Os Segredos da Rua Baker#2: 2 - A Outra Garota Holmes
Quando Alex adentrou ao escritório de Mycroft Holmes, encontrou duas figuras conhecidas. Diana e Irene estavam sentadas diante do homem muitas vezes retratado como o próprio governo britânico, só ali ela descobriu se tratar das sobrinhas dele. Além de já ter ouvido sobre as duas, a reputação de Irene e Diana Holmes era crescente, estavam quase chegando ao nível do pai.
—O que ela faz aqui? – Irene pergunta em um tom nada amigável.
—Deveria tê-las apresentado antes, mas andei ocupado. Essa é Alex Meankovitch. Ela veio até a mim com um pedido de ajuda e creio que esse é o seu tipo de quebra-cabeças, sobrinha querida.
—O que? Uma mulher do governo francês com a mãe perdida é meu tipo de quebra-cabeças? Oh você está perdendo seu toque Mycroft.
Diana olha com estranheza para a irmã.
—Você estava obcecada por esse caso e agora vai negá-lo?
—Eu não estava obcecada.
—Tio, ela não comia ou dormia, andava pela casa o tempo todo esperando que aparecesse um novo corpo pra ela sair correndo e analisar.
Mycroft sorri.
—Cala a boca Diana. Você está me saindo uma ótima fofoqueira, devia trabalhar em um salão de beleza ao invés de um laboratório.
—Eu não sou fofoqueira, estava apenas dizendo a verdade.
—Você é fofoqueira!
—Não sou!
—É sim!
Elas continuaram com essa briga infantil, até a Alex dizer:
—Pensei que fossem mais racionais.
—Nem sempre. – Diz Mycroft.
As duas se calam, mas ambas ficam emburradas sem conseguir encarar uma a outra.
—A mãe da Alex... – Começa Mycroft. – Foi retirada de dentro de casa, não houve arrombamento ou qualquer tipo de violência.
Alex toma a palavra, ela dá detalhes de tudo que fez até chegar ali. Apesar de a Irene estar prestando atenção, nesse momento ela começa a olhar da prima para o tio. Fica nessa mudança, olhando de um para o outro até se fixar no Mycroft e então mudar seu semblante para pura raiva.
Diana reparou que o tio se mostrou totalmente desconfortável repentinamente e quando se virou para a Irene viu certa irritação nela, não estava entendo nada do que acontecia entre os dois, mas sabia que vinha confusão por aí.
—Eu não vou cuidar de um caso tão ridículo quanto esse. – Irene fala interrompendo a conclusão de pensamento da Alex.
—Por que diz isso? – Alex fala com calma.
—A solução é extremamente óbvia, clara como a luz do dia. Pensei que alguém do governo, mesmo sendo do francês, seria esperta o suficiente para perceber, mas são realmente todos burros.
—Irene! – Diana repreende a irmã.
—Se é tudo tão simples assim, apenas me diga onde está minha mãe.
Ela sorri.
—Não.
—E por que não?
—Já disse, é um caso ridículo. Escolho trabalhos que tendem a me desafiar, esse não é um deles. Se me dão...
—Não! – Alex diz colocando a mão na mesa. – Não daremos licença. Minha mãe está desaparecida, em perigo e pode estar morta nesse momento.
—Eu não me importo!
—Mycroft por alguma razão acha que você pode nos ajudar, mas vejo que ele está enganado, afinal não passa de uma garota drogada.
—Eu não estou drogada.
—Não agora. - Alex fala com um risinho. - Mas no dia que nos conhecemos você estava.
—Eu não estava. - Irene olha meio sem jeito e rapidamente para Diana.
—Pupilas dilatadas, mãos tremendo... Fiquei incrivelmente admirada com sua capacidade de esconder esses sintomas. Ninguém conseguia notar, bom, ninguém exceto eu. Você parecia mais concentrada nisso do que no próprio caso.
—Você está certa.
—Oh Irene! - Exclamou Diana.
—Mas, - ela levantou olhando para Alex. - Se quer mesmo entrar nesse jogo, saiba que eu sou a melhor.
—Oh é mesmo?
—Oh pelo amor de Deus! - Exclama Mycroft.
—Você diz que veio pedir ajuda do Mycroft para poder reencontrar sua mãe desaparecida, porém tem todo o serviço secreto da França a sua disposição e não venha me falar das pistas terem te trazido até aqui. Notavelmente tem outras alianças nesse país que a ajudariam sem titubear... - ela sorri. - Titubear, eu sempre achei essa palavra engraçada.
—Irene...
