DOIS CORPOS (Bressoni, investigação 4)
Os homens estavam na casa há cinco horas. A perícia finalizava os preparativos para a remoção do corpo e encaminha-lo ao instituto médico legal para analises detalhadas.
Bressoni estava cansado, mas ciente de que a descoberta daquele novo corpo trazia novos vértices para a investigação. Era um caso complicado especialmente por envolver a morte de uma criança. O rapaz já especulava que chegaria tarde em casa e por isso ligou para a esposa para avisá-la de que não o esperasse para o jantar. Talvez todos os homens passassem por isso em algum momento de suas carreiras, mas isso não o redimia da culpa e frustração por perceber o quanto o seu trabalho se sobrepunha a sua vida pessoal.
Quando guardava o celular no bolso percebeu a presença do delegado atrás dele. O homem não disfarçou ter ouvido a parte final da conversa, perguntou:
_ Problemas em casa Lugui?
_ Não. Quer dizer, sim. Já nem sei. É esse trabalho. Marcela não me cobra nada por entender esse nosso trabalho, mas me sinto mal por não estar mais disponível nesse momento delicado. Ela se faz de forte, mas sei o quanto essa questão do câncer de mama a deixou abalada. Marcela é do tipo de mulher que acredita que vulnerabilidade é sinônimo de fraqueza. Só queria ter mais tempo com a família...
O delegado Otaviano Guerra não disse nada. Colocou sua pesada mão nos ombros do rapaz lhe dando o seu apoio cúmplice, depois tirou um bombom do bolso e ofereceu ao investigador. Era um gesto simbólico, chocolates eram para o delegado um antidoto contra o estresse. Ficaram alguns minutos em silencio até que Guerra fez as perguntas que o atraia até ali:
_Você acha que foi mesmo ela?
Luiz Guilherme sabia que o delegado se referia ao caso e também que o homem seria mais pressionado pela impressa assim que a informação sobre a morte da mulher vazasse. Ele queria um desfecho rápido para a investigação, sabendo que os jornais acompanhariam o caso até esgota-lo. Crimes envolvendo pais e filhos sensibilizam a população e essa comoção vende jornal e dá ibope na televisão. Por ética os repórteres ainda não sabiam a identidade do garoto, mas logo interligariam os dois crimes. O jovem policial deu um suspiro compassivo e respondeu:
_Não. Infelizmente não acredito que tenha sido ela que mandou matar o filho e depois feito isso.
Guerra assentiu:
_Também acho que não. Mas então quem foi?
Bressoni ainda não tinha essa resposta. Em vez de especular possibilidades ficou em silencio repassando mentalmente as informações que tinha.
Na quarta-feira a tarde caseiros de um sitio denunciaram um sedan prata que segundo eles estava abandonado na estrada que leva até as parreiras de uva desde terça-feira pela manhã ou segunda-feira a noite, não sabiam especificar. Consultada a placa os policiais descobriram o registro do roubo do automóvel na cidade vizinha na noite de domingo. Segundo o dono, o carro foi estacionado em frente a igreja, mas ao final da missa percebeu o roubo e imediatamente procurou a delegacia para registrar um boletim de ocorrência. O caso tornou-se uma investigação da Homicídios quando os policiais encontraram o corpo de um garoto de 09 anos no porta malas. Ele trajava uniforme escolar, tinha as mãos presas por tiras plásticas, dessas usadas para prender fios, e na cabeça um saco plástico denunciava a causa da morte: asfixia. A partir disso Bressoni assumiu a investigação. No carro a única identificação encontrada foi uma impressão digital do dono do veiculo, mas ele nada sabia sobre a vitima. Quanto ao menino também nenhuma identificação, exceto o uniforme escolar e estranhamente nenhum dos pais informou o desaparecimento do filho. A pericia estipulou o horário da morte entre 18h00 e 20h30 da segunda feira, portanto quanto descoberto o menino estava desaparecido a aproximadamente 42 horas. A investigação os levou até a escola e após confrontar a lista de presença e a foto na ficha de matricula descobriram que o menino se chamava Plínio Jose e morava a cerca de 20 minutos da escola. Quando os policiais foram até a casa descobriram o corpo da mãe pendurado numa das vigas da sala e no quarto uma carta suicida na qual ela confessava ter pagado alguém para matar o próprio filho como forma de vingança contra o ex-marido para que ele sofresse por tê-los abandonado e ainda ela se dizia arrependida e por esse motivo se enforcou.
