MATEI, MATEI, MATEI UM CASACO?
Dagoberto era um policial inexperiente, com pouco mais de um mês foi posto no trabalho noturno, o colega Anacleto, motorista do carro policial era de igual sorte.
O final do dia estava frio! Amanhecerá com chuva fina, o céu durante o dia alternou-se ora de Sol tímido, ora de nuvens acinzentadas. Depois das 22 horas nas partes baixas da cidade começara a levantar-se uma neblina escondendo tudo além da esquina, mas não chegava a ser o fog londrino.
O motorista Anacleto disse que não daria tempo, estacionou o carro policial de qualquer jeito e foi-se a macega do parque.
Talvez tenha sido o efeito do maldito xis, que havia sido puçucado, como a janta daquele dia, gritou ele. Que nada, foi a pressa pois você o devorou em seis mordidas, retrucou Dagoberto.
Naquela beira erma do parque, sob a neblina, Dagoberto sentiu-se amedrontado e de arma em punho desceu do carro e postou-se a vigiar, não tardou e começou a ouvir alguns gritos.
Companheiro, companheiro, estou ouvindo gritos e vou espiar o que está acontecendo, sussurrou ele, ao colega que aliviava-se logo adiante.
Havia o vulto de um homem tentando esgoelar alguém . Enquanto apertava o que parecia o pescoço de uma pessoa já desfalecido, ele gritava:
- Morre maldito, morre, assim você não atormentará mais ninguém!
Largue a vítima e de mãos para o alto se afaste - gritou Dagoberto.
De nada adiantou, pois o assassino estava surdo pela ira.
Vou atirar se você não parar. Nem bem fechou a boca e ouviu-se um estampido e um grito. Dagoberto, tomado de medo, não conseguiu controlar a tremedeira do dedo e a arma disparou.
Anacleto, ainda abotoando as calças e de cinto na mão, chegou correndo e apavorado. Deram-se alguns segundos e o assassino levantou-se e erguendo os braços gritou:
- Graças, ele está morto e não atormentará mais ninguém!
Providências de praxe, o assassino estava algemado e amontoado no canto do bagageiro do carro policial. No local onde dera-se o embate, jazia um sobretudo furado por uma bala. Sobretudo vitimado pelo disparo, para sorte do esgoelador. Não havia sangue, não havia ferido, não havia morto, então quem estava sendo sufocado?
Mediante o interrogatório sumário, o assassino, já não era mais assassino, talvez um desequilibrado mental.
Durante o ato inquisitório que foi submetido o preso, ele discorreu sobre a vingança que estava praticando. O dono do sobretudo trabalhava no mesmo prédio que ele, embora não houvesse relação de subordinação, o dito humilhava, assediava moralmente todo mundo, que pelo cargo exercido, as pessoas temiam qualquer levantar de olhar contra ele. Já não suportando mais ele idealizará dar um soco na cara do maldito atormentador, coisa que confidenciou com um guru conhecido seu. Conforme o dito, claro que o guru não concordou, dizendo que seria pior e então aconselhou que ele pegasse um casaco e nele simbolizasse a morte do oponente, assim o casaco representaria o vodu que libertaria ele e seus colegas. Para esquentar mais o ritual ele preferiu utilizar o sobretudo do próprio humilhador, pois este o deixava sobre as costas da poltrona, quando saia borboleteando durante o ato de atormentar as pessoas.
Estás preso em flagrante, pelo furto do sobretudo do colega! Foi a decisão de Dagoberto.
Anacleto já convicto do efeito do Xis, tomou as rédeas do ocorrido e decidiu que iram libertar o assassino e o sobretudo. Assim que o liberaram Anacleto embrenhou-se na neblina, pois a barriga estava dando sinais de necessidades.
Dagoberto estufou o peito, pôs a arma no coldre, olhou para algumas árvores centenárias, engrossou a voz e disse:
- Te mete com o Dagô que a bala pega!
- Anacleto vamos lá no xis e dar um calor no chapista. Garanto que ele colocou um laxante na janta!