Os Segredos da Rua Baker 2: 20-So Many Lies
No caminho para o escritório do Mycroft, Irene mandou uma mensagem para Diana a encontrar por lá. Ela foi assustada pensando em qual seria o problema no qual ficaria parcial ou completamente excluída dessa vez. Quando entrou, Irene estava sentada na cadeira do tio, mas ele ainda não havia chegado.
-O que foi agora, Irene? - Ela levantou e a entregou a foto. – Quem te deu isso?
-O Sherlock.
-O papai? Por quê?
-Ele disse que era hora de eu saber a verdade. – Irene foi se aproximando devagar avaliando o comportamento da irmã. – O que você sabe a respeito?
-Nada. – Diana estava tentando conter um nervosismo; devolveu a foto.
-Você está mentindo.
-Eu não estou.
-Eu te chamei para te contar tudo que tem acontecido e nós duas tirarmos satisfação sobre essa foto...
-Que foto? – Perguntou Mycroft ao entrar.
-Essa. – Ela entregou-lhe. – Meus avós, minha mãe grávida da Diana, meu pai, você e quem seria esse homem comigo nos braços?
Ele foi sentar-se.
-Oh Sherlock, o que você fez?
-Levei uns segundos para reconhecê-lo. O que o Sherman faz comigo no colo?
Mycroft respirou fundo ponderando sobre as alternativas e percebeu só haver uma correta.
-Um dia o Sherlock precisou fazer uma viagem para resolver um caso. Ficou preocupado em deixa-las sozinha, então as levou para a casa dos nossos pais. Eles passavam a maior parte do tempo viajando, mas Sigerson estava sempre lá. Ele protegeria vocês.
-Sigerson?
-Seu verdadeiro nome. Sigerson Sherrinford Scott Holmes. Meu irmão mais velho, tio de vocês.
-O que?
-Algo aconteceu durante a estadia de vocês. Alguém andou mexendo com sua cabeça, Irene. Uma voz que aparecia a noite. Era o que você dizia. Essa tal voz a fez machucar Diana.
-Você está mentindo.
-Não estou e você sabe. Você consegue vê.
-Eu nunca machucaria minha irmã.
Ela começava a ficar sem ar com pequenos flashes de lembranças; conseguia ouvir fragmentos do que lhe fora dito naqueles dias. Eram apenas palavras soltas a respeito de ser forte e ter de fazer algo com urgência.
-Não, eu sei disso. – Continuou Mycroft sem perceber os sinais do retorno de partes da memória que Irene começava a demonstrar. – Mexeram com a sua cabeça. Você fez terapia por um tempo. Assim que Sherlock voltou ele percebeu, mas não me contou. Não contou para ninguém, apenas as afastou de todos. Alguns anos depois entrou no meu escritório me fazendo prometer cuidar de vocês caso algo acontecesse. E sempre mantê-las longe do Sigerson.
-E como ela sabe disso e eu não?
-Irene...
-Cala a boca Diana! Mycroft?
-Sherlock e Sigerson fizeram um acordo: ele nunca mais chegaria perto de você contanto que o Sherlock sumisse. No dia do sequestro era para ter sido só ele, porém algo deu errado e você estava junto. Seria pura encenação, mas o Morse era um psicopata criado pelo meu irmão mais velho. Sigerson plantou tanto ódio nele que não conseguiu se conter. Apenas o final foi forjado.
-O tio Watson não estava em perigo?
-Ele nem estava lá, Irene. Apenas gravou os gritos e pedidos de socorro.
-Oh meu Deus! – Ela foi perto da parede, sentia-se nauseada com tantas mentiras.
-Você...
-Continua.
-John e Sherlock saíram da Inglaterra com o juramento de nunca tentarem saber nada sobre vocês. Morse estava incontrolável, sequestrou sua mãe para vocês não terem ninguém assim como ele. Isso alegrou Sigerson, porém ele não contava com a minha promessa de cuidar de vocês. Após o sequestro você estava muito traumatizada. Não comia, dormia ou falava. Com o sequestro da sua mãe temi que se perdesse dentro de si, então contratei um especialista.
