O caso do Lobisomem.

 

 - Tudo começou com uma brincadeira, uma simples brincadeira do Cristiano, nós estávamos  bêbados doutor, foi por isso que propomos  passar a noite na mansão.

    - Mas afinal, quem foi o responsável por iniciar essa tal brincadeira me explique isso em detalhes por favor. Temos uma vítima no hospital em estado grave e com lacerações por todo o corpo. Por Deus do céu, em vinte anos de profissão eu nunca vi uma coisa dessas, e não há possibilidade nenhuma de ser um animal selvagem, a única coisa que se cria naquelas redondezas são bois, vacas e não temos onças ou qualquer outro animal perigoso naquelas bandas que possam atacar pessoas; ou as vacas criaram garras ou alguém está mentindo para mim.  Sem dizer que os seus dois amigos estão tão bêbados que não conseguem pronunciar os próprios nomes.

    - Tudo bem delegado Claus, tudo bem, eu conto como tudo aconteceu, mas por favor delegado acredite em mim, foi muito sério o que aconteceu lá, foi horrível.

    - Diga-me logo o que aconteceu! Mas fale devagar, por favor, pausadamente para que eu entenda como vocês quatro foram parar naquela mansão abandonada, e por Deus… O que de fato houve lá.

    - Naquele noite, ou melhor, ao entardecer  daquela noite havíamos marcado um churrasco com o Cristiano, lá na fazenda dele. Chamamos vários amigos, mas só veio o Ronaldo o Roberto e o Marcos, levamos cervejas vodkas vinhos e alguns pedaços de picanha e linguiça também, basicamente isso doutor. Na fazenda tem um lago enorme levamos algumas varas de pescar, mas a nossa intenção mesmo era farrear, beber e divertir. A fazenda do Cristiano é bem isolada e a casa mais próxima é justamente a mansão abandonada, eu na verdade nem tinha conhecimento dela. O Cristiano começou a contar histórias esquisitas do lugar, algo que o avô dele tinha contado para o pai dele e o pai dele contou para ele, que aquela mansão era de um antigo senhor de engenho e esse cara tinha muitos escravos na fazenda, o sujeito foi muito ruim com os escravos espancava os coitados até a morte, o homem era o diabo. Dizem ainda o próprio Satanás veio buscá-lo quando ele estava para morrer, daí por diante a casa passou a ser mal assombrada, nunca mais ninguém dormiu uma noite na mansão. O Cristiano disse que os móveis estão todos do mesmo jeito, talheres, utensílios domésticos, os quartos, tudo no mesmo lugar, as pessoas que se aventuravam a passar uma noite na casa nunca saíram, sem dizer na história do lobisomem, que segundo dizem é o verdadeiro guardião do lugar.

    - Ah tá! Agora essa de lobisomem… Tá bom… Vou fingir que acredito no senhor seu Joaquim. Essas histórias de lobisomem o meu avô me contava quando eu era criança e não passa de uma invenção popular de uma… Bo-ba-gem… Entendeu.

    - Perdoe-me doutor, mas estou lhe dizendo justamente o que aconteceu, se o senhor não  acredita é um particular do senhor, mas eu lhe juro doutor, foi o que realmente aconteceu.

    - Tá bom, tá bom. Já entendi… Fazer o que né, continue com a sua história de assombração, mas só para lhe informar seu Joaquim, eu pedi ao Andres que passasse essa noite na mansão só para me certificar de que não tenha alguém lá querendo se aproveitar da situação, se houver algum engraçadinho lá dentro pela manhã saberemos, mas se os senhores estiverem mentindo como eu imagino que estão, Ah!… vão em cana rapazes, visto que, vocês eram os únicos presentes e você Caríssimo seu Joaquim, o único a meu ver sóbrio o suficiente para falar alguma coisa coerente, agora continue por favor.

    - Tudo bem doutor. Como eu estava dizendo, o Cristiano nos desafiou a ficar uma noite na mansão, ele disse que não teríamos coragem de dormir lá, aceitamos o desafio. No primeiro momento não percebemos nada pois estávamos por demais bêbados, mas certa hora da madrugada quando a lua estava alta no céu, começamos a ouvir barulhos vindo do lado de fora, a princípio não nos importamos com o barulho, era um som parecido como o rosnar de um cachorro, por alguns instantes todos se calaram ao ouvir aquele rosnado misterioso, ninguém disse nada, não queríamos admitir que estávamos morrendo de medo. O barulho ia de uma parte a outra como se quisesse entrar na casa, ouvíamos como se estivesse arranhando a porta, de repente, alguns móveis começaram a se movimentar luzes a piscar, e do nada, algo assustador aconteceu. Uma voz assombrosa e estridente que parecia vir de todos os lados da mansão, dizendo: " Vão embora da minha casa seus malditos, vão embora ou vou matá-los e jogar suas carnes para o meu lobo."  Nesse momento ouvimos um uivo estrondoso vindo do lado de fora da casa que fez a porta estremecer, estávamos todos na sala e não tínhamos nenhum tipo de arma, nada mesmo, o mais aterrorizante foi quando aquela criatura horrível arrebentou a porta.  Era um lobo enorme de olhos vermelhos feito brasas e pelos grandes que cobriam todo o corpo inclusive o rosto, e andava de pé como uma pessoa, ele atacou o nosso colega começou a mordê-lo e arrancar pedaços de sua carne, gritamos feito loucos e saímos correndo desesperados pedindo socorro, foi nesse momento que uma viatura da polícia apareceu e nos salvou e a nosso colega também, e nos trouxe para cá, é isso doutor, eu juro que é isso que aconteceu, o lobisomem simples desapareceu quando a viatura surgiu.

