se passava na cabeça da Irene naquele momento era bem diferente do que realmente estava acontecendo. Ela se via criança no quintal da casa dos avós. No dia em que Sigerson a convenceu a esfaquear Diana.
Você quer isso, Irene. Você sabe que quer. Você será poderosa, meu amor. Nós seremos.
Sean vagarosamente entrou na frente da arma, então ela o notou por um breve momento.
-Irene! Você não tem de fazer isso!
-Sean... E-eu preciso... Não... Eu não posso.
Seu pai vai morrer... Sua mãe vai morrer... Tudo por culpa dela!
-Irene, isso não é um sonho...
-Irmã, por favor...
Irene lutava contra si mesma; contra seus medos; contra a voz do tio. Ela mentiu pra você. Você chorou. Você sofreu por causa dela...
-Não farei... Não posso.
Eu matarei Diana pessoalmente. Será lento e insanamente doloroso, se não fizer isso agora.
Irene soltou um agoniante grito com as mãos nos ouvidos; Sean aproveitou para desarmá-la, porém, ao cair junto com a cunhada no chão, a arma disparou ferindo Diana. Ele correu para a esposa e Irene saiu dali.
Chegando a casa do mais velho dos irmãos Holmes, John recebe uma ligação da Miller. Ela diz para ele correr até a Scotland Yard. John deixa Sherlock e se dirige ao seu local de trabalho.
Sherlock entra na casa do irmão como se estivesse adentrando em um campo de batalha. Ele espera pacientemente na sala de visitas até que Sigerson se dê o trabalho de ir até lá.
-Sempre pensei que teria essa conversa com o Mycorft. – Disse ele.
-Ela é a minha filha.
-Você passou a maior parte da vida longe dela. Não sei se pode ser assim considerado.
-Não por vontade própria. Precisava protegê-la de você.
-E ainda assim aqui estamos. – Sigerson mostra um largo sorriso. – Como sou rude. Gostaria de beber algo?
-Nós tínhamos um acordo, Sigerson.
-Você o quebrou, Sherlock. Eu sempre fiz vista grossa para as suas constates tramas de espionagens. Incessantemente dando um jeito de ter notícias das duas. Isso já ia contra nosso acordo, então você resolveu voltar. O que eu deveria fazer?
-Deixar minhas filhas em paz! Onde está Irene?
-Ela foi matar a irmã. – Ele disse com um tom vitória.
Imediatamente Sherlock tentou ligar para Diana, sem sucesso, então ligou para o Sean. O soldado lhe contou toda a confusão, em seguida chegou uma mensagem do inspetor Smith.
-Não chegue perto da Irene. Nunca mais.
-Ou o que?
-Você terá de lidar comigo.
-Isso já aconteceu antes. Você não pode comigo, Sherlock. Nenhum de vocês pode.
-Você está ficando velho, Sigerson. Alguns erros podem ser arranjados com facilidade e, no fim, vão pedir educadamente que se retire de todos os seus negócios. Você quer isso? Pense a respeito.
Sherlock ia em direção a porta quando Sigerson disse:
-Eu posso não procurar mais a Irene. Eu farei isso, mas, será se ela não irá me procurar? Pense a respeito, querido irmão.
Sherlock sabia que ele estava certo. Hoje, ele seria capaz de obrigar o Sigerson a recuar, porém Irene nunca desistiria de saber sobre seu passado ou, simplesmente, de tentar destruir o tio.
John chegou o mais rápido possível na Scotland Yard.
-Você estava certo. Ela não está bem. – Disse Miller assim que o encontrou.
Irene estava parada no meio dos policiais com a arma na mão.
-Irene? Você está bem? - Ela levanta a arma deixando os outros policiais em alerta, entretanto John faz um gesto para manterem a calma. –Olhe pra mim... Só pra mim. Irene, eu sou seu bug mental, lembra? Confie em mim. Você está a salvo. Venha comigo.
-John? – Ela vê vários policiais a encarando de forma estranha. – Eu deveria estar na 221B.
-Você está. Assim como eu.
Irene toma consciência de estar na sala de casa. Ela começa a ficar nervosa.
-Como cheguei aqui?
-Eu te trouxe. O seu pai está a caminho, ele só teve de passar na casa do Dr. Watson.
Alguns flashes misturando delírio com realidade começaram a surgir em sua mente. Irene via Diana caída com muito sangue. Em algumas das visões era um ferimento à bala e em outros era à faca.
-Eu a matei!
-Quem?
-Minha irmã! Eu a matei!
-Do que está falando, Irene?
-E-eu... Eu não sei. Teve sangue... Muito sangue. Eu a machuquei, mas não sei como.
-Está tudo bem. – Ele tenta abraça-la.
-NÃO, NÃO ESTÁ! – Ela o afastando indo perto da janela. - Eu matei minha irmã, John.
-Eu vou ligar para Diana e você verá que foi uma das alucinações.
Irene tremia e não conseguia ficar parada. Assim que John pegou o telefone, Sherlock apareceu junto com o Dr. Watson. Ao visualizar seu pai e seu tio do coração ali parados, ela não aguentou mais e caiu de joelhos chorando incontrolavelmente ainda com a visão de Diana sangrando caída no chão.
-Ele me forçou. Eu sinto muito.
-Você não a matou, Irene. Foi apenas um ferimento leve no ombro. – Disse Sherlock.
-NÃO MINTA PRA MIM!
Sherlock se ajoelhou na frente dela e a abraçou. Irene se agarrou a ele como se fosse um bote salva-vidas no meio de um oceano de confusão.
-Não é mentira, Irene. Sua irmã está assustada, mas viva. Diana está bem.
-Eu não queria pai. Ele me fez querer.
-Sei disso, minha filha. Desculpe não ter conseguido protege-la mais uma vez. Irene?
Irene começou a tremer revirando os olhos. Dr. Watson afastou Sherlock, colocou a mãos no rosto dela, verificou seus olhos, temperatura e pulso.
-Ela teve uma leve convulsão. Chame uma ambulância. Irene, você pode me escutar? – Ela só mexe a cabeça em afirmação. – Repita depois de mim: meu nome é Irene Holmes.
-Meu nome é Irene Holmes. – Sua voz soava fraca, mas não embolada.
-Levante os dois braços. Muito bem. Agora, sorria pra mim. Ótimo!
Os paramédicos chegaram e a levaram para o Hospital. Depois de uma bateria de exames foi descoberta uma forte inflamação no encéfalo. Essa doença misturada com as drogas que o Sigerson a injetava fizeram todas as alucinações e confusão temporal acontecerem.