ESCLARECIMENTO XLV: A MORTE DE JUNIOR

- Mamãe o café estava muito bom, mas tenho que ir para a delegacia, sua benção.

- Mas já Cris? Você acabou de chegar, nem comeu o bolo de fubá que a Dalva ta fazendo...

- Mamãe já comi bastante, agora preciso ir...

Nisso toca o telefone, já assustado, era o Cidão que sabe que nunca chego atrasado e todos os dias antes de ir para a DP tomo café com minha mãe.

- Fala Cidão!

- Doutor! Mataram o Rocha! Sabe o Rocha, o Capitão.

- Sei, sei Cidão, como foi isto?

- Ele estava saindo de casa para levar as meninas na escola, os malacos abordaram, ele estava fardado, metralharam ele na frente da mulher e das filhas.

- Puta que o pariu Cidão! Já estou indo...

- Cris eu te proíbo de falar palavrão, isto atrai coisas ruins, é falta de...

- Mamãe, mataram o Junior!

- Quem?

- O Junior, filho do Sr Enrico, da PM, morava no quarteirão de baixo lá na vila...

- Meu Deus! Coitada da Clotilde. Morreu quando? Onde? Como?

- Na porta de casa, em frente das filhas e da Denise. Avise nossos familiares, vou pedir para a Aninha te pegar e levar na Dona Clo. Tchau mãe, tua benção.

- Deus te abençoe meu filho. Ache estes bandidos e meta eles na cadeia para sempre. Cuidado meu filho.

Sai dali com os olhos marejados enquanto minha mãe chorava. Éramos todos moleques na mesma vila, jogamos bolinha de gude, brincamos de pique e andávamos de bicicleta, tínhamos nosso time de futebol, freqüentávamos as mesmas escolas, fizemos exercito juntos, sempre juntos...

O Durval (Capitão America) e o Junior eram meus melhores amigos. Na época do homicídio, eles já eram Capitães, o Durva na Cavalaria e o Junior Capitão do Choque, crescemos todos juntos, Dona Clo era muito amiga de minha mãe, quando meu irmão morreu foi ela quem deu mais força para minha mãe e há pouco tempo atrás, na morte de meu pai, ela se fez novamente presente.

Peguei o telefone e liguei:

- E ai Durva. A que horas você vai lá pro Junior?

- Vou passar a tropa em revista e dar a ordem do dia, vou tentar manter os soldados nos-cascos, não quero mortes aleatórias e depois vou pra lá. E você?

- To indo na DP. Vou despachar com Dr. Gilberto, deixar ele no comando e depois vou pra lá. Té mais, te vejo lá.

- Té mais...

- Fala Cidão!

- Bom dia Dr.! Artur tem um na manga...

- Manda buscar na miúda, o Delega de lá é um escroto, já prepara uma se caso der merda.

- Sim senhor!

- Manda uma coroa de flores em nome dos funcionários do DP e outra no nome de minha família, mande receber aqui amanhã cedo.

Bom dia Gilberto! Hoje vou ficar fora o dia todo, você tem que ver alguma coisa comigo?

- Cris sinto muito por seu amigo. Deixe comigo qualquer coisa a gente se fala.

- Obrigado Gilberto! O Artur tem uma treta, põe o Robertinho com ele e deixe o Cleber cuidando dos casos da casa. O resto fica como esta. Obrigado.

- Ok, beleza, no sossego.

- Cidão cadê o Japa?

- Tá na casa do Rocha e quando chegar o pessoal da 35DP ele vai para o IML, sempre na surdina...

- Beleza! Tô indo para o IML.

Chegando ao IML dei de cara com o Domenico, o caçula, já Tenente, veio me abraçar.

- E ai moleque?

- Porra Cris! Que merda!

- Fica frio! Não faça nada! Entendeu?

- Ok! To preocupado com a Denise e as meninas...

- Meu irmão somos uma família, um cuidando do outro desde pequenos a exemplo de nossos pais, não se preocupe, as coisas se arranjam e nós ajudamos.

- Japa, alguma novidade?

- Negativo! Peguei algumas cascas na casa dele e vou analisar, sei que foram três armas, então no mínimo dois bandidos...

- Realmente, a Denise falou dois. Tem alguma testemunha?

- Negativo Doutor! Eu pedi para o medico liberar logo o corpo.

- O Capitão reagiu?

- Negativo! Nem tirou a arma do coldre, acho que quando viram ele fardado, meteram bala, D. Denise disse que o baixinho que vinha atrás gritava para matar ele, então o grandão atirou.

- Obrigado Japa. Durva, cê tem algum suspeito?

- Negativo Cris! Mas esta noite vai ser foda! Ele segurou a bronca de muito meganha, acho que vai ser a noite mais sombria da historia, tem muito soldado com sangue na boca.

Realmente enquanto velávamos o corpo durante a noite, houve seis chacinas com vinte e duas mortes e mais um tanto de feridos. O Artur pegou o baixinho e levou para minha fazenda, depois do enterro o grandão se entregou em um quartel da PM, se cagou, morreu alguns meses depois na cadeia em uma rebelião e o baixinho, só eu sei onde esta.

Para matar saudades e atender a pedidos.