Os Segredos da Rua Baker#2: 08- The Hooker
Irene estava ajudando Diana a terminar de pegar suas coisas para sair do hospital.
—Eu soube que o Clarck foi atacado na prisão em que aguarda julgamento. – Diana falou olhando para a irmã, tentando analisar sua reação.
—E daí? – Irene não mostrou qualquer mudança em seu rosto.
—Você tem algo a ver com isso, não tem?
—Não. –Ela continuava colocando um material de leitura na bolsa. – Por que me fez trazer tanta coisa? Nem ficou muito tempo.
—Eu precisava continuar minha pesquisa e não mude de assunto. Irene, você não deve se intrometer assim, deixe a justiça fazer o trabalho dela.
—Diana, ele irá alegar insanidade, acabará em uma instituição psiquiátrica onde apenas tomará alguns remédios e passará o resto dos dias assistindo TV. Qualquer acidente que aconteça, pode ter certeza, ele merece.
—Não o mate! Ele precisa de tratamento de verdade.
—Eu não irei mata-lo. – Irene pegou a bolsa e foi saindo.
—Ok. Isso é bom... Também não mande ninguém mata-lo. – Diana falou seguindo a irmã.
—O que acha que eu sou? Uma gangster? Eu trabalho a favor da lei.
—Você é a mestre de uma sociedade secreta.
Irene sorriu disso e acompanhou a irmã até em casa. Sean estava viajando a trabalho, ele nem fazia ideia do ocorrido com a futura esposa.
—Bem, você já está em casa. Até mais.
—Hoje à noite apareço na Baker Street.
—Por quê?
—Para terminarmos as decisões do casamento. Você estará ocupada?
—Não. Você pode ir.
Naquela noite Diana apareceu como havia dito; elas estavam no meio do planejamento quando a campainha tocou. Irene foi atender e retornou com uma mulher alta, com cabelos pretos e longos, usava roupas casuais e parecia muito nervosa. A mulher sentou na cadeira enquanto Diana e Irene foram para suas respectivas poltronas.
—Obrigada por me receberem. – Ela falava mexendo nas mãos. – Fiquei em dúvida sobre vir, pois poderiam não me querer aqui.
—Por que não iríamos querer você aqui? – Diana perguntou.
—Por ser uma prostituta.
—Por eu ser uma prostituta. – Ela e Irene falaram ao mesmo tempo. – Ouvi falar sobre como é rápida em suas deduções, Srta. Holmes.
—Oh, não temos esse tipo de preconceito. Conte-nos o que aconteceu para nos procurar.
—Seja precisa e não me entedie.
—Meu nome é Sasha, sou prostituta de rua. Uma amiga minha está no hospital após ter sido estuprada. Outras também já sofreram esse tipo de violência...
—Está com medo de ser a próxima.
—Sim.
—Já foram à polícia? – Diana a questionou.
A mulher sorriu tristemente.
—Somos prostitutas, não tenho tanta certeza se nos levariam a sério. Ganhamos dinheiro com sexo.
—Isso não dá o direito a alguém obriga-las a ter uma relação sexual. Prostitutas ou não, tem de ser um ato consensual. – Disse Diana.
—Nem todos pensam assim.
Irene suspirou com impaciência.
—O seu caso não se encaixa no tipo de perfil que costumo trabalhar, falarei com o inspetor Smith da Scotland Yard...
—Srta. Holmes, por favor, vocês são minha última alternativa.
—Duvido muito disso. Encontrar esse estuprador é basicamente fazer perguntas a suas colegas, acredito que seja algo da capacidade da Scotland Yard. Tenha uma boa noite.
—Não é tão simples assim. Elas não querem falar de forma alguma, nem mesmo para as outras evitarem esse homem.
—Se elas têm medo até mesmo de comentar entre si, então esse cara deve ser muito poderoso. – Disse Diana.
—Elementar. – Irene já estava com os olhos brilhando. – Oh isso vai ser muito divertido!
