A S T E S T E M U N H A S :

Uma....duas....três.....quatro. Eram quatro testemunhas. Nem mais nem menos. Exatamente quatro. A certeza não faltava de que elas sabiam tudo o que poderia ter acontecido ali, naquele quarto, no andar superior daquela humilde casa.

Mesmo ali, mesmo ambiente, todas quatro presentes, imóveis, mudas, testemunharam. Todas elas viram. Mas se calaram. Nada disseram. O acontecido ficou para sempre um mistério, uma vez que as quatro testemunhas não se manifestaram. Mas elas viram, sim, viram tudo.

Era um hotel simples do interior, bem na entrada da cidade. A cidade era realmente pequena e pacata, onde todos se conheciam e se tratavam pelo primeiro nome, por apelidos, alcunhas. Eram até, entre eles, comadres e compadres. Os hóspedes daquela casa chegavam, permaneciam, resolviam seus afazeres e se iam. Alguns faziam amizades e deixavam lembranças. Naquela semana também não foi diferente.

Todos conheciam os filhos de seus vizinhos. Os donos de comércios residiam aos fundos de suas lojas. Guardavam todos os feriados e tinham lá seus dias santos, principalmente o dia especial do ano, comemorado tanto quanto os dias de natal e ano novo. O dia do seus padroeiro. Tradicionais ao extremo, aquele povo. Ao meio dia a cidade era sem movimentos, uma paradeira mesmo, como na hora da ciesta mexicana. (*Só faltava os restaurantes se fecharem pro almoço. (piada do autor).

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Mas a vida é cheia de surpresas. E nesse hotelzinho, vez por outra, acontecia algo digno de anotações ou reportagens. Moradores tem orgulho em afirmarem que certa vez um bispo se hospedou naquele hotel. O carro da sua eminência deu uma pane no motor, bem na entrada da cidade. Como não poderia seguir viagem o bispo deu essa honra ao município. Um entre muitos episódios ocorridos ali, naquela casa centenária, que sustentava, por cima da sua porta principal, uma placa de hotel, ficou conhecido como "O Caso da Esposa Morta".

O tal caso teve um desfecho interessante. Chamou muito a atenção, na época do acontecido. Foi o caso sensação, que os jovens de hoje chamariam de "Cabuloso". Saiu até em algum jornaleco da região.

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Era um vendedor de tecidos e aviamentos. Era um cidadão comum. Homem branco, alto, não gordo nem magro demais. Seu rosto expressava sua tranqüilidade, sem ser muito sorridente. Tinha ele um rosto comum, que se mistura fácil na multidão. Nada de especial em seus traços o faria ser lembrado. Contudo, em todos os lugares existem pessoas sagazes.

Mas os empregados da casa repararam no casal. A esposa era pessoa também simples. De uma presença marcante. Corpulenta, sem ser mui gorda. Tinha altura compatível com seu peso e uma bela estética. Rosto cheio e bonito, alegre, cheio de sorrisos. Dentes alvíssimos e cabelos longos, encaracolados. Sua voz era de um médio semi-grave, meio sapatônica, bonita como das cantoras de Soul-blue. Ela se mostrou muito gentil para com todos da casa. Sempre sorrindo e distribuindo gorjetas. Assim era ela.

Todas as manhãs os dois saiam juntos para visitar os seus clientes. Algumas vezes eles saiam separados. Ela visitava também uma clientela à parte, mas almoçavam e jantavam sempre juntos. Ambos formavam, realmente, um belo casal, na opinião geral.

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A polícia ao fazer investigações, nada encontrou em sua ficha que o desabonasse. Sua documentação pessoal e da empresa que ele representava estava minuciosamente em ordem. Era um cidadão cuidadoso e profissionalmente impecável. Segundo seus empregadores ele era mesmo considerado, por todos como operário padrão.

Durante muitos dias os moradores daquela cidadezinha só falavam da morte da senhora simpática, hóspede da hotel. O mistério deixava as pessoas encabuladas e alguns mais criativos até inventavam outros desfechos para a história da falecida. Não faltou um ou outro para confessar que a conhecia de tal ou qual cidade. Imaginação fértil aquele povo tinha. Isso tinha. Uma mocinha teve a audácia de dizer que um tio seu havia namorado a madame na capital anos atrás.

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O réu foi inocentado, segundo os costumes da lei, por falta de acusação e de provas concretas.

Mas, as quatro testemunhas sabiam de tudo que aconteceu. Talvez algo grande. Algo que levaria aquele marido aos tribunais, à prisão.

Contudo, ele escapou..ficou livre.. tudo única e simplesmente porque as testemunhas eram as quatro paredes daquele quarto de segundo andar. O caso foi encerrado. O silencio foi total. Porque as paredes não falam!

======@<> F i m <>@=====

(Pardon)

( Pardon )
Enviado por ( Pardon ) em 09/02/2018
Reeditado em 13/02/2018
Código do texto: T6249270
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