Os Segredos da Rua Baker 3: 5- Henry Colin

Havia se passado dois meses, Sigerson continuava o “tratamento” da sobrinha, mas a convenceu de que o encontro dos dois só deveria acontecer apenas duas vezes por semana.

Irene tinha acabado de chegar da sua primeira sessão semanal de volta no tempo, ela sentou-se na sua poltrona favorita, não estava se sentindo bem, parecia ter adormecido, mas na verdade não tinha qualquer certeza de quando estava dormindo ou acordada.

Apenas se viu caminhando no jardim da fazenda dos pais, no entanto parecia tudo muito diferente. Nada de abelhas, uma enorme mesa no jardim perto da cozinha e flores por todo lado. Oh, ela agora notou, não era a casa dos pais e sim dos avós. Viu uma boneca de porcelana antiga, pegou a primeira faca que encontrou e a enfiou na boneca a rasgando de lado a lado.

Nesse mesmo instante, ela escutou Lilian gritando o seu nome, isso a fez “retornar” a 221B. Ela pensou que o tal sonho tinha levado apenas alguns segundos, porém ao olhar o celular notou ter apagado por horas.

Ela havia recebido uma mensagem com um endereço. Um caso, talvez. Se alguém lhe procurara para realizar algum trabalho, bem, Irene não lembrava. Entretanto, decidiu ir até o local.

Eaton Square... Eu conheci alguém que morava aqui? Esse lugar me soa familiar.

Irene pensava a respeito quando uma voz familiar a chamou e dessa vez não era uma alucinação. Diana se aproximava.

-O que faz aqui? – Perguntou Irene.

-Vim visitar um amigo. O que você faz aqui?

-Vim visitar um cliente.

-Deve ter errado de casa.

Antes mesmo de Diana tocar a campainha o mordomo na casa abre a porta.

-Senhorita Diana Holmes, sempre agradável vê-la.

-Como está James?

-Velho e cansado.

-Você sempre diz isso, mas está cada dia mais jovem.

-Isso é impossível! – Exclamou Irene com impaciência.

-Desculpe James. Essa é...

-A detetive. O escritório ligou informando sua vinda, mas deveria ter sido mais cedo.

-Deveria? Oh, é claro! Tive alguns contratempos.

-Entrem. Diana, você sabe onde pode encontra-lo. E a senhorita venha comigo, lhe mostrarei o caminho até a sala.

-Obrigada.

Diana entrou na residência como alguém muito familiar com cada canto, ela sumiu corredor adentro. Irene foi levada a uma salinha com lindos clássicos móveis e alguns livros espalhados por uma estante embutida na parede.

Irene observava os detalhes do recinto, queria muito descobrir no que estava se metendo. Ela lia os títulos de alguns dos livros; muitos deles bem contraditórios.

-Você deve ser a detetive. – Ao virar para a porta, Irene deu de cara com um homem completamente nu, com isso não conseguiu proferir uma palavra. – Difícil escolher as palavras certas quando se sente entorpecido o tempo todo. – Ele se aproximou.

-Posso garantir que estou bem desentorpecida.

-Tenho certeza de que agora você está.

Ele foi se achegando cada vez mais até quase não conseguir evitar encostar o próprio corpo no dela. Irene teve de encostar-se à parede dos livros. E foi essa a visão da Diana ao entrar na sala.

-Ahm... Eu perdi alguma coisa?

-Diana! – Ele exclamou indo abraça-la.

-Coloque uma roupa Henry.

-Por quê? Nunca foi de se importar com minha liberdade.

-Talvez, Diana, esteja se sentindo constrangida por ter um marido. Ele definitivamente não iria gostar de saber a respeito de uma situação como essa.

-Oh, eu acho que ela não está nada constrangida. Está até gostando. Já não tenho tanta certeza ao seu respeito.

-Tenho alto conhecimento da anatomia humana, não preciso ficar constantemente me expondo a ela. – Irene disse enquanto entregava a ele uma manta que encontrou no sofá.

-Já o vi pelado por vezes o suficiente, Henry. – Diana virou-se para a irmã. – Esse é o...

-Ex- agente Colin.

-Você sabe quem eu sou!

-O Google sabe quem você é. – Ela falou mostrando o celular. – Essa ferramenta tecnológica costuma saber até mais que eu... Algumas vezes. O que quer de mim?