_E então?! O que tem a dizer? – questionou Guerra sabendo que seu subordinado quando ficava em silencio estava analisando as possibilidades.
_Você reparou que em nenhum local da casa encontramos escadas?
_ Sim e isso significa...
_ Você sabe. A sala tem um pé direito de pelo menos 4,5 metros e se contarmos das vigas até o chão dá pra calcular ao menos 3 metros. Pra amarrar uma corda naquele ponto onde o corpo foi encontrado a mulher precisaria ter uma escada. Nem mesmo uma cadeira ou banqueta foi encontrada debaixo do corpo, então como ela conseguiu amarrar a corda? E como passou o pescoço pelo laço? Se o nosso pessoal preservou a cena do crime conforme acredito não teria como ela alcançar a corda sem ter um suporte abaixo dela, correto?
_Você imagina que alguém tirou a cadeira do local ou que o assassino tenha levado?
_É uma possibilidade, mas não é só isso tem também a questão da carta.
Guerra nada disse e esperou o investigador concluír seu raciocínio.
_Essa mulher, dona Lucélia, usa o relógio de pulso no braço direito, portanto imagino que seja canhota. Não é um padrão, mas alguns canhotos assim como nós usam o relógio no braço contrário ao que é usado para escrever devido ao peso da pulseira ou pra não atrapalhar em outras atividades. Nesse caso porque na escrivaninha a caneta tinteiro estava posicionada a direita da carta e não no lado esquerdo como seria o natural? Presume-se que foi usada aquela caneta já que era a única na escrivaninha e se de fato foi porque no papel não há manchas de tinta? É relativamente difícil para um canhoto escrever com esse tipo de caneta sem deixar manchas no papel, pois quando escrevem eles “entram na folha” em vez de sair como fazem os destros. Quase necessariamente o punho de quem escreve passa por cima das próprias letras provocando manchas na lateral da mão e no papel, mas o papel da carta está limpo e a mão dela também, eu verifiquei. Levando em conta ainda que ela devia estar nervosa quando escreveu já que se confessou arrependida por mandar matar o filho...
_ Lugui você acha que a carta suicida foi forjada? Que alguém implantou ela ali?
_Guerra, estou levantando hipóteses. É difícil dizer, mas também achei estranho que em nenhum outro lugar daquela escrivaninha ou do quarto encontramos alguma anotação manuscrita para que pudéssemos comparar a letra. Claro que não sou um grafólogo e sei que apenas um especialista poderá afirmar se a letra era mesmo de Lucélia ou em qual estado emocional a carta foi escrita.
_Verdade. Mas então o que devo dizer a impressa?
_ Nada por enquanto. Vamos aguardar. Diga que tudo corre sob sigilo pra não atrapalhar as investigações.
_Sim, claro. Pensei nisso. Mas você sabe que esses repórteres-morcego não sairão do meu pé até darmos alguma informação. Eles querem saber e temos provavelmente dois crimes conectados, sendo em um deles a vitima uma criança.
_ Eu sei. Mas tem mais uma coisa. Preciso rastrear o celular da vitima. Ele não foi encontrado e como a equipe já está finalizando acredito que não o encontrarão. Todo mundo hoje em dia tem um celular e é estranho não termos encontrado, desconfio que sendo um assassinato o homicida pode tê-lo levado para evitar que entrassem em contato com dona Lucélia. Depois devo conversar com o pai do garoto. Ele precisa ser informado dessa tragédia envolvendo o filho e a ex-mulher.
_ Compreendo, mas vai pra casa. Por aqui já terminamos. Amanhã você continua. Eu mando uma equipe rastrear o aparelho e avisar o homem.
Lugui agradeceu o delegado e se despediu deixando claro que queria fazer o comunicado da morte pessoalmente na manhã seguinte. De qualquer forma o corpo demoraria pelo menos até a manhã seguinte para ser liberado para as cerimonias fúnebres. O investigador intuía poder descobrir com o ex-marido alguma informação para solucionar o mistério.
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A noite foi longa na casa do investigador e embora tentasse disfarçar Marcela sabia que o marido não parava de pensar na investigação. Duas perguntas martelavam na mente de Bressoni: Quem faria mal a uma criança e possivelmente também a sua mãe? E por quê? A esposa por conhecê-lo bem respeitava seus silêncios, enquanto ele pensava de modo distraindo afagando a espessa barba. Por fim Bressoni chegava a uma conclusão sobre o próprio casamento: sua culpa não era somente pelo pouco tempo dedicado a esposa, mas principalmente pela qualidade desse tempo.