    - Olha só… deixa eu te dizer uma coisa, está  tarde, e eu estou muito cansado e imagino que os senhores também estejam, agora chega de histórias de lobisomem por hoje tá bom, chega de ficar me enrolando, por hora os senhores ficaram detidos, amanhã de manhã pedirei uma equipe para investigar isso melhor, enquanto isso os senhores ficaram presos.

    Neste momento um dos policiais entrou na sala correndo, ofegante, quase não conseguia falar, sua farda estava toda ensanguentada.

    - Doutor… Doutor Claus, por favor, doutor… É urgente.

    - Meu Deus Rafael o que aconteceu com você? E esse sangue todo em sua roupa, meu Deus do céu o que aconteceu homem?

    - É o Andres doutor… é o Andres… ele acabou de retornar da tal mansão, o coitado está apavorado e não fala coisa com coisa, está todo machucando e fica repetindo o tempo todo, o lobisomem, o lobisomem, o lobisomem, ele está em estado de choque, venha ver o senhor mesmo.

    - Chame uma ambulância logo Rafael, o que você está esperando sua lesma, acompanhe o Andres ao hospital, vai, vai, vai, eu não acredito que isso está acontecendo, não comigo - O delegado colocou as mãos sobre o rosto  perplexo com o que estava acontecendo - E por favor pessoal - continuou o delegado vociferando - chega de histórias estranhas por hoje, eu não quero ouvir mais nada a respeito de lobisomem ou qualquer outra merda dessas.

    De repente, outro policial, que havia seguido o Andres, horas depois que ele saiu, adentrou na presença do delegado.

    - Rodrigo, por favor, você pode me explicar o que o senhor está fazendo aqui, a essa hora? E quem é esse sujeito, algemado e ensangüentado?

    - O seu Lobisomem doutor, o seu lobisomem.

    - Como assim, que merda é essa de Lobisomem, até você, será possível… Me explica o que diabos está acontecendo neste lugar, que parece que tá todo mundo louco.

    - Então, depois que o Andres saiu, uma hora depois eu resolvi ir até a mansão, para ver se estava tudo bem. Quando cheguei, eu vi a viatura do Andres estacionada. Até aí, tudo normal, mas, de repente, eu vi luzes se acenderem no porão, me aproximei. Então vi algo como uma fumaça subindo pelas frestas, um cheiro horrível. Fiquei observando, fogo eu sabia que não era, mas aí, ouvi os gritos do Andres, a porta estava trancada, estava cheio de fumaça no local, quando arrombei a porta, vi esse sujeito saindo sei lá por onde, correndo, fui atrás dele. Bom, para encurtar a história. Eu o capturei, esse sujeito aqui, criou um tipo de alucinógeno, uma mistura de ervas, incensos, um monte de coisas, ele ficava escondido no porão, e todas as vezes que alguém tentava entrar na casa, ou, ficar nela, ele fazia isso, o alucinógeno fez a mente dos nossos arruaceiros verem o tal lobisomem, que na verdade, nunca existiu.

    - Qual o motivo disso tudo? Porquê esse cara queria afastar as pessoas da Mansão?

    - Simples doutro, o porão servia como uma refinaria de entorpecentes. Tem todo o tipo de drogas que o senhor pensar lá. O policial Marcos foi pra lá agora mesmo, recolher tudo.

    - E o Andres? Ele está bem?

    - Sim, foi só alguns ferimentos leves causados por uma tábua com pedaços de pregos.

    - Obrigado policial, muito obrigado. Prenda o sujeito, quanto arruaceiros bêbados, deixe-os passar uma noite aqui, amanhã vejo o que faço com eles.

   -  Tudo bem doutor, acho que por hoje já foi o bastante.

   - Com certeza, depois desse estress todo, o melhor a fazer é ir embora, tomar uma bela ducha, e dormir. Até amanhã Rodrigo.

    - Até amanhã delegado Claus.

      

    

      

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 22/06/2017
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