-Quero que limpe meu nome. Ao deixar o MI6 acabei indo morar na Croácia para melhor investigar os negócios do homem que se tornou marido da minha mãe. Não encontrei nada de mais concreto. Voltei para Londres e fiz alguns serviços escusos no intuito de obter a sua confiança, porém só consegui ficar ainda mais amarrado a ele. Pagarei bem para me ajudar com esse problema.

Diana observava os dois, ela via que a irmã não estava cem por cento presente, mas conhecia o Colin de longa data e tinha certeza que só falou inverdades ou meias verdades.

-Você é um mentiroso, Sr. Colin.

-O que?

-Um agente resolve abandonar a carreira no MI6, qual seu primeiro ato? Se tornar freelancer. Portanto, você não está preocupado em limpar seu nome, afinal qualquer serviço escuso que tenha feito para esse seu padrasto já fez anteriormente por dinheiro. E se não se importa com isso, então esse homem tem algo de muito mais precioso, para o senhor, nas mãos dele. Não é sua mãe, pois poderia simplesmente armar algo para separá-los. – Irene chega perto dele, assim como havia feito com ela, o deixando igualmente desconfortável. – O Senhor se rebaixou pateticamente a aparecer sem roupas para causar uma impressão e, como extra, anular qualquer dedução que eu poderia fazer ao seu respeito. Agora, não me entedie mais ainda e pense se quer mesmo mentir pra mim acabando com qualquer chance de ajudá-lo.

-E-eu...

-A resposta não precisa ser tão imediata. – Ela olhou as horas no celular. – Preciso ir. Apareça na minha casa ainda hoje a noite para me contar sua decisão.

-Espera... – Irene parou perto da porta. – Não tenho seu nome, detetive, ou endereço. Antigos assistentes cuidaram de tudo, envolve-los novamente seria muito arriscado.

-Diana poderia lhe dizer com tranquilidade, mas, de qualquer forma, o nome é Irene Holmes e o endereço é 221B Baker Street. Até mais tarde. Irmã.

Ela fez um rápido aceno de cabeça.

-Irmã?

-Não me venha com essa, Colin. O que diabos foi tudo isso? No que está querendo meter a minha irmã?

-Diana, - ele coloca os braços ao redor do pescoço dela -, eu te amo. Você é minha melhor amiga desde os meus dez anos. No entanto, nunca havia visto sua irmã de perto.

-Não tente me enrolar, Colin. Posso não ser detetive, mas te conheço. Irene deveria ter vindo mais cedo para não se encontrar comigo. Eu estarei nesse compromisso de hoje a noite e vou participar desse caso. Seja ele qual for. E presta atenção nisso, pois vou dizer apenas uma vez, se algo acontecer com minha irmã, você estará em apuros.

Diana saiu da casa e se viu surpresa com a, ainda, presença da Irene no portão. Ela mantinha os olhos fixos do outro lado da rua, porém parecia não perceber nada ao seu redor.

Com um estalar de dedos na frente do rosto dela, Irene retornou parecendo assustada, até mesmo um tanto febril.

-Você está bem? – Perguntou Diana.

-Estou cansada.

-Tem dormido?

-Pesadelos tem me impedido.

-Aqueles com o nosso pai?

-Novos. De onde conhece esse Colin?

-Ele estudou comigo desde os meus dez anos. A família dele é muito bem-quista em toda Inglaterra.

-Como não o conheço? Seu amigo e ainda trabalhou no MI6.

-Você nunca prestou qualquer atenção aos meus amigos, Irene. Sempre que tinha conhecimento de uma possível visita, você sumia. E o Colin entrou no MI6 pouco antes da sua saída. Eu estranhei bastante essa atitude dele.

-Por qual razão?

-O pai dele era um dos diretores e o queria lá dentro, entretanto a mãe possui várias empresas. Sempre tendeu mais para o trabalho de empresário, apesar de ser visto apenas como um bon vivant. Ele é inteligente, astuto, intenso. Deve tomar cuidado, Irene, esse caso deve ser perigoso e já tem coisas demais acontecendo.

-Eu sei. Também venha essa noite. Posso precisar usar o seu conhecimento a respeito desse sujeito.

Irene pegou um táxi, já Diana ainda degustava o prazer de ter alguma, por mínima que fosse, reaproximação com a irmã.

ALANY ROSE
Enviado por ALANY ROSE em 10/10/2017
Código do texto: T6138940
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