Pela manhã, depois de fazer sua meditação e corrida matinal dirigiu-se para a casa do pai do menino. Precisavam conversar e Bressoni sabia que se deixasse para mais tarde possivelmente o homem sairia para o trabalho.
Logo que estacionou em frente à residência seu celular tocou. Viu no visor o numero de Guerra, atendeu:
_Bressoni.
_Lugui, sou eu. Onde você está?
_Na casa do pai do menino.
_Você já falou com ele?
_Não. Na verdade acabo de chegar.
_Que bom. Tenho algo pra você. Fiz o pessoal de legistas trabalhar a noite toda examinando o corpo da mulher e chegaram num resultado: não foi mesmo suicídio. Através de exames concluíram que o corpo foi estrangulado e só depois pendurado na corda. Determinaram o horário da morte entre 20h00 e 21h30 também da segunda-feira, ou seja, se ambos assassinatos foram cometidos pela mesma pessoa podemos pressupor que mataram primeiro o menino e em seguida a mãe, por isso não houve denuncia do desaparecimento da criança.
_E quanto ao celular? – perguntou o investigador.
_Parece que foi desligado e a bateria removida, a triangulação indica que o ultimo local foi no bairro Jardim Império.
_Bom saber. Esse bairro é justamente onde estou.
_Lugui, se é assim pode ser que o pai do garoto esteja envolvido.
_Sim, pensei o mesmo. É o que pretendo descobrir. Guerra, obrigado. E me mantenha informado.
Desligou.
Quando o policial se aproximou do portão uma mulher jovem e gravida saiu até a varanda. Era loira e parecia ter pouco mais de 20 anos.
_Bom dia – ela disse.
_Bom dia. Aqui é a casa de Venâncio Dutra? Sou da policia. Preciso conversar com ele.
_Ele é meu marido. Meu nome é Alice. Pode entrar, por favor.
Bressoni atravessou o pequeno quintal e entrou na casa. A mulher se adiantou para dentro dos cômodos chamando o marido para recebê-lo. O rapaz, na sala, observou dezenas de quadros semelhantes nas paredes. Pareciam pertencer a uma serie.
Alice de volta a sala interpretou o olhar curioso do homem e perguntou:
_Acha bonito?
_Os quadros? Sim. Você quem pintou?
_Sim, eu pintava antes da gravidez. Agora acho que o cheiro de tinta pode fazer mal para o pequeno Ítalo, falou afagando a barriga num gesto carinhoso. Essa série eu chamo de perspectiva, são vistas aéreas de algumas regiões da cidade a partir de postes de telefonia. Meu pai fotografa pra mim, ele trabalha pra companhia telefônica. As fotos eu reproduzo nas telas. Ele sempre me disse que tudo na vida é questão de perspectiva, mudar o olhar as vezes ajuda até a resolver os problemas. Bressoni assentiu com a cabeça. A mulher parecia a vontade mesmo tendo um investigador na sua sala. Era um comportamento incomum, pois mesmo pessoas inocentes tendem a ficar nervosas na presença de uma autoridade policial por simplesmente não saberem como agir e achar que estarão sendo observadas.
_Seu pai parece ser um homem pratico - falou apenas para interromper o silencio.
_Acho que sim. Eu sinto que já te vi antes. Talvez dos jornais. Acho que do caso dá estudante encontrada nos trilhos do trem?*
Luiz Guilherme assentiu novamente e observou que a jovem era uma boa fisionomista, lembrando-se do caso investigado a cerca de um mês e que depois teve boa cobertura da imprensa por envolver uma das faculdades mais conhecidas da cidade.
Um homem alto, forte e barbudo entrou no cômodo interrompendo a conversa. Era nítida a diferença de idade, o homem certamente tinha mais de 40 anos. Bressoni se apresentou:
_Senhor Venâncio. Sou Luiz Guilherme Bressoni, investigador de homicídios.
O homem não demonstrou qualquer reação por ter um investigador na sua sala. Apertou a mão do rapaz. Bressoni continuou:
_Não há maneira fácil de dizer isso, portanto vou direto ao assunto. Estou aqui porque os corpos de sua ex-mulher e do seu filho foram encontrados sem vida.