—Sim, claro. Você nasceu na Sérvia onde sua mãe trabalhava como prostituta, com seu nascimento ela fugiu para França na tentativa de se livrar desse tipo de vida, mas essa vida a perseguiu ou será que ela apenas não resistiu a continuar frequentando a cama dos poderosos?
—Irene, para com isso! - Diz Diana já se pondo de pé.
—Oh sua garota idiota. - Alex diz demonstrando toda sua fúria, já com lágrimas quase rolando, mas sem perder a pose.
—Você poderia resgatá-la da forma que vem tentando fazer desde o desaparecimento e até que tem ido bem, apesar de sempre se perder no óbvio. Agora o real motivo de estar aqui é uma simples curiosidade infantil. Queria descobrir como é o seu pai.
Irene se vira para o Mycroft.
—Eu vou acabar com você! - Diz Alex já retomando seu controle.
—Oh eu realmente irei adorar vê-la tentar! - Irene encara a prima.
—Chega! - Mycroft grita. - Ninguém vai acabar com ninguém aqui. Diana e Alex deem licença eu preciso conversar com minha sobrinha. - Elas saem. - Sente Irene.
—Estou muito bem aqui, obrigada.
—Sente! Não me faça perder ainda mais a paciência.
—Você me surpreende Mycroft. - Diz ela ao sentar. – Não sabia que o seu lado paternal era tão aflorado. A filha bastarda aparece, faz um sinal e você corre para socorrer.
—Está com ciúmes, sobrinha querida?
—Não seja ridículo!
—Bem, você quem começou. Agora, você irá pegar esse caso e encontrar a mãe dela.
—E por que eu faria isso?
—Ashville.
Irene fica séria.
—Não conseguiu me manter lá antes, qual a razão de pensar que agora conseguirá?
—Reforçarei a segurança.
—Quantas vezes?! Eu não sou uma viciada para ser internada em uma clínica, Mycroft. – Ele demonstra toda sua incredulidade. – Eu apenas estava entediada. Não havia nenhum caso, você sabe como toda essa inatividade me atinge.
—Tal pai, tal filha, eu diria. O mesmo problema que tinha com ele, agora eu tenho com você. Por que simplesmente não admite sua dependência?
—E por que simplesmente não me contou que tem uma filha?
—Oh isso! Quando fui buscar o Sherlock após passar dois anos se fingindo de morto, tive de trabalhar disfarçado, foi um verdadeiro show de horror. Certa noite teve uma festa regada a bebida e mulheres, não poderia comprometer minha identidade, então tive de participar. Só soube verdadeiramente da Alex quando entrou no meu escritório, poucos dias depois do natal.
—E agora a mantém perto. Querendo compensar os anos afastados?
—Eu tenho meus motivos e nenhum deles diz respeito a você. Agora vá resolver a droga do caso!
Enquanto toda essa áspera conversa ocorria, uma amizade se iniciava. Diana e Alex não tinham muito em comum além do fato de serem da família Holmes. Alex estava indignada com as palavras da Irene e não deixou de mostrar toda sua raiva sem se importar com a presença da irmã dela ali na sua frente.
—Aquela garota idiota! –Diz ao caminhar pela sala. – Já tinha ouvido falar da sua incrível arrogância, mas nunca havia imagino que seria preconceituosa como todos os outros.
—Você está errada sabia? – Diana fala calmamente sentada em um sofá.
—O que?
—Minha irmã pode ser muitas coisas, mas preconceituosa não é uma delas.
—Então você está iludida pelo patético sentimento familiar.
—Eu amo minha irmã e não tenho nenhum problema em dizer, porém isso não a faz estar certa. A Irene nem imagina a razão de você ficar zangada com o antigo trabalho da sua mãe, ela apenas sabia que isso te irritaria, quando percebeu ter conseguido o objetivo, ficou satisfeita.
—Essa é uma teoria interessante. – Alex fala com o jeito irônico.
—Alex, minha irmã não vê diferença entre um mendigo ou a rainha da Inglaterra, pra falar a verdade, eu tenho certeza que ela nem sabe que temos uma rainha.
—Você está falando sério?
—Sim, acredite em mim, a Irene não estava com raiva por você tem invadido o caso dela ou tê-la expulsado das cenas de crime. – Diana sorri. – Ela achou tudo muito interessante.
—Por que me tratou daquele jeito?
Diana levanta e vai até a prima.
—Ela estava irada pelo fato do Mycroft ter uma filha e ter escondido isso dela.
—Eles são tão próximos assim?
