Ladrão roubando ladrão
Uma trama de corrupçao e golpes. Um agente enganando outro, num enredo real de gente inescrupulosa.
Ladrão roubando Ladrão.Vai dar certo!
O complexo Industrial Bianchi Amaral já foi enorme. Hoje resta apenas a tecelagem Amaral S.A. com 500 empregados e um bom nome na praça Tudo graças a Sandro Christopher Amaral o gestor honesto que sabe bem do mal feito cometido pela empresa com empregados acionistas e governo, no passado. Agora dirige o patrimônio da Família com duas irmãs inúteis e um irmão bastardo playboy, assessorado pelos velhos diretores herdados do fundador Comendador Bezerra do Amaral seu pai.
O diretor comercial é Daniel Santher sujeito experiente, e inconformado com 35 anos de empresa. Foi tambem vereador, ha três legislaturas. Pessoa conhecida e respeitada na cidade, ainda que notório aproveitador corrupto.
Fim de semana, na chácara da família, o senhor Daniel após o jantar chama Luana , viúva de seu irmão e sua filha, única sobrinha solteira, Debora Bibi Santher, recém-chegada da capital, pós-graduada em contabilidade.
- Vamos direto ao assunto- inicia Daniel- Eu estou a mais de 30 anos na tecelagem e agora com a morte do velho Amaral os filhos tem dado novo impulso nos negócios e nós conseguimos um contrato milionário com o governo para fornecer todos os tecidos das Forças Armadas com um bom lucro líquido de 80 milhões. Desta vez vai dar certo. Eu fico com 40 milhões. Me auto indenizo e vou para o Ceara de férias permanentes.
- Que bom! Diz Luana
- Não acredito... acrescenta Debora.
- Acredite Debora! ... você tem 1 milhão para resolver o lado contábil deste negócio. O Cadu Cesar que você sabe é filho ilegítimo do velho Amaral dessa vez ele está comigo. É nossa garantia. Vai dá certo! Vamos desviar o dinheiro juntos. Fifite,fifite... 40 para mim 40 para ele.
- O que eu faço?
- Um momento. O Cadu segue diretor de contabilidade e vai dispensar o contador atual. Aí vai entrar você Debora, como contadora e auxiliar direta dele para garantir que vai dar tudo certo. Vamos dar o golpe nos acionistas na família e no fisco. Principalmente nas irmãs do Sandro, a Monica e a Ana Paula...duas exploradoras e avarentas.
-Vou ser auxiliar do Cadu?
-Subordinada! Ele é diretor, você é a nova contadora da tecelagem com a missão de manter o Cadu Cesar sossegado. Para que tudo vá dar certo e que ninguém vá descobrir nada. Acertar todos os detalhes da negociata. Aqui e na Suíça! Ok?
-E vamos receber um milhão- disse Luana - lindo! ... seu falecido pai iria adorar.
- Desta vez vai dar certo. Combinado?
Na semana seguinte Debora se apresentou ao trabalho e foi encaminhada a sua sala onde tomou um pé na situação contábil deixada pelo antecessor Debora era uma moça simpática, bem preparada e inteligente. Terminada a reunião com seus assessores foi ao encontro de Cadu, que ela conhecia desde o ginásio.
-Você está linda! Parabéns! Sinceramente só me lembro de você no ginásio... quando seu tio me falou de você, confesso que fiquei ansioso...
-Obrigada, estou aqui para ajudar. Para somar. No que precisar por favor me avise.
- Não seja formal. Vamos lá Debora. Vamos trabalhar juntos. Nós vamos ser amigos... você está noiva? Tem namorado? ... casou?
-Não. Deixei o namorado na capital. Não era o cara certo.
- Pois eu estou separado há 2 anos. Sem filhos, divorciado, minha mãe diz que eu nasci para ser rejeitado... na firma ou em casa eu sou o irmão bastardo... aquele que nasceu da empregada que o patrão engravidou sem querer.
- Não é bem assim... você é respeitado Cadu.
-Conversa... minha madrasta me detesta, meu meio-irmão Sandro não me suporta e minhas irmãs que são as diretoras poderosas fazem o que querem... sou um simples empregado
- Diretor!
-Empregado! ... é assim que me consideram. Empregado pobre. Eu tenho que ganhar muito dinheiro e sair daqui... sumir no mundo.
-Meu tio disse que isso está próximo.
-Não estou certo... de outras vezes não deu certo. No fim tudo sempre acaba em nada.
-Tenha fé.
- O que você acha? Como estão nossos assuntos contábeis de verdade? Já se colocou ao par? ... eu não tenho fé em nada.
-Não seja pessimista, nem ansioso. Comigo as coisas vão se normalizar. Você vai ficar satisfeito e rico.
- Tomara! Deus te ouça.
As semanas foram passando e Debora fazendo o possível para encaminhar as coisas conforme o pedido seu tio.
Deveras a contabilidade da tecelagem estava correta. Tudo bem, tudo em ordem. Ativo, passivo, recebimentos e pagamentos em dia.
O lado comercial bem resolvido e as escritas fiscais encaminhadas para os fins desejados. Debora passava os dias e as noites arrumando a fraude.
A essência do golpe era um contrato inicial de valor baixo que depois de assinado e aprovado pela assembleia dos acionistas seria convenientemente aditado em segredo e os acréscimos recebidos no caixa dois encaminhados a conta que ela estava abrindo para Cadu e Daniel no exterior.
Fez duas viagens ao exterior para ultimar isso. Tudo relativamente simples, bastando produzir outros assuntos emocionantes para distrair a atenção dos acionistas, dos empregados e diretores.
Debora acreditava que ninguém iria perceber o acerto do contrato do Ministério da Defesa. Pouco ou muito todos os envolvidos receberiam compensação. O sigilo a todos favorecia. Ela subestimou Sandro.
O mais difícil era manter o Cadu calmo e confiante. Ele andava eufórico.