Diante do choque da noticia o homem fraquejou e foi amparado pela esposa quando estava prestes a desmoronar. Bressoni interpretou a reação como genuína. O anfitrião sentou-se numa poltrona, chorou por longos minutos. Bressoni, constrangido por ser portador das trágicas noticias aguardou o homem se recompor. Alice manteve-se inabalável junto ao esposo. Ela iniciou:
_Então Lucélia fez mesmo isso? Ela cumpriu o que prometeu.
Lugui fez uma anotação mental daquilo. Antes que pudesse perguntar o que exatamente a jovem queria dizer o homem se adiantou e começou a falar:
_Minha ex-mulher sempre me ameaçou com esse tipo de coisa. Jamais acreditei que ela tivesse coragem pra tanto. Achei que era conversa de bêbada. Ela nunca aceitou o fim do casamento, quando eu a deixei pra ficar com Alice. Ela era alcoólatra. Tentei por muito tempo manter nosso casamento, também por causa de Plínio, meu filho. Com o tempo desisti – o homem confessou entre fungadas, mistura de culpa, revolta e inconformismo.
Bressoni perguntou:
_Então o senhor não tem duvidas de que ela realmente se matou?
Venâncio pareceu meio perdido, declarou:
_Mas não é o senhor mesmo que diz que ela se matou? Não tenho razões para pensar o contrario.
Bressoni atentou-se ao fato de que ainda não tinha dito nada sobre o suposto suicídio e assassinato. Será que realmente a mulher tinha esses planos a ponto do ex-marido não pensar em outras possibilidades?
_Como foi que isso aconteceu?
_De fato sua ex-mulher deixou uma carta confessando ter encomendado a morte do filho e em seguida dizendo-se arrependida provocou o suicídio. Ocorreu na segunda-feira, porém os corpos só foram encontrados recentemente.
_Oh, meu Deus! – o homem parecia incrédulo com a dura realidade. Voltou a chorar, meio envergonhado. Parecia um sujeito bruto desses que são educados com a crença de que homens não choram
O investigador ia explicar parte das evidencias contrarias ao suicídio, mas foi interrompido antes de formular qualquer frase:
_ O senhor policial pode deixar suas perguntas pra outra hora? Não vê o estado do meu marido? Ele acabou de saber que o filho morreu. Espero que possa entender isso e respeitar a nossa dor – desabafou Alice que se mantinha inabalável e protetora do marido fragilizado.
_Claro, eu entendo. Ainda assim tenho questões importantes a tratar, queiram perdoar-me. Só faço o meu trabalho.
_Certamente seu trabalho não inclui prestar condolências e empatia a um pai enlutado, eu suponho?
_Lamento, muito. Mas preciso dizer que há evidencias indicando que pode não ter sido um suicídio o de sua ex-mulher.
_Como assim? O que quer dizer? – interessou-se Venâncio, tentando segurar as lagrimas.
_ Assassinato – respondeu Bressoni sem rodeios.
_Não pode ser. Lucélia não tinha inimigos. É como eu disse ela era só uma alcoólatra que prejudicava a si mesma com o vicio. Ela era incapaz de fazer mal a outras pessoas.
Bressoni anotou a discrepância daquela fala já que ainda pairava sobre a mulher a suspeita por encomendar o assassinato do filho.
_Quando foi a ultima vez que viu sua esposa, senhor Venâncio?
_ No sábado fui a casa dela buscar meu filho. Ele passa os finais de semana comigo. Espere! Você não está pensando que eu...
_Como se atreve a dizer uma coisa dessas para o meu marido?!– interveio Alice, indignada _Ele jamais faria mal ao próprio filho! – Querido, não responda mais nada. Tenho certeza de que o senhor Bressoni já está de saída. Ele não pode vir aqui na nossa casa fazer esse tipo de insinuação.
O rapaz não se intimidou:
_Tenho informação de que a ultima localização do celular da sua ex-mulher foi aqui nesse bairro às 22 horas de segunda-feira.
O homem pareceu processar a informação. Depois quase que falando para si mesmo comentou:
_Alice, seu pai esteve aqui na segunda feira à noite! O que ele queria?
A jovem gravida, tentando conter a irritação despistou:
_Não foi na segunda, amor. Foi na terça.
