Os Segredos da Rua Baker 3: 6- Os Colin

Diana ainda possuía a chave da 221B, então após cansar de apertar a campainha sem obter qualquer resposta, ela decidiu apenas entrar. Sua irmã estava deitada no sofá usando um roupão aberto, uma camiseta cinza e uma calcinha preta. Tinha três garrafas de uísque caídas ao lado do sofá, duas vazias e uma pela metade.

—Irene! – Diana a cutucava. – Irene, acorda, o Henry vai chegar a qualquer minuto. Irene!

—O que?! Diana? E você? O que faz aqui?

—Você tem um compromisso, lembra?

—Não. – Ela se esforçou até conseguir sentar.

—Como não? Você nunca esquece nada.

—Só o que me fazem esquecer.

—Alguém te fez esquecer-se da reunião de hoje?

—A tentativa de lembrar tem me feito esquecer, mas não vou te explicar nada. Vou tomar um banho.

Não demorou muito até o Sr. Colin chegar. Nesse exato instante, Irene terminava seu banho e se posicionava na sala, enquanto Diana encaminhava o amigo até lá.

—Belo lugar! Adorei. – Ele andava pelo recinto. – Por que tem uma carinha com um sorriso pintado na parede?

—Para me lembrar de que, ás vezes, posso me dar ao luxo de sorrir. Tomou sua decisão, Sr. Colin?

—Não há nada a decidir, Srta. Holmes. Eu preciso dos seus serviços.

—Diga-me a verdade então.

Ele pareceu pensar por um segundo.

—Eu já contei tudo que precisava saber...

—Não me faça perder tempo, Sr. Colin – ela foi em direção a porta -, pois tenho muito trabalho...

—Aonde vai?

Irene colocava a jaqueta.

—Não tenho como auxiliar alguém que prefere continuar mentindo pra mim, então, eu vou verificar outro caso. Eu não tenho tempo a perder, Sr. Colin. Com licença!

—É o meu irmão! – Ele gritou com uma trêmula voz.

—O que tem ele? – Irene perguntou ao retornar.

—Meu padrasto o tem nas mãos.

—E qual a razão de ter tentando nos esconder isso? – Diana questionou.

—Apenas quis esconder de você! Nós nos encontramos naquele dia totalmente sem querer, tentei fazê-la escolher outro momento para me visitar, mas não quis.

—É; você estava bem estranho. Mas, por que não me contar? E ainda escolher minha irmã para o trabalho.

—Quando pedi para procurarem um detetive nunca pensei que contratariam a sua irmã. Muito menos que ela aceitaria. Preferia que não soubesse por ser a chefe do meu irmão.

—Eu nunca ficaria contra o Hal. Ele também é meu amigo.

—Espera – começou Irene – Hal e Henry?! Alguém gosta de Shakespeare na sua família.

—Sim, meu pai. Acontece, Diana, que poderia ficar em uma posição difícil. Decidir eticamente entre seu empregado e seu amigo, eu não queria isso para você.

—Eu agradeço Henry, mas posso fazer minhas próprias escolhas.

—Ok. Hora de parar com a bobagem. Como seu padrasto tem o Hal nas mãos?

Henry explicou sobre a repentina morte do pai e como Hal foi afetado pelo acontecimento. Ele ficou ainda mais fechado e distante, mas com o novo casamento da mãe o inesperado havia acontecido. O homem parecia ter muito interesse no trabalho científico dele por isso acabaram se aproximando.

A mãe deles ligou desesperada para Henry, que já morava na Croácia, achando que o filho estava usando drogas ou algo do tipo, pois seus atos estavam cada vez mais incompatíveis com sua personalidade. Henry pediu para um amigo do MI6 investigar, mas semanas depois o tal amigo mandou uma mensagem criptografada falando sobre ter encontrado provas de que Hal estava ligado a uma das empresas do padrasto e tudo indicava ser um trabalho de produção de armas químicas. Por fim pedia para Henry se encontrar com ele em Londres, porém o agente nunca apareceu ao encontro e foi encontrado morto pouco depois, um aparente suicídio.

—Interessante! – Disse Irene. – Diana, você não notou a mudança no comportamento dele?

—Ele andou faltando uns dias, mas deu um atestado. No entanto, o padrasto foi procura-lo certa vez. Hal pareceu bem nervoso com a presença dele. Chegou a me apresentar, no início pareceu interessado nas minhas habilidades, mas quando falei meu nome, ele desistiu. Nunca mais apareceu e pouco depois Hal entrou de férias.

—Talvez não queira se meter com a sobrinha de Mycroft Holmes.

—Possivelmente, afinal meu padrasto tem alguns negócios com o governo.

—Com o que ele trabalha?

—Basicamente tecnologia, mas também patrocina alguns experimentos científicos.

—Uma bela mistura. – Comentou Irene. – Os principais arquivos, ele deve guardar em casa, portanto coloque-me no escritório pessoal dele. – Os três iam saindo. – Você não, Diana, muitas pessoas pode chamar a atenção.

—Eu sei como ser discreta, Irene.

—Você não vai!

