Os Segredos da Rua Baker 2: 17- Namoro (parte I)

John desejava um encontro com Irene desde o primeiro momento em que a viu, mas depois de conhecê-la tão bem achou que isso nunca aconteceria. Não entendia o motivo de ela ter mudado ideia. Ter decidido lhe dar uma chance, na realidade ele não queria pensar nisso. Só queria aproveitar o que quer que fosse aquele momento.

Os dois sentados à mesa em um belo restaurante, John estava impecável, Irene usava uma blusa preta, a mesma calça jeans velha, botas já bem gastas e apenas havia trocado sua jaqueta por um casaco de veludo.

-Por que está me olhando assim?

-Eu nunca tinha imaginado que isso aconteceria.

-Você não queria?

-Sim, eu queria… Muito. É só que…

-Diga.

-Nunca pensei que gostasse de mim. Às vezes me perguntava se pelo menos confiava.

-Você está brincando, não é? – Ele permaneceu em silêncio. – John, eu... Eu sempre fui sozinha.

-Você tinha a Diana.

-Algumas vezes sim. Eu tenho essa necessidade de protegê-la cravada dentro de mim. Acabo a deixando fora de vários casos, então mesmo com ela, eu estou sozinha. Mas, isso sempre foi ‘tudo bem’. E realmente não me importava, porque era tudo que sempre conheci. No entanto, naquele lugar... Totalmente a mercê do Sherman, eu descobri como é se sentir sozinha. Não é bom e não quero sentir isso de novo.

Ele pegou na mão dela. Ela sabia que tinha homens do Sherman ali, não poderia fazer nada para contar a verdade ao John.

-Você nunca se sentirá assim de novo. Eu prometo.

- Quando eu fiz aquela promessa ao seu irmão e fui obrigada a tê-lo do meu lado... Bem, aprendi o que é ter alguém em quem confiar.

-O que ele fez com você?

-Eu não sei.

-Como isso pode ser possível?

-Ele usou algum composto alucinógeno. Passei esses dias apagada, ele me fez sonhar com a Diana sendo envenenada e teria de escolher entre minha própria vida e a dela. Acabei atirando na minha cabeça.

-O que? Esse homem é um monstro.

-Ainda tinha dúvidas, John? Sherman disse que queria saber até onde eu iria por ela. Tudo são testes. Ele quer saber até onde vou pelas pessoas que me cercam e até onde elas vão por mim.

-Qual o propósito disso?

-Eu não faço ideia. – Irene demonstra certo desconforto. – Ele mexeu com minha cabeça, John. Eu sei que ele mexeu. Eu posso sentir.

-Diga-me exatamente como se sente.

-Eu... – Nesse momento ela levou um susto com um flash, um homem em uma mesa no canto mais a frente havia tirado uma foto. Ele deu uma rápida olhada para ela.

-Irene?

Ela sorri.

-Nós não viemos aqui para falar dessas coisas. Viemos para um encontro, não sou especialista nisso, mas acredito que estamos no caminho errado.

-É meio difícil mudar o assunto.

-Como vai a Susan e as crianças?

-Você sabe como.

-É, tem razão.

Diana deveria estar escrevendo seu novo livro sobre venenos não detectáveis criados na guerra-fria e utilizados pelo serviço secreto nos dias atuais. No entanto, ela estava sentada por algumas horas com o notebook em sua frente, várias anotações, livros e irritantemente batendo a caneta na mesa. Sean que estava tendo uma noite de folga decidiu apenas sentar e assim algum bom filme, daqueles que sua esposa não gostava. O pobre homem não estava conseguindo se concentrar no filme por aquelas constantes batidas de caneta na mesa.

-Você está me deixando maluco. – Ele sentou ao lado dela.

-Como é?

-Fale comigo.

-Tem muita coisa errada nessa história.

-Isso é falar, mas você precisa fazer sentido.

-Você está sendo engraçado. Isso não combina com você.

-Divergimos nisso, mas tudo bem. Continue.

-Irene…

-Ah.

-O que?

-Todos os problemas na nossa vida tem a ver com a sua irmã.

-Nos aprofundaremos nessa parte de problemas na nossa vida depois. Agora me responda algo: você imagina a Irene tão fragilizada que ao ser encontrada em um cativeiro correria até o inspetor Smith, o abraçaria e dizia que sabia que ele iria encontra-la?

-Não consigo imaginar isso. Por outro lado eu consigo imaginar ela reclamando da demora e dizendo que se um de nós estivesse em um cativeiro ela teria resolvido tudo em menos tempo.

-Exatamente. Não faz sentido.

