Tão jovem...

Ela já era mãe, mas tinha idade para ser a filha mais nova, sim, uma caçula; ela se engravidou com apenas 16 anos de idade, em plena adolescência. O pai, pronto para uma faculdade, preparava-se para um vestibular, mas não para ser pai, aquela foi, certamente, sua primeira relação sexual, com condições de êxito, ele também era muito jovem, é quase certo que, em suas experiências anteriores, não estivesse devidamente preparado para reproduzir, ele não era tão precoce assim.

Com maturidade, ou não, para a gravidez, o fato é que ela se confirmou, primeiro com testes farmacêuticos, desses que mudam a cor da haste, se a concepção se efetivou com uma fecundação; mas consultas com o ginecologista confirmaram aquilo que o jovem casal temia.

Primeiro o temor da adolescente em revelar o que havia feito aos os pais, depois a desilusão com o comportamento do “menininho precoce”, que estava determinado a resistir, ou assumir qualquer responsabilidade, as portas da faculdade estavam se abrindo para ele, e um filho representaria um óbice a todos seus planos.

A criança nasceu, não obstante toda a rejeição do jovem pai, e toda a luta da jovem mãe, para enfrentar a dura realidade de uma adolescente mãe. Frank, o menino pai, recusava-se a prestar qualquer assistência à jovem mãe, não só assistência material, mas sobretudo a emocional, aquela grávida menina precisava do apoio dele, com o que nunca contou.

A criança não carregava as marcas da rejeição do pai, pelo contrário era linda e esperta, uma criança sagaz, que a tudo parecia entender, e a mãe, crédula, acreditava que podia contar com o apoio da filha, o que parecia quase que uma insanidade.

Absolutamente aquele não era o legado que a menina mamãe queria deixar para sua filhinha, mas contra a genética não adianta lutar, e a filhinha tinha um intestino ressecado, repasse da mãe,que periodicamente precisava de um supositório para evacuar.

Aquela mãe tão inexperiente precisava de orientações de amigas, pois a avó era uma conservadora, e ainda que amasse a neta, não se deixava se envolver em demasia com aquela questão, mantinha-se esquiva. A farmacêutica, esposa do delegado da cidade, deixou crescer uma afeição muito forte pela adolescente mãe, e sua filhinha.

Via de regra a fatalidade é injusta, e aquela desajuizada mãe foi assassinada de forma brutal, e desumana, e a criancinha se fez responsabilidade dos avós maternos.

Qualquer detetive, mesmos os formados em seriados televisivos, apontaria para o pai da criança.

Como primeiro suspeito, afinal ele tinha motivos para se livrar da antiga namorada, o meio foi uma arma de ocasião, fortuita, uma faca de cozinha da casa, onde morava a vítima, e oportunidade ele tinha, pois para ele era livre o acesso à criança. Ele tinha motivo, meio e oportunidade, para cometer o crime, mas seu álibi era fortíssimo, ele se encontrava fora da cidade, reunido com vários amigos, que confirmavam sua história.

Inconformada com crime, a farmacêutica exigia do marido delegado uma atenção especial para a elucidação daquele ato bárbaro; ela se nomeou assistente do cônjuge, e juntos passaram a reunir todos detalhes, e qualquer evidência que pudesse solucionar o crime.

Supositório pode se abrigar na mais recôndita fenda, mas não abriga assassinos. A criancinha reagiu bem ao tratamento, e se livrou de toda a carga presa em seu intestino, carimbando e marcando, de modo quase que imperceptível a roupa do matador.

O delegado, premido pelas exigências da esposa, descobriu as roupas marcadas pela criança, na casa do pai, que estava, no momento do crime, afastado da cidade, mas reunido com amigos, num rancho, muito próximo, o que lhe permitiu uma fugida do local de pesca, até local do crime, e um retorno rápido, para junto de seus parceiros de cerveja, sem que sua fuga fosse notada.

Todo o resto do álibi foi derrubado pelo cocô daquela menininha linda.... um cocô tão fedido, mas com incrível força de denúncia, e respingos ficaram impregnados nas calças daquele sórdido pai, cuja única manifestação de paternidade e carinho, foi se lambuzar, involuntariamente, ao abraçar uma criança com a fraldinha carregadinha.

Sempre o delegado contará que nunca um crime foi denunciado por uma “dedinho duro” tão jovem como o daquela anjinha de cabelos encaracolados.

Roberto Chaim
Enviado por Roberto Chaim em 25/11/2017
Reeditado em 27/11/2017
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