Os Segredos da Rua Baker 2: 21- Who I Really Am?
Diana contou para a Alex tudo que havia acontecido. Ela entendia o motivo da Irene estar tão abalada, pois eram muitas informações ao mesmo tempo. Juntando com o incidente do Mycroft, Irene estava ainda mais sensível, porém não justificava toda aquela fúria jogada pra cima dela.
-Você não compreende mesmo, Diana?
-O que?
-Você me disse uma frase incompleta naquele dia, também ouvi trechos de conversas do Mycroft com o Sherlock, assumi que havia algum segredo familiar em torno da Irene. Eu falei sobre minhas desconfianças e em relação ao pai e ao tio foi um ‘tudo bem isso é normal’, no entanto quando se referiu a você, Irene não pensou por um segundo que esconderia algo dela. Você acima de qualquer pessoa era inteiramente confiável e agora ninguém mais é.
***
-Eu estou esperando, Mycroft.
-Essa doença sempre apareceu em pelo menos um membro de cada geração da família Holmes. Fiz testes e descobri ser o sorteado. Isso foi há muito tempo, passei boa parte da minha vida me preparando.
-Essa era a razão de me querer seguindo os seus passos?
-Uma delas, sim.
-Por que nunca me disse?
-Que bem isso faria? Tomaria o meu trabalho para si? Você é muito emocional para esse emprego, Irene.
-Sempre tive dúvidas, entretanto esse é o dia de ter certeza. Você nunca me achou boa o bastante.
-Você é a melhor consultora investigativa...
-Por que não me contou sobre o Sherman... Sigerson? Quando eu era criança é compreensível, mas... Como pré-adolescente eu já me metia no trabalho da polícia, fui a pessoa mais jovem a entrar para o MI6, resolvi centenas de casos como consultora investigativa e ainda assim você acha que não sou capaz de lidar com o Sigerson.
-Não tem a ver com as suas habilidades e sim com as dele. Irene, você nunca foi uma garota usável; sugestionável, mas ele sempre conseguiu conduzi-la para o pior.
-O que eu fiz com a Diana? Como a machuquei?
-Você não quer saber disso.
-Eu preciso.
-Não deveria.
-Mycroft se não me contar irei arrumar um jeito de lembrar.
-Isso é para o seu próprio bem.
-Para com isso! – Ela levanta da cadeira. – Não posso obriga-lo a me contar. E não vou insistir.
-Não vá atrás dele, Irene. Prometa pra mim.
-Eu não posso.
-Perder você me destruiria.
Ela sentiu um aperto no peito, não poderia chorar ali, não na frente dele e não lágrimas reais. Ao invés disso, ela sorriu.
-As doses dos remédios devem estar altas. Mycroft, eu vou... Eu preciso de um tempo para digerir uma vida de informações.
-Quanto?
-Não faço ideia.
-Quando voltar posso não lembrar-me de você.
-Ótimo! Você não se lembrará disso. – Ela vai até ele, lhe dá um beijo e encosta seu rosto na testa do tio. – Adeus, Mycroft.
Assim que sai do quarto leva as mãos ao rosto, algumas lágrimas rolam. Ela escuta passos e as enxuga.
-Você está bem? – Perguntou Diana.
-Saia do meu caminho.
Irene segue até o quarto da Alicia, preferiu não entrar e, mais uma vez, ficou observando a menina através do vidro. John se aproximou pouco depois.
-Irene, eu te disse...
-Eu não vim para vê-lo.
John sabia; claro que sabia, ele a conhece muito bem. Irene estava ferida, nunca falaria a respeito, porém ela parecia mais sozinha e perdida do que todas as vezes que ele já a tinha visto.
-Eu ouvi sobre o Mycroft. Eu sinto muito. – Ela apenas o olha rapidamente. – Você está bem?
-E você se importa?
-Irene, eu estava abalado. Acabei falando coisas...
Ela foi em direção à saída.
-Irene...
-Você estava certo, John. – Disse ao virar-se pra ele. – Foi minha culpa. O coma da Alicia, a morte do Bernard...
-Por que está dizendo isso?
- Na verdade, todos os assassinatos cometidos pelo Morse e pelo Sherman... Oh o nome verdadeiro é Sigerson, a propósito ele é meu tio.
-O que?
-Você sempre foi gentil comigo. O único a ser inteiramente honesto. A ser meu amigo. Eu sinto muito, John. Mantenha-se longe de mim para o seu próprio bem.
Irene sai por um lado e no final do corredor Miller aparece com dois copos de café, ela entrega um para o John.
-Era a Irene?
-Sim.
-O que ela queria?
-Dizer adeus. Miller, você gostaria de ir jantar comigo sexta à noite?
Ela sorriu.
-Eu adoraria.
***
Na 221B, Irene estava tendo visões. Era como se todas essas confissões de um passado esquecido tivesse sido um gatilho para as lembranças desejarem voltar.
Irene encostada à parede com as mãos nos ouvidos tentando abafar as vozes que vinham como uma enxurrada. Ela se mantinha de olhos fechados, pois se os abrisse via pessoas que não estavam ali.