-Amor, nós não sabemos no que ela está metida. Parece bem sério. O cara conseguiu enganar a sua irmã.

-Eu sei...

-Amanhã pela manhã nós vamos lá, vemos como ela está e vocês conversam. Ok?

-Ok.

-Ótimo, agora vou vê meu filme.

Ele deu um beijo nela e retornou ao sofá. Diana decidiu tomar um chá no quarto enquanto lia algo.

O encontro da Irene e do John ia de mal a pior. Os dois calados sem saber direito sobre o que falar, apenas comiam uma macarronada. Era estranho, pois eles conversavam o tempo todo, mas ali pareciam ter esquecido todos os assuntos do mundo.

-Tudo bem, - começou Irene -, Vamos jogar.

-Jogar?

-Escolha alguém.

-Mulher na segunda mesa perto da parede.

-Por quanto tempo devo olhar?

-Quando você entra em um local costuma examinar tudo e todos. É imperceptível para quem não te conhece, então eu diria zero segundos.

Ela sorriu, tomou um gole de vinho, fechou os olhos por alguns segundo e quando os reabriu deu inicio as suas deduções.

-Mulher negra na faixa dos 35, cabelos pretos, vestido vermelho, sapatos pretos.

-Muito bem.

-Estou apenas começando, John, não me interrompa. – Ele pediu desculpas em um sussurro. – Ela é dona de uma loja de cosméticos, muito bem sucedida, está em um encontro amoroso e não de negócios, no entanto não gosta dele. Pretende continuar com isso, pois quer muito formar uma família e se acha muito velha para continuar procurando alguém. Oh!

-O que?

-Ela foi noiva uma vez, mas ele morreu.

-Como sabe disso?

-Ainda possui a marca da aliança, significa que usava até recentemente, no entanto continua com ela no colar.

-Irene, nem dá pra vê o pingente.

-O formato do colar no pescoço dela já mostra que não é algo pesado e ela o mantem dentro do vestido, pois não quer que o acompanhante o veja.

-Não tem como ter certeza.

-Vamos sair daqui. Fazer esse encontro ser divertido.

John pagou a conta, foram em direção a saída, mas pouco antes Irene derrubou algo. A mulher foi tentar ajuda e isso acabou fazendo o seu colar pular para fora mostrando o pingente que era uma aliança, ela imediatamente o colocou de volta.

-Nunca mais duvide de mim inspetor.

-Você está certa. Desculpa. – Ele respondeu enquanto a ajudava com o casaco.

Os dois deram algumas voltas por Londres indo de bar em bar sendo expulsos de todos eles. Entraram na 221B já de madrugada gargalhando sem parar, havia sido uma noite muito divertida para os dois.

-Como pudemos ser expulsos de cinco bares diferentes?

-Cinco porque no primeiro nem nos deixaram entrar. – Irene comentou sem conseguir parar de rir.

-Você é bem conhecida por ali.

-Acredito que um dia não poderei entrar em bar algum em toda Londres. – Eles foram voltando a seriedade devagar. – Bom, vou dormir.

Irene se virou para sair, por um minuto ela havia esquecido completamente que estava sendo o peão de uma armação do Sherman. John segurou em sua mão e a puxou de volta.

-Eu preciso perguntar, porque meu coração diz para apenas aproveitar, mas minha mente quer me convencer de que tem algo de errado nisso tudo, então me diga a verdade, Irene. Por que está fazendo isso? Por que agora?

Ela chega bem perto dele.

-Enquanto eu estava naquele buraco só conseguia pensar em como gosto de tê-lo em minha vida e em como não quero perder isso nunca. Eu realmente gosto de você, John Smith. Eu te amo!

John estava nas nuvens, ele a puxou e lhe deu um beijo.

Sherman observava tudo de sua casa com um sorriso nos lábios. Oh ela é boa! Pensou ele. Apesar de não gostar de vê-la nos braços de alguém, tinha de admitir o quão convincente ela conseguia ser.

Ao entrar no próprio quarto o inspetor Smith encontrou algo estranho perto de sua cama: uma pequena câmera de espionagem. O que isso poderia estar fazendo ali? Oh Irene, você sempre disse para nunca me deixar ser guiado pelo meu coração, você estava certa mais uma vez.

John entendeu que tudo não havia passado de fingimento, um plano do Sherman. Com certeza Irene estava tentando salvar a vida de alguém. De quem mais poderia ser senão de Diana?

Ele estava triste, porém decidido. Se ele tinha de fingir estar acreditando nessa mudança repentina da Irene, pelo menos ia aproveitar cada segundo.

ALANY ROSE
Enviado por ALANY ROSE em 05/08/2017
Código do texto: T6075301
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