_Não! Espere. Eu me lembro. Estava no intervalo do filme quando fui atender a porta. Foi na segunda. Ele nem quis entrar, pediu pra eu chama-la. Na hora não estranhei mesmo porque não nos relacionamos bem. O que seu pai queria com você na segunda-feira?
Bressoni percebeu a tensão no casal. De modo cuidadoso revelou que poderia trazer uma ordem judicial e revirar a casa em busca do celular. Era um blefe, as evidencias eram circunstanciais. Nenhum juiz assinaria a ordem baseado num mero palpite.
_Eu não tenho nada a ver com o rapto do garoto – gritou Alice de modo descontrolado.
O policial pegou a deixa. Ele ainda não tinha revelado para o casal nada relacionado às condições em que o menino foi encontrado. Só tinha dito da carta na qual Lucélia supostamente confessava ter encomendado a morte do filho. Como Alice previu que o menino não foi encontrado morto em casa junto com a mãe?
_Como sabe que o corpo dele não estava junto ao da mãe?
_ Você falou.
_Não. Eu não falei.
Venâncio observava o embate entre sua jovem esposa e o investigador. Interrogou:
_Alice! Você tem alguma coisa a ver com a morte de meu filho?
_NÃO! Claro que não! Eu só deduzi que o menino não estava com a mãe. O policial falou, demorou pra encontrar os corpos.
O marido pressionou novamente:
_O que seu pai veio fazer aqui na segunda-feira à noite?
A jovem estava desestabilizada. Entendeu que estava presa numa armadilha e as suspeitas de repente recaiam sobre ela e o pai.
_Me deixa em paz! Começou a chorar. Depois de alguns minutos talvez já antevendo uma pena mais branda iniciou a confissão:
_A ideia foi de meu pai. Ele me persuadiu. Eu reclamava com ele por achar que Lucélia nunca nos deixaria em paz. Ela já tinha vindo até aqui bêbada algumas vezes me acusar de ter roubado o marido dela. Ela usava o filho pra se manter presente na vida de Venâncio. Fazia ameaças e também ao meu bebê. Meu pai garantiu que seria melhor se ela desaparecesse com o filho e além do mais Venâncio não teria que pagar pensão para Plínio José, portanto sobraria mais dinheiro para cuidar da nova família. Ele se aproveitou da vulnerabilidade do meu estado de gravidez para me convencer de que enquanto eu não me livrasse do menino nunca teria paz no meu casamento porque Lucélia sempre arrumaria um jeito de se intrometer. Ela tinha ciúmes e inveja por eu estar gravida e ser jovem. Nunca se responsabilizou pelo fracasso do casamento. Pra ela é mais fácil acusar a mim do que colocar a culpa em sua fraqueza e no próprio vicio.
Venâncio que ouvia tudo chocado reagiu avançando sobre a esposa:
_Sua desgraçada! Vocês mataram o meu filho! Vocês mataram o meu filho! – o homem gritava desiludido e exasperado enquanto tentava agredir a mulher. Bressoni teve certa dificuldade para controlar os ânimos do homem. Era tão alto quanto ele, porém mais encorpado. Mesmo assim conseguiu e deu ordem de prisão para a jovem gravida. Na sequencia passou um rádio pedindo que localizassem o pai dela e também o prendessem.
Mais tarde, na delegacia, ficou comprovado através do interrogatório que a letra da carta suicida era de Alice e foi escrita premeditadamente e que seu pai após ter roubado o carro e matado o menino dirigiu até a casa com o carro da empresa e surpreendeu Lucélia saindo para procurar o filho que ainda não tinha retornado da escola. Depois de estrangula-la com um lençol usou a escada de serviço da companhia telefônica para pendurar o corpo na corda.
Era um final triste para a família. O investigador refletia que nunca se sabe totalmente do que são capazes as pessoas do nosso convívio mais intimo. Por isso é tão necessário investir nas relações, dedicando tempo e qualidade. Lamentava por Venâncio ter confiado seu amor a alguém egoísta e maquiavélica como Alice e também pelo bebe que nasceria nos próximos meses e infelizmente dentro da prisão.
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Agradeço a leitura e os comentários. Gostou. Compartilhe. Convido ainda a ler meus outros textos, em especial os contos policiais da série Bressoni:
"PARTES QUE MATAM",
*"A GAROTA DOS TRILHOS"
"O CASO DO SUICIDA FELIZ"
Obrigado. Abraços!!!