—Irene, irmã querida, amigas da nossa cliente foram estupradas. Mantenha alguns dos seus pensamentos pra si.
Ela olhou de uma para a outra.
—Perdoe-me. Continue com sua interessante narrativa. Exponha todos os fatos de seu conhecimento com o máximo de detalhes.
Sasha falou sobre o dia em que a primeira garota foi encontrada em um canto de Londres com vários ferimentos pelo corpo e em estado de choque. Por meses nada mais aconteceu, parecia um ato isolado, no entanto outra foi encontrada em situação semelhante. Após dois anos cinco garotas sofreram o mesmo tipo de violência. As mulheres apareciam cada vez mais debilitadas e traumatizadas.
Pelas leis do Reino Unido uma pessoa não poderia ser vista em uma rua mais de uma vez em três meses oferecendo os serviços sexuais, no entanto a prostituição em si é permitida. A maioria delas utilizam sites, porém nem todas começam assim.
Sasha conheceu as amigas em uma festinha na qual foi convidada e daí em diante começou a trabalhar como prostituta. Decidiu iniciar nas ruas, pois não queria que amigos acabassem encontrando-a em um site e descobrindo sua verdadeira profissão, mas como essa vida estava ficando muito perigosa; elas começaram a procurar outras formas de continuar com esse emprego.
As irmãs Holmes foram falar com a vítima que ainda se encontrava no hospital, Diana fez Irene prometer deixa-la falar e não fazer comentários inconvenientes. Diana perguntou várias coisas, porém ela não queria responder.
—Minha vez.
—Irene, ela está traumatizada. Não seja... Tão você.
—Bem, ser você não ajudou muito, não é? – Ela foi perto da cama. – Srta. Mells meu nome é...
—Eu sei quem vocês são. Sasha me falou sobre contratar detetive.
—Consultora investigativa.
—Qual a diferença?
—Não cuido de qualquer tipo de caso e quando a polícia tem dúvidas sobre o que estão lidando, eles vem até mim.
—Deve ganhar uma boa grana com tudo isso. Assistindo todo dia uma pessoa diferente com um tipo de sofrimento distinto.
—Eu não recebo nada. Faço meu trabalho pelo prazer de desvendar o enigma.
—Pensei que fosse dizer: pelo prazer de salvar vidas.
—Se eu dissesse isso estaria sendo hipócrita. Agora pare de me enrolar. Quem é o homem?
—Eu não me lembro.
—Mentira.
—Isso pode ser...
—Cala a boca, Diana, você teve a sua vez. Vamos fazer o seguinte: quero a lista dos seus clientes e local em que esteve com cada um deles na noite em que foi estuprada. Colocar o nome do estuprador é de sua escolha, mas de qualquer forma quando eu pegá-lo isso também irá beneficiar você. -Irene entregou-lhe uma caneta e um bloquinho. – Só mais uma coisa: ele pagou?
—Sim. – Ela começou a escrever.
Ao saírem Diana tinha uma dúvida.
—O fato de ele tê-la pago é sinal de arrependimento?
—Não, é sinal de achar que não fez nada de mais.
Diana ficava cada vez mais indignada com esse caso, principalmente ao começar a fase de interrogar os suspeitos. Depois de conversarem com as prostitutas que foram violentadas, as irmãs Holmes analisaram as listas feitas por elas, três dos clientes apareciam em todas.
O primeiro era dono de uma loja de bebidas, ele é um homem solitário e ficou enfurecido ao saber do ocorrido. As prostitutas eram quase as únicas pessoas em sua vida, então as considerava como amigas. Ofereceu vários tipos de ajuda para encontrarem quem fez isso.
O segundo era funcionário de um banco internacional, não era um ser agradável, porém também não sabia nada a respeito.
—Desculpem-me garotas, mas uma prostituta estuprada não é nada tão relevante assim...
—Como pode dizer isso? – Diana mostrava sua revolta. – Várias mulheres foram brutalmente forçadas a ter relações...