-Que tipo de especialista?
-Um psiquiatra especialista em hipnose. Ele escondeu seu trauma nas profundezas de sua mente, mas de alguma forma essas lembranças sempre a perseguiram.
-O que eu sou? – Ela o olhou indo perto da mesa. – Uma doente mental?
-Não. As emoções sempre foram seu maior problema. Sua superproteção em relação à Diana é a culpa por tê-la ferido; por ter sido abandonada pelo seu pai, - lhe vem a mente a cena dele se afastando e ela sendo levada pelos agentes do MI6, - não consegue deixar que se aproxime; pela culpa no sequestro da sua mãe, você isolou a todos e quase morreu tentando pegar o Morse.
-Eu não me sinto culpada pelo sequestro da Lilian.
-Não conscientemente. Lembra-se desse dia?
-Quando saímos da aula o seu carro e não o dela nos esperava. Nunca mais fomos pra casa.
-Não, Irene. – Diana se pronunciou. – Você não ia pra escola há semanas. Nossa mãe decidiu tentar e a levou, no intervalo alguém falou algo e você não gostou. Acabou atirando a bandeja na cara da garota. Mamãe foi chamada, como ela tinha de trabalhar e você detestava o laboratório. Ela mandou os agentes do Mycroft levarem você para comer algo e quando voltaram ela havia sumido.
Irene sente uma forte dor de cabeça, algumas lembranças voltam a aparecer, ela se segura na mesa.
-Foi minha culpa!
-Não, não foi. Você era apenas uma criança; passou por tanta coisa.
-CALA A BOCA! Você mentiu pra mim... Minha vida inteira... Eu não quero sequer ouvir a sua voz, Diana.
-Ele está mexendo com sua cabeça de novo. – Falou Mycroft.
-Não! Você mentir pra mim é... Rotineiro. Mas, minha irmã? Tudo que fiz na vida foi por ela. Porém essa sempre foi uma relação de mão única.
-O que? Não! Irene...
Irene sai de lá cambaleando pela forte dor física e mental.
-Ela não pode andar por aí sozinha. Ela não está bem. – Diana pega suas coisas e logo vai atrás da irmã.
Diana a acompanha já na calçada fora do prédio.
-Você não pode dizer isso, Irene. Eu só menti por querer te proteger. Quantas vezes você já não fez a mesma coisa comigo?
Ela parou abruptamente.
-Não se atreva a comparar. Todas as mentiras contadas por mim foram para te livrar da morte iminente. E não duraram a sua vida inteira, foram apenas alguns meses e já na idade adulta.
-Sua mente era seu inimigo, Irene. O que eu devia fazer? Só tinha medo de te perder de novo.
Antes de a Irene responder, ela notou que tinha algo estranho naquela rua.
-Pouca movimentação para o horário.
-O que?
Ao se virar para o prédio, ela vê o tio saindo e indo para o carro que já o esperava. Ela empurrou Diana fazendo-a cair a certa distância e correu gritando até lá. Irene pulou no Mycroft na hora certa, pois o carro explodiu. Eles caíram mais a frente. Irene havia ficado com o rosto e a perna machucada. Mycroft estava inconsciente.
-Mycroft! – ela tentava fazê-lo acordar sem sucesso algum – Mycroft! Tio por favor...
Alguém a tirou de perto dele; quando os paramédicos chegaram tentaram examiná-la, mas Irene não quis de forma alguma. Ela foi com ele na ambulância e não saiu de perto nem por um segundo.
Sherlock entrou com Lilian no quarto após Diana ter ligado avisando sobre o incidente. Mycroft estava dormindo, não havia tido nenhuma consequência grave, mas precisavam deixa-lo descansar por um tempo e monitorá-lo por vinte e quatro horas. Irene estava sentada na poltrona perto da cama.
