Enquanto ela cortava as unhas, ele...
O pequeno quarto, era meio escuro e frio, mas era o melhor lugar que Anne encontrava para desabafar suas dores e mágoas.
Anne, era uma mulher de cabelos curtos e branco amarelado pelo tempo , vivia quase sempre só em seus pensamentos tristes.
Seu casamento de quase cinquenta anos, há muito já havia ficado no vento.
Ela havia sido feliz alguns dias, tudo começou exatamente no dia do seu casamento com Daniel.
Daniel era um imponente rapaz de olhos azuis como o céu, mas de personalidade variável como uma tempestade, às vezes gentil e amoroso, em outras vezes, dominador e agressivo.
Foi um casamento que iniciou quase forçado, pela inexperiência e uma gravidez sem um final feliz.
Enquanto ela cortava suas unhas da mão enrugada, pensava em como sair dessa situação, nesses longos anos ela aprendeu a odiar profundamente o homem que um dia a ajudou.
Pensava que não aguentava mais dividir o espaço fétido, que ele deixava num rastro expelido pelo cachimbo que carregava, sempre seguro entre os dedos amarelados pelo vício.
Anne olhou para um pequeno baú, onde guardava ainda as lembranças de um grande amor que a deixou, para casar-se com outra, abriu o vestido do casamento com Daniel, um vestido de renda francesa, bem solto na cintura, escondendo um bebê recente que se aninhava no escuro.
Daniel contou a todos, que da primeira noite de casado, onde só ele teve prazer, nasceria um herdeiro brevemente.
Mas Anne não, não desejava que aquele ser, viesse ao mundo para mostrar a todos o seu maior erro.
No baú encontrou também uma caixa, onde guardava as peças que abrigariam o pequeno inocente, junto as peças muitas cartas de amor, um amor que só ela sentia e que depois do fato, desapareceu nas promessas feitas.
Ela cortava as unhas e pensava.....cortou até a raiz, donde já escorria um sangue amargado pelo tempo.
Hoje Anne daria fim ao seu sofrimento, daria fim a Daniel, sim de hoje não passava, esperaria que ele ao adormecer a noite, a estufa de gás do seu quarto, seria apagada com sua vida sem levantar suspeitas, ela poderia voltar para seu quarto e dormir tranquila, na certeza que um dia de sol nasceria a seguir.
Desceu e foi preparar o ultimo jantar para aquele pobre homem.
Daniel chegou da plantação onde trabalhou todo o dia, olhou de cima a baixo para Anne, aquela tarde ele estava diferente, parece que até se banhou para colocar o vestido surrado e florido que ele há muito não via.
Sem dizer nem uma palavra encaminhou-se para o banheiro, lavou rapidamente as mãos e enxugou em seus cabelos sujos, para retirar o excesso da água.
Sentou-se no lugar de todos os dias e antes de tomar a sopa de verduras que Anne preparou, colocou mais fumo no cachimbo e deixou ao lado do prato para depois do jantar.
Sem nenhuma palavra ser dita entre eles, Daniel encaminhou-se para a varanda levando seu cachimbo e Anne começou a lavar os pratos e limpar tudo, enquanto cantarolava bem baixinho.
No dia seguinte logo pela manhã, a rua já estava cheia de pessoas em volta do carro da polícia e e de remoção do corpo, onde embaixo do lençol frio, jazia o corpo de Anne, morta envenenada pelo gás exalado da estufa que se apagou a noite.
"Cuidado com o seu planejamento, ele já pode estar planejado muito antes de você"