GIL ENVEREDA À POLÍCIA - A MORTE DE GIL - 2ª PARTE

Gil envereda à política

Durante o tempo dos estudos, ele conhece gente nova, gente que carregava outros sonhos, além do futebol. Então ele começa a transitar em reuniões da juventude política, assim gravita por mais de quatro anos no meio dos brizolistas, nada com muito compromisso.

Dona Ipê gosta, pois Brizola era sua paixão primeira e verdadeira, tanto que passada mais de uma década, um migrante também da fronteira a reencontra, na fila do açougue, num domingo ensolarado, quente e abafado de outono e pergunta como estava a paixão por Brizola.

O conhecido de longa data faz um alarido, abraça-a e demostra tamanha felicidade em reencontrá-la em lugar tão distantes de suas origens. Ambos tinham migrado à cidade grande na busca de melhoria de vida. Dias depois ele encarrega-se de cientificar a vizinhança, que dona Ipê, na realidade nunca fora casada e os dois meninos eram frutos de relacionamentos passageiros. O menor, o Zeca, seria como dizem, a rapa do tacho, veio quando ela beirava os 40 anos. Enfim, logo todos souberam o que ela não quiz contar de sua vida. Grande fofoqueiro o tal conhecido.

Tão logo terminou o cientifico Gil, ao invés de prestar concurso para o banco, conforme o desejo de sua mãe, ele aceita o convite de um militante do partido brizolista para desempenhar um cargo de confiança no paço municipal, bem pertinho do banco, onde trabalhara como estagiário, por alguns anos. A grana era um pouco maior que a de estagiário, mas ele gostava da militância, de estar no meio de problemas e de pessoas.

Até então ele mostrara-se fiel a mesma sigla partidária, aliás, paixão primeira de dona Ipê e isto deixava-a feliz.

Zeca também crescera, mas não tinha as mesmas aspirações de Gil, coisa que não preocupava a própria mãe, pois estavam estabilizados e tudo era mais fácil, até porque o primogênito estava ajudando.

O tempo voava, sem que Gil notasse, pois passava o tempo entretido com tantos afazeres na solução dos problemas alheios.

Ajudar os outros era a principal tarefa dele, era o cotidiano, tanto que era rotina, fazer sem receber um único agradecimento. Então eis que um dia, depois de conseguir que a água encanada chegasse às casas de mais de 100 moradores humildes, ele é homenageado num churrasco promovido pelas pessoas que ele tanto ajudara. Claro que não foi uma festa digna de campanha política, mas era o que melhor eles puderam oferecer, costela assada, pão com alho, salada de tomate e cebola e linguiça apimentada. A bebida era cerveja, paga pelo consumidor, direto na tendinha de seu Nicanor, o organizador da homenagem. Para quem quisesse, havia q-suco a vontade.

Já passada das 14 horas, o próprio Nicanor, tomou a palavra e saudou Gil, sugerindo que ele se candidatasse a vereador, pois dali, certamente teria todos os votos.

Na segunda-feira seguinte, ele comentou o ocorrido com colegas, que não hesitaram passaram a incentivá-lo, para que concorresse no próximo pleito.

A coisa atingiu tamanha proporção que ele marcou um encontro e levou ao conhecimento do chancelador de sua gratificação. Era uma situação inusitada, pois provavelmente os votos seriam garimpados, bem no reduto da própria autoridade, desconcertado, depois da indisposição, houve a concordância, Gil seria candidato a vereador.

Dinheiro não havia, seria uma campanha no peito e na raça, mas otimismo não faltava, se fosse pelas promessas, sobrariam votos, tantos que ele até poderia arrastar mais uns dois candidatos.

No dias seguintes após o encerramento da eleição, vieram os detalhes da derrota, pouco mais de 1.000 votos e a dor maior, na urna que açambarcava os eleitores da rua onde fora homenageado, pela água encanada que ele conseguira através de sua intimidade com os meandros da coisa pública, ele obteve somente 1 voto, talvez o de seu Nicanor, aquele que havia capitaneado a homenagem.

Gil não era de perder a guerra, por questões de uma única batalha. Saiu do pleito fortalecido, maduro e experiente.

Logo reconquistou um cargo de confiança, cargo melhor remunerado, pois se os votos não o elegeram, pelo menos lhe deram mais respeito junto aos verdadeiros amigos e simpatizantes.

Assim ele tentou mais duas vezes e não conseguiu eleger-se, então já beirando os 40 anos afastou-se do diretório e partiu para uma nova empreitada, passou a brincar com fogo.

Segunda Parte - Gil envereda à política, do conto policial: A morte de Gil.

ItamarCastro
Enviado por ItamarCastro em 14/07/2017
Reeditado em 15/07/2017
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