Diana levantou do sofá para cumprimentar os pais. Lilian agradeceu por ter ligado.
-Como ela está? – Perguntou Sherlock.
-Com tudo que descobriu? Eu diria atordoada. Em relação ao Mycroft... Bem, Singerson tem sorte de não ter acontecido nada de grave.
-Ela comeu alguma coisa? Parece tão abatida.
-Posso ouvir vocês! E já tenho o que eu preciso mãe querida. –Ela tira um frasco do bolso e toma um gole.
-Você não deveria...
-Blá, blá, blá, blá, blá. Eu não me importo. Podem ficar quietos? Ele tem de descansar.
-Irene!
-O que?
-Não, - interrompeu Lilian -, ela está certa. Devemos ficar quietos.
Uma leve batida na porta anunciou a chegada da Alex, ela decidiu ser prática e já começar a perguntar quem poderia estar por trás do atentado. Diana tentou responder o máximo possível, apesar de não saber tanto.
-Foi o tal Sherman, Irene?
-Singerson. Nome verdadeiro, nosso tio. Se é que não sabe disso, aparentemente todos sabem a respeito menos eu.
-Oh Irene, por favor. – Reclamou Diana. – Não é hora para isso.
-Irene é melhor parar com todo esse drama pessoal, pois não tenho paciência e muito menos tempo para tamanha bobagem. Afinal, temos trabalho a fazer.
-Como é, Alex? Você sabe com quem está falando? – Ela levantou. – Eu ainda sou sua Mestre. Então cala a porra da sua boca. Não vou fazer nada até o Mycroft sair dessa bosta de hospital.
-Eu devia saber. Esse é a razão pela qual vai perder essa briga com o Sherman... Sigerson... Seja lá qual o real nome dele. Seu sentimentalismo é mais do que um desapontamento. É o motivo de terem te escondido todos esses fatos; é o motivo do Mycorft ter me escolhido como substituta dele e não uma garota patética como você. - Irene pulou na Alex a encostando na parede. – Você já sabe sobre ele, não sabe? Seu estado de saúde. Mycroft está acabado. Terá de lidar apenas comigo agora.
-Se falar sobre mim ou sobre ele mais uma vez...
-O que? Você vai me matar?
-Não me tente!
Diana vai perto das duas.
-Irene, irmã, por favor, solta a Alex. Você está nervosa, é compreensível, mas não faça nada irreversível. Por favor... Por mim.
Irene passa a fitar Diana.
-Por você? Eu não faço mais nada por você! Nunca mais.
Mycroft se mexeu na cama e Irene voltou para a poltrona. Diana nunca havia visto tamanha ira e escárnio no olhar da irmã. Ela ficou ali parada quase em choque. Lilian pediu para o Sherlock levar Alex e Diana para comerem algo.
Irene estava sentada com o rosto enfiado nas mãos.
-Oh meu doce! – Ela se agachou na frente da filha pegando em suas mãos a fazendo a encarar. – Você pode chorar sabia? Ajuda a fazer essa angustia ir embora.
-Esse não é meu estilo. E até você mentiu pra mim.
-Oh Irene! Eu realmente sinto muito por todas as mentiras. Eles pensaram estar fazendo o melhor por você e por Diana.
-Não estavam.
-Diana e Alex estão no refeitório. – Falou Sherlock ao retornar.
-Sumam daqui. Apenas desapareçam da minha frente.
-Nós vamos. Você sabe que sempre pode voltar para o seu lar.
-Se eu pelo menos tivesse um.
Já sozinhos no quarto Mycroft abre os olhos. Não que ele tivesse acabado de acordar, mas queria pular o melodrama.
-Por que não me contou?
-Já contei...
-Você sabe que não estou falando disso. Alzheimer! Sério?!