—Hal é meu amigo. Você não pode me tirar disso.

—Eu posso, pois estou no comando aqui.

—Quem te pôs no comando?

—O Sr. Colin me pôs no comando ao vir me pedir ajuda. Fique fora, Diana, se precisar irei lhe procurar.

—Não é tão perigoso assim, Irene. Pare de tentar me proteger de tudo.

—Você não é o centro das minhas preocupações, Diana. – Irene disse já atravessando a porta.

A casa da família Colin era imensa e com muitos seguranças, nem Irene e nem Henry queriam ser vistos, então teriam de entrar por caminhos não tão monitorados.

—Podemos ir pelo lado leste.

—Oh, Srta. Holmes, eu costumava fugir dessa casa. Por sua fama, penso que não está habituada a isso, mas apenas me siga.

Eles foram pelo portão oeste, pouco após o segurança passar conseguiram seguir por uma pequena janela entrando no porão. Subiram algumas escadas se esgueirando por longos corredores até chegarem ao escritório do padrasto do Henry Colin. Ele fechou a porta e começou a procurar por algo, enquanto Irene ainda estava parada no centro do recinto.

—O que estamos procurando?

—Ele não colocaria nada em gavetas, portanto um cofre.

—O cofre não fica aqui.

—Sério? – Ela faz uma cara de tédio.

—Não arriscaria colocar algo importante em um cofre que todos na casa sabem a respeito. Você está certa.

—Feliz por estarmos na mesma página.

Irene analisava a estante de livros e Henry as paredes com retratos. Ela acabou vendo um risco diferente no chão, buscou mais um pouco e retirando um candelabro conseguiu abrir a estante do meio. Henry a ajudou a empurrar a tal porta secreta, os dois adentraram em um cubículo com pouca visibilidade, pelo menos até encontrarem o interruptor da luz.

Uma mesa grande com apenas uma cadeira, várias prateleiras com livros e simples papéis, bem no fundo avistaram a portinhola do cofre. Irene ia tentar abrir, mas Henry, mais uma vez, tomou a dianteira. Então, ela aproveitou para verificar os livros e papéis.

—Eu acredito em você! – Ele disse.

—O que?

—Eu acredito que não está tentando proteger a sua irmã.

—Sr. Colin, eu não tenho qualquer desejo de jogar conversa fora.

—Você está fazendo algo pior a ela, Srta. Holmes.

—E o que seria?

—Você está tentando puni-la. – Irene ficou séria. Ele acabara de conhecê-la, como poderia ter percebido tão rápido? Ela escuta uma voz ao longe, então se vira para a parede e toma um gole da sua garrafinha de uísque contando até dez. Henry nota, mas prefere continuar o seu pensamento ignorando esse fato recente. – Precisa ser cuidadosa, Srta. Holmes.

—Por quê?

—Meu irmão e eu éramos igualmente ligados, após a morte do nosso pai e com o novo casamento de nossa mãe, acabamos brigando feio. Ele tentou uma reaproximação, mas só queria puni-lo pela dor que me causou. Afinal, havia me sentido traído pelo único em quem confiava. Se eu não tivesse ido tão longe com essa punição, ele teria me contado a respeito do nosso padrasto e não estaria tão afundado nesse jogo perigoso.

Click.

O cofre se abriu assim que ele pôs um ponto final no seu conselho. Não havia nada de importante, porém um barulho na porta do escritório lhes chamou a atenção. Tiveram de ficar ali dentro correndo o risco de serem pegos, Henry segurava a porta em formato de estante e Irene havia sentado ao lado.

Ela tentou lutar, pois não era a hora e local adequado, porém não conseguiu. Uma nova alucinação se deu início.

Irene se viu na antiga, úmida e pequena cela que Morse a manteve quando criança. A porta estava aberta, mas escutava os gritos do Sherlock. Ela foi devagar até onde o colocaram; ela o viu ali novamente acorrentado, ensanguentado e tão machucado. Teve de abafar o som da própria voz. Indo até o pai devagar, um caminho que parecia muito longo, antes de alcança-lo alguém lhe golpeia. Ela cai, mas diferente de antes, ela não o vê morto. Um homem no qual não conseguia vê rosto, por conta da má iluminação, fica em cima dela e começa a esgana-la. Irene está quase perdendo a consciência quando alguém a puxa pra cima.

—Srta. Holmes! - Henry sentado ao seu lado a envolve em seus braços na tentativa de conseguir trazê-la de volta desse estado alucinante. Irene estava quase sem ar, começou a tossir insistentemente. Henry a abraçou, mas ela se livrou dele. – Desculpe, apenas queria fazê-la sentir-se melhor.

—Eu estou bem. – Ela falou com dificuldade. – Se disser a Diana...

—Será nosso segredo. - Eles trocarem olhares por um tempo. -Meu padrasto já saiu, mas disse algo importante. Ele estará no baile de caridade hoje à noite.

Irene sorri.

—Vamos dançar!

ALANY ROSE
Enviado por ALANY ROSE em 26/10/2017
Reeditado em 26/10/2017
Código do texto: T6153356
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