O alfinete de chapéu

Emma Brewster, uma jovem loura e miúda trajando um sóbrio vestido cinza (contrastando com o chapéu, decorado com flores de seda e preso por um longo alfinete de cabeça de âmbar), fez sinal para uma diligência que passava na Quinta Avenida. O veículo, puxado por um cavalo baio e outro tordilho, ambos usando graciosos chapéus de palha, já estava cheio, com passageiros em pé, mas ela tinha um compromisso em Staten Island e precisava chegar o mais rápido possível ao terminal Whitehall, na Baixa Manhattan. Portanto, foi pedindo licença e esgueirou-se até um ponto menos povoado, no fundo do veículo, entre uma mulher gorda e um cavalheiro de aspecto distinto, cabelos grisalhos. Finalmente, a diligência pôs-se em movimento.

Na primeira freada brusca, o cavalheiro roçou o corpo no dela, por trás. Emma olhou para ele com cara de poucos amigos e o homem desviou o olhar. Mais algumas centenas de metros, numa curva, ele inegavelmente esfregou-se nela.

- Senhor, poderia afastar-se, por favor? - Solicitou Emma em tom polido, mas firme.

- O transporte está cheio - foi a resposta sarcástica que recebeu.

Emma não pensou duas vezes. Puxou o longo alfinete que prendia o chapéu, e virando o corpo, cravou-o com toda força no ombro do importuno. O homem deu um grito lancinante.

* * *

O sargento O'Halloran olhou contrafeito para a jovem e o homem com o ombro esquerdo do paletó manchado de sangue, sentados à sua frente na delegacia.

- Como então a senhorita foi bolinada por este cidadão, Nicholas Dale?

Emma lançou um olhar de nojo para o homem ferido.

- Bolinada, não! Ele se esfregou em mim, esse pervertido! Duas vezes!

Dale gemeu.

- Sargento, essa mulher é louca! A diligência estava cheia, parou bruscamente, me desequilibrei e rocei nela. Não havia motivo para que ela me apunhalasse usando uma arma branca!

O'Halloran examinou o alfinete de chapéu que estava sobre sua escrivaninha, enrolado num lenço manchado de sangue.

- Este objeto é seu? - Perguntou para Emma.

- Sim, sargento. É o meu alfinete de chapéu - respondeu ela em tom cansado.

- Há uma lei em vigor que proíbe o uso de alfinetes de chapéu com mais de 9 polegadas de comprimento. Este seu tem 10 polegadas. Não sabia disso? - Indagou em tom severo.

- Este alfinete pertenceu à minha avó, policial - retrucou Emma. - Não havia nenhuma lei restringindo o tamanho há 30 anos! E não me importa que haja hoje, importa que tive minha dignidade ofendida e agi de acordo!

- Há uma lei, e alegar desconhecimento não a exime de ser punida por ela - prosseguiu o sargento. - Terá que pagar uma multa de 50 dólares, e o objeto ficará apreendido.

Apesar da dor, Dale emitiu uma risadinha. O'Halloran o encarou com desprezo.

- Não esqueci do senhor. Está multado em 50 dólares por ato obsceno, a serem pagos à senhorita, imediatamente.

- Mas o quê... - murmurou Dale atônito.

- Ou cárcere e julgamento. O que o senhor prefere? - Inquiriu o sargento.

Sem dizer uma só palavra, Dale puxou cinco notas de dez dólares da carteira e as entregou à Emma. Ela então, as repassou ao sargento, que firmou um recibo e o entregou à jovem.

- Estou liberada? - Indagou ela, erguendo-se.

- Está liberada, senhorita. Estava indo para Staten Island?

- Sim, mas não vou conseguir pegar a balsa...

O'Halloran chamou um policial que passava:

- Mike! Sua moto está lá fora?

- Sim, sargento.

- Leve a senhorita Brewster ao terminal Whitehall.

E diante do olhar agradecido da moça:

- Mas tome cuidado com os alfinetes de chapéu, senhorita!

- [16-02-2018]