Os Segredos da Rua Baker 3: 1- The Game is On
Sete meses se passaram, Alex dominava todos os postos que antes eram do Mycroft, ela ainda o consultava constantemente, mas o Alzheimer estava avançando. Ás vezes, por alguns minutos, ele reclamava com ela como se estivesse falando com a Irene. Dizia para ela ser mais ligada a escola como Diana.
-Eu não me importo se você acha entediante, Irene, é necessário.
Em seguida retornava e dava soluções que ninguém nunca pensaria a respeito. Alex ria desses momentos, pois gostava de saber um pouco mais sobre ele e a criação de suas primas.
John já havia retirado quase todas as suas coisas da 221B, por alguma razão ainda deixou roupas lá para buscar em outra hora. Ele retornou ao seu antigo apartamento, por um tempo, pois relacionamento dele e da Miller evoluiu bastante, os dois moram juntos agora. Os desejos dela foram atendidos.
Mas e quanto aos dele?
Tem noites em que ela acorda em horários estranhos e lá está ele na sala com um olhar perdido. Sempre fala estar pensando no trabalho, principalmente quando se depara com algum caso quase impossível de resolver. Ou os que são arquivados por falta de provas. Miller sabe que nessas horas ele está pensando em como a Irene poderia ser útil. Oh até ela mesma pensa isso nesses instantes... Imagine ele.
Diana andava muito preocupada com o marido, ele estava ficando extremamente distante e apreensivo. Ela tentou contatar Irene por diversas vezes, mas nunca a encontrava. Ela não estava na 221B, não atendia ou retornava ligações e não respondia mensagens, parecia ter sumido da face da Terra. Diana tentou falar com o pai a respeito do problema do Sean, no entanto ele só dizia para terem paciência e esperarem a Irene.
-Como posso esperar pai? Eu não sei onde ela está ou quanto tempo vai demorar. Meu marido corre um sério perigo.
-Quando ela estiver pronta irá aparecer. Até lá, só resta esperar. Nada irá acontecer com o Sean por enquanto.
-Como pode ter tanta certeza?
-Porque claramente isso é o Sigerson querendo pressionar a sua irmã a aparecer.
-Ela está bem, pelo menos?
-Melhorando.
-Como sabe?
-Ela tem esse acordo com a Lilian de ligar quase diariamente.
-A mamãe sabe como ser convincente com um Holmes. Bem, eu tenho de ir. Até mais pai.
Diana seguiu seu caminho de volta a Londres.
Se alguém que viu Irene sete meses atrás a visse nesse momento, com certeza, não iria acreditar nos próprios olhos. Ela parecia outra pessoa. Ainda bebia, mas eram cada vez mais raras essas ocasiões. Morfina, cocaína, isso já não usava há uns quatro meses.
Irene estava feliz, ainda faltava ter algumas pessoas ao seu lado para ficar plenamente contente, mas se sentia bem ali com Lilian e Sherlock. Era tudo muito diferente do que lembrava já ter experimentado. Lilian era sempre gentil e cuidadosa. Parecia estar tentando fazer em pouco tempo o que lhe fora privado por tantos anos, já Sherlock vinha com as melhores conversas. Os dois passavam horas cuidando das abelhas. Uma desculpa para papearem sem serem interrompidos. Falavam sobre o Sigerson, porém não apenas sobre ele.
-Eu estou pensando em fazer o mesmo quando me aposentar. – Comentou Irene.
-Criar abelhas?
-Talvez não essa parte. – Ela sorriu. – Escrever um livro em algum lugar calmo. – Ela olha ao redor. – Você acha que o John iria gostar de morar em uma fazenda como essa?
-Pretende morar com ele quando se aposentar?
-John tem certa obsessão por mim. Acredito que morará comigo pra sempre.
-O que fez para ele não tê-la procurado ainda?
-Alicia, sobrinha dele, esteve em coma por minha causa. Ela já está bem, em casa, mas ele ainda me culpa.
-Como foi isso?
-A menina é bem esperta, lembra muito o pai. Tive uma conexão com ela, Sigerson observava tudo e eu sabia que ele iria atrás dela. A convenci a usar escutas quando a pegasse, pois seria inevitável. Mas, claro, falei para ela tentar evitar ao máximo. Só que é uma criança, não seria capaz muito. Isso foi arriscado, eu sei. Porém, Sigerson não a machucaria até o último segundo e eu evitaria isso... Não evitei. John me conhece, sabe dos meus métodos. Ele está chateado, mas vai passar.
-Por que acha isso?
-Ora, Sherlock, quando o tio Watson se afastava você sabia como trazê-lo de volta. Porque você o conhecia. Eu conheço o meu John, ele adora fragilidade. Vou mostrar a minha. Será uma cortesia do Sigerson, é claro.
-Seu John?
-Bem, pai querido, você tem o seu John e eu tenho o meu.
-Tem alguém chegando. – Disse Lilian surpreendendo os dois.
-Deve ser a Diana, vou para o quarto.
-Irene, tem certeza de que ela não deve saber de você aqui?
-Ninguém pode saber sobre mim por enquanto.
-Esse problema do Sean...
-Mãe, isso é coisa do Sigerson. Certa vez ele me disse que me atingiria através do Sean. Ele não vai fazer nada com meu cunhado... Ainda não.
-Você está brincando com a paciência dele. Talvez devesse...
-Eu estou mandando um recado: ele não irá controlar a minha vida usando nenhum de vocês. Essa é a razão de estar demorando a agir de forma mais concreta com o Sean. Sigerson tem medo de eu ter superado todos vocês. Fique tranquila, eu estou no controle.
Do seu quarto, Irene conseguiu ouvir toda a conversa. Após sua irmã voltar para Londres, ela desce com sua mochila e bolsa.
-É a hora certa? – Perguntou Sherlock.
-Alguma coisa a acrescentar?
-Contei tudo a respeito dele.
-Então, devo ir. – Ela se virou para Lilian. – Vai dá tudo certo! Não apareça em Londres e se eu disser para o Sherlock lhe tirar do país, não hesite. Promete?
-Sim. – As duas se abraçam. – Cuide-se bem.
-Você não é do tipo que gosta de ser usada, mas, acima de tudo, ele deve acreditar que lhe controla por completo. Terá de levar um tempo, mas essa tem de ser a certeza dele no final. – Disse o Sherlock. – Você me entendeu?
Ela sorriu.
-Que o jogo comece.
Irene deixou a casa dos pais em um táxi. Na porta de casa, ela deu uma rápida olhada na Rua Baker, tudo igual e diferente. Talvez não fosse a rua e sim ela quem estava igual e diferente, mas isso não tem importância. Em sua sala de estar, tudo arrumado, nem os buracos de bala permaneceram.
“Mycroft”, logo pensou, com melancolia. Irene foi para o quarto, jogou suas coisas ali e colocou, em uma interpretação muito pessoal, a sua melhor roupa. Na cozinha fez um chá, pegou a melhor louça da casa e esperou próxima a janela.
Minutos se passaram antes de ouvir a porta de entrada abrindo e fechando, passos na escada que parou ao chegar à sala.
-Olá, Sigerson. Sente-se. – Ela sorri. - Chá?