—Diana!
—O que?
—Chega! Esse não é o cara.
Elas saíram do escritório dele indo parar em outro, o terceiro suspeito era um homem do governo, amigo do Mycroft. Esse era ainda mais intragável. Diana nunca gostou do jeito dele e estava certa de que ele era o vilão da história. Mas Irene não pensava da mesma forma.
—Oh Mycroft não criou vocês direito. Sério? Investigar o estupro de prostitutas?
—São clientes como quaisquer outras. –Diana respondeu. – E vamos punir quem fez isso, não importa quem seja ou o cargo que tenha.
—Assim parece que pensa ter sido eu.
—Você se encontrou com todas as vítimas.
—Vítimas? – Ele começou a rir. – Mulheres que vendem o corpo por dinheiro, alguém faz sexo de um jeito mais animado...
—Pode ir parando! Elas disseram não. Elas não queriam esse tipo de sexo. A vontade delas merecia ser respeitada e não serem forçadas e espancadas.
—Isso é muito fofo da sua parte, mas esse tipo de gente... Putas. Tiveram o que procuraram. Gostam desse tipo de brincadeira; gostam de dinheiro. Algumas vezes as coisas podem sair do controle.
Diana deu um passo em direção a ele e Irene a parou.
—Diana, espere lá fora. – Disse olhando para a irmã.
—Mas Irene...
—Se continuar com isso, você pode se considerar fora desse caso. A mandarei para casa para terminar os preparativos do seu casamento.
—Você não pode...
—Saia... Agora.
Ela pegou a bolsa, foi para a sala de espera, sentou extremamente irritada.
—Ela não é prática como nós, Irene. Sua irmã não entende...
—Ela entende muito bem que você é um grande pedaço de merda.
—O que disse?
—Você me ouviu. Sei que não é o estuprador.
—Como sabe?
—Está neste cargo mais pela reputação da sua mãe do que pelas suas qualificações, tem baixo Q.I., a manga direita de um viciado em pornografia, obesidade mórbida, certa descoloração no branco dos seus olhos, anéis de gordura ao redor das córneas, além de problemas de disfunção erétil. A sua esposa manda em você e tudo que consegue fazer como vingança é sair com algumas prostitutas. É um idiota com no máximo três anos e seis meses de vida, não é um estuprador. Tenha uma boa tarde.
—Mycroft irá ouvir a respeito dessa sua visita! De suas palavras!
Irene apenas sorriu quando chegou à porta, ao sair Diana se levantou em um pulo querendo saber o motivo da polícia já não estar invadindo o local.
—Ele é um babaca, apenas isso.
—Tem certeza?
—Claro que sim. – Elas chegavam à rua.
—Irene, você realmente não se importa com as vítimas?
—Importar-me não irá ajudar a prender esse homem. Apenas irá me fazer agir de forma irracional como você tem feito.
Diana a fez parar. As duas se encaravam no meio da rua.
—Isso é tão fácil assim pra você?
—Extremamente. Porém essa minha capacidade não é novidade para você ou é?
—Não, mas ainda é bem decepcionante quando os momentos em que isso é perceptível aparecem. Mulheres foram coagidas, agredidas e esses dois últimos homens que conversamos não davam a mínima, Irene. Pior, por elas serem putas, a culpa fica nelas.
—Eu não sou uma heroína, Diana. Nunca fui e nunca serei. Não é por serem mentecaptos que sairei punindo cada um, esse não é o meu trabalho.
—Está bem, Irene... Está bem. Mas o que faremos agora? Já foram todos da lista e você disse que não foi nenhum deles.
—Deixe-me vê as listas novamente. – Diana as entregou. – Eu não havia pensado a respeito. Todas elas estiveram na cadeia de hotéis do mesmo dono.
—Sim, porém sempre com um cara diferente.
—Dei a escolha de colocarem ou não o nome do criminoso.
—Ele usava nomes falsos, por isso não se sentiram constrangidas em colocar. No entanto, ainda não é a resposta.