—Sim. – Diana a conduz até o sofá. – Do jeito deles, mas sim. Nós também crescemos sem o nosso pai, o tio Mycroft foi a única referência paterna que tivemos por anos.
—Hmm. Eu li a respeito.
—Nosso pai fingiu estar morto para nos proteger, quando reapareceu o homem que acabou com nossa família estava de volta e a Irene afastou a todos para lidar sozinha com ele. Em resumo: o bandido está morto e temos nossos pais de volta.
—É a mesma coisa?
—Como assim?
—Você conseguiu reavivar a relação com os seus pais?
Antes que ela pudesse responder Irene aparece na porta.
—Vamos irmã, não podemos perder mais tempo aqui, temos um caso para solucionar.
—Você vai cuidar do caso? – Alex pergunta.
—Tenho razões para acreditar que o sequestro da sua mãe é minha pista para algo ainda mais extremo.
Irene se direciona para a saída, mas antes Diana a questiona.
—Irmã, eu estava querendo lembrar o nome da nossa rainha. Qual seria?
—Como diabos eu vou saber? Sabe que não me ligo nessas trivialidades, Diana.
Irene sai e Diana solta um risinho olhando para a prima. Alex retorna a sala do Mycroft.
—Como conseguiu?
—Não importa! Temos de continuar seu treinamento, leia isso e me dê a solução.
Ele a entrega um arquivo governo coreano. Já Irene e Diana pegam um táxi, no entanto param no meio do caminho para casa.
—Espere aqui.
Irene diz e corre até uma praça perto, entrega um papel para uma mulher e volta.
—O que foi fazer?
—Até o fim do dia terei o paradeiro da mãe da Alex. Agora precisamos pensar em coisas mais importantes, Diana.
—Sobre o homem que está por trás disso?
—Sim, de alguma forma isso tudo é sobre a família Holmes.
—Por que nós?
—E por que não?
—Eu entendo que o Mycroft é o próprio governo britânico e o nosso pai é o melhor consultor investigativo existente até hoje, mas ele já está fora do jogo há anos.
—Ah querida irmã! Você sabe que o jogo nunca acaba apenas entram novos jogadores, nesse caso, somos nós... E a Alex, mas prefiro não falar sobre isso por enquanto.
Ela virou-se para a janela, Diana sabia que nenhum outro comentário iria acontecer, então ela apenas se envolveu nos próprios pensamentos.
Irene estava recapitulando o local de trabalho do tio, a maioria dos papeis estavam virados para a cadeira do visitante.
“Mycroft está treinando a filha, mas qual a razão?” Irene indaga a si mesma.
***
Na 221B a tarde corre tranquila, Diana escreve sobre sua nova tese de doutorado e Irene pesquisa sobre os diferentes tipos de animais venenosos da Rússia. Nesse instante uma mensagem chega, um dos ajudantes da Irene havia mandado uma foto com um endereço logo abaixo.
—Finalmente! – Ela exclama.
—O que?
—Venha irmã, vamos resgatar a nossa tia.
Já dentro do táxi ela faz uma ligação.
—Oi prima querida, nos encontre no endereço que irei mandar... Ora, você não quer mais vê sua mãe?
Em um beco imundo a senhora Meankovitch estava em farrapos, desidratada e um tanto atordoada. Alex demonstrava todo seu alívio por ter recuperado a mãe ainda com vida.
—Os paramédicos disseram que ela estará bem em alguns dias. – Comenta ao se aproximar das primas. – Como a encontrou?
—Como disse: você se perdia no óbvio. Era claro que de alguma forma ela conseguiu fugir e o sequestrador continuava matando mulheres com o histórico semelhante ao dela como distração para a própria busca. Ela como uma antiga prostituta, apesar de ter sido uma de luxo, teve de começar pelas ruas, então sabia bem como conseguir confiança e se virar entre os sem-teto.
—Bom trabalho!
—Eu sei.
—Esse tipo de gente costuma se proteger, como conseguiu quebrar o muro?
—Tenho uma relação profissional com eles.
—Irene os chama de ajudantes. Já foram bem úteis outras vezes.
—Melhor eu ir. Obrigada pela ajuda.
Alex entra na ambulância que segue para um hospital próximo.
—O que está te perturbando, Irene?
—As mortes pararam.
—Talvez saibam que ela está em segurança agora e não pode mais tocá-la.
—É uma explicação.
Diana nota o olhar vago da irmã.
—E qual seria a outra?
Irene a ouviu, mas não era o momento de mostrar todas as suas desconfianças. Ela sai caminhando em busca de um táxi e Diana vai junto sem proferi qualquer palavra.