Com o dedo onde não foi chamado
A mãe era extremamente cuidadosa, e a filhinha extremamente doce, mas isso não significava o consumo excessivo de chocolate, a vigilância sobre a alimentação da criança era rigorosa. O tio, irmão da mãe, adorava a Tatinha, e sempre trazia em sua mochila uma barra enorme, escondida, é lógico, daquela delícia, derivada do cacau para a sobrinha adorada.
Criança é guiada pela gula, sim, por um dos sete pecados capitais, e a Tati não era diferente; sempre que o tio chegava, ela corria até o quarto dele, e remexia na mochila, sabendo que todos seus desejos seriam realizados... sempre encontrava a deliciosa barra.
A família possuía uma chácara, quase que dentro da cidade, ficava na periferia, mas muito próxima, e o casal, pais da menina, sempre a deixava com a avó, e tio, todas as vezes que desejavam passar um final de semana isolados.
Uma noite o silêncio foi quebrado por um estampido, o único vizinho confirmara à polícia, que foi um tiro, e a vítima foi a mãe, Tatinha acabara de ficar órfã.
Em Gotham City o assassino é sempre o Coringa, em contos policiais, o assassino é sempre o mordomo, e para o resto do mundo real, o primeiro suspeito é sempre o marido. E a polícia descobriu resíduos de pólvora em sua mão, afinal ele sempre atirava em alvos fixos, quando na chácara, mas aquela teria sido a primeira vez que atirava na esposa.
Como todos os suspeitos, ele negava, veementemente, que tivesse disparado contra sua mulher, mas todos seus argumentos eram derrubados pela pólvora nas nãos.
Cumprindo uma rotina normal de investigação, a autoridade policial colocou o marido sob custódia, imediatamente, e se dirigiu à casa, onde ficara a Tatinha, para comunicar à avó, que a mãe da criança fora vítima de um homicídio.
A avó chorava de forma copiosa, o marido a tentava consolar, o tio andava pela sala, como se perdido, e a Tatinha, caminhando, com certa dificuldade, ainda era muito novinha, buscava a mochila do tio, esperando, com certeza, encontrar chocolate.
Ela voltou para a sala com o dedinho sujo, escuro, mas não de chocolate, e o policial logo percebeu que a sujeirinha no dedo da criança, poderia ser pólvora, a criança enfiara o dedo no cano de uma arma de fogo... que se encontrava na mochila de seu tio.
Aquele “Caim” nutria verdadeiro ódio pela irmã, que encontrara drogas, que ele portava, também na mochila, e ameaçava denunciá-lo, se ele não parasse com o tráfico.
O assassino, furtivamente, foi até a chácara, atirou na irmã, e também furtivamente voltou para casa, sem levar a barra de chocolate para a menininha da família.
A Tatinha, inocente, enfiou o dedo onde não fora convidado, e trouxe à cena do crime a verdadeira arma, e o verdadeiro homicida., exames de balística confirmariam isso.
Resíduos de pólvora foram encontrados no dedo da Tatinha, mas ninguém ousaria acusar aquela criança, que apontou o dedo, em riste, e sujo para o criminoso.