—Sim, irmã querida, é a resposta.
Irene fez uma pesquisa no celular, chamou um táxi e elas partiram para um hotel luxuoso do outro lado da cidade. No caminho uma ligação foi feita marcando uma reunião urgente, Irene deixou bem claro que já estava perto.
—Por que ele esperaria? Aliás, por que ele nos atenderia?
—Ele é um dos integrantes da Cúpula dos Nobres. Será obrigado a nos receber.
Poucos minutos depois, elas entram no prédio, uma assistente as esperava e logo elas foram encaminhadas a sala do Sr. McDonald. Ele é um homem alto, bonito, muito elegante e educado.
—A que devo a honra de ter as irmãs Holmes no meu humilde hotel? – Falou após cumprimenta-las.
—Estamos cuidando de uma investigação a respeito do estupro de algumas prostitutas.
—Não entendo o motivo de virem até mim.
—Não mesmo?
—Diana, mantenha-se calada de agora em diante. Sr. McDonald, os casos ocorreram em alguns dos seus hotéis.
—Srta. Holmes, se você está insinuando que fui conivente...
—Eu estou afirmando que o senhor os causou.
Ele pôs-se de pé.
—Peço que se retirem imediatamente, prefiro não ter de chamar os seguranças.
—Sente-se, Sr. McDonald.
—Escute aqui...
—Eu sou sua Mestre e estou dizendo para sentar! – Ele parecia assustado. – Muito bem, eu mesma contarei o que aconteceu. Você estava fazendo sua ronda, verificando os serviços quando viu essa garota de programa saindo de um dos quartos. Ela não poderia ser hóspede, a chamou para conversar em seu escritório. Apesar de ser uma profissão legalizada ter esse tipo de encontros no seu hotel não seria bom para a imagem do seu negócio, aproveitou que a garota era nova no ramo, jovem, estrangeira, fez vários tipos de ameaças. Vê-la tão assustada apenas estimulou o seu sadismo, tentou um acordo, entretanto viu o medo fugindo do rosto dela. Isso foi um balde de água fria, então começou a ser violento. Ela não gostou, quis ir embora, mas apenas o excitou mais. Depois de fazer com uma e nada acontecer, ficou mais fácil colher outras.
O homem estava pasmo sobre como ela sabia de cada detalhe, Irene era sua superior em uma sociedade secreta, por isso tinha de obedecê-la, porém não significava ter de se entregar.
—Muito criativa Srta. Holmes. Só não tem provas.
—E nem preciso, você irá até a Scotland Yard comigo e minha irmã. Irá confessar tudo.
—Só pode estar brincando.
—Eu pareço estar brincando? – Ela se levantou. – Vamos.
Ele foi perto delas.
—Você pode ser a Mestre da Cúpula dos Nobres. Sim, lhe devo obediência, mas não pode simplesmente acreditar em umas vagabundas e me obrigar confessar algo que não fiz.
—Não teste a minha paciência. Você sabe do que sou capaz, sabe do que fiz para tirar o Morse de lá. Tem três opções: ou vamos para a Scotland Yard agora, sem rebuliço, sem chamar a atenção da imprensa para si; ou os chamo para virem aqui, com sirenes ligadas e tudo; ou, se preferir, eu lido com você dentro da Cúpula dos Nobres. Escolha rápido.
—Eu vou com vocês.
Elas o levaram até o John, o Sr. McDonald confessou e será mantido na Scotland Yard para averiguação dos fatos. Antes de irem pra casa, Irene entrou onde ele estava sendo mantido e lhe deu um soco.
—Você está fora da Cúpula dos Nobres. - Quando Irene saiu Diana estava com um enorme sorriso. – Calada!
Irene voltou para a 221B onde continuou o planejamento do casamento. Já Diana foi para casa, enquanto preparava um café seu noivo chegou. Ela levou uma xícara para ele e os dois ficaram conversando sobre as novidades de ambos.