-O que está acontecendo comigo? Oh Deus! Eu vou enlouquecer.
Arrastou-se até perto da lareira onde retirou um pedaço de madeira de um canto, puxou dali de dentro uma seringa com morfina. Após injetar, ela foi até o meio da sala e deitou no tapete. Assim conseguiu desligar sua mente por algum tempo.
Ela acordou com alguém gritando o seu nome, mas ao olhar em volta não havia ninguém ali, apenas um pouco de vômito. Não conseguia precisar quantas horas haviam passado.
-O que vou fazer? -Levantou e retirou uma arma de uma gaveta na estante. – Me matar? Que bem isso faria?
Ao invés de atirar na própria cabeça, ela atirou em todo o cômodo, depois o destruiu por completo quebrando tudo ao seu redor com as próprias mãos. Estava com raiva pelas mentiras; com raiva pelo que foi abrigada a viver; com raiva por a terem deixado tentar enfrentar um inimigo que sabia mais a seu respeito do que ela mesma.
Cada traço daquela casa a fazia pensar na razão de ter ido morar ali. Motivos agora falsos... Inexistentes.
Quem ela era de verdade? O que devia fazer? Ir pra longe de Londres; pra longe de todos e viver uma vida completamente diferente? Que bem isso faria? Qual seria o efeito no Sigerson? Por que ainda deve se preocupar?
-Às vezes eu me importo. Essa é minha fraqueza.
Já Diana, em sua casa, fazia um resumo dos acontecimentos. Porém, ela percebe que seu marido não estava prestando muita atenção.
-Você está bem?
-Não. Eu não posso te explicar agora, mas preciso da ajuda da sua irmã.
-A Irene está fora de si. No momento, eu duvido conseguir convencê-la a fazer algo por você.
-Ela é minha única chance de não ser condenado à morte.
-O que?
-Eu tenho de ir a 221B.
-Eu vou com você.
Entretanto não havia ninguém lá.
-Veja o estado desse lugar, Diana. Será se aconteceu algo?
-As roupas dela desapareceram. Ela apenas decidiu sumir. – Diana foi até o marido. – Vamos pra casa, você me explica tudo e tento encontrar Irene.
No dia seguinte, em uma fazenda, Sherlock estava cuidando de suas abelhas. Ele estava quase acabando quando notou uma pessoa chegando perto.
-Irene!
-Oi, Sherlock.
-Chá?
Os dois foram sentar-se em uma mesa que ficava embaixo de uma bela árvore.
-Meu favorito. A Lilian faz um ótimo chá.
-Tem sorte dela não ter percebido. O que usou?
-Ontem morfina, hoje cocaína e álcool. Fiquei meses sem usar nada. Um acordo com o John. Só usaria quando não estivesse trabalhando.
-E onde ele está?
-Não vim falar dele.
-Você foi muito dura com Diana. Ela sabia sobre o Sigerson, mas também era apenas uma criança naquela época. E a Alex apenas estava sendo prática, como você já foi tantas vezes em tantas situações.
Ela sorriu.
-Você está ficando lento Sherlock. Não notou mesmo?
Ele pensou por um segundo.
-Você forjou a briga com a Alex.
-Eu queria as escutas da Alicia. Ela preferia que não soubessem de sua participação.
-Então não está com raiva? Era fingimento?
-Não. Apenas a parte da Alex foi fingimento. Eu estou com raiva. Com raiva de cada um dessa família.
-Por causa da mentira?
-Mentiras, às vezes, são necessárias. Eu estou com raiva de como me fizeram viver. Do que me fizeram viver. Tentaram o seu melhor, eu sei disso, porém podiam ter me contado há anos. Assim isso já teria um fim.
-Você colocaria um fim? Não é um pouco de narcisismo?
-Não. É a realidade. Eu conheço o meu potencial. Sabe, Sherlock, depois do hospital, eu fui pra casa e a destruí por inteiro. Tanta fúria; tanta confusão na minha mente. Pensei ir pra longe. Ninguém me encontraria, eu garantiria isso.
-Porém, você está aqui.
-Sigerson fez isso a todos para me isolar. Para me fazer sentir como uma infecção. Ele seria minha cura. Ir embora o faria matar cada um de vocês. Seria mais uma pessoa morta ou morrendo por minha causa. Eu não vou parar de lutar. Isso começou com o meu nascimento, portanto eu irei por um ponto final.
-Espero que não com a sua morte.
-Vai terminar de qualquer forma.
-Esse é meu medo.
-Claro, depois de todo o trabalho que teve.
-Não faça isso, Irene. Essa não é a razão da minha preocupação.
-Você não é do tipo sentimental.
-Talvez eu devesse ser ou pelo menos tentar.
-Falando de você ou de mim?
-Dos dois. Afinal de contas, qual a razão de ter vindo?
-Eu não preciso de um pai; não preciso de proteção. Eu preciso de Sherlock Holmes.
-Do que precisa?
-Saber tudo sobre o seu irmão. Eu quero saber tudo a respeito de Sigerson Sherrinford Scott Holmes.
*** Fim Da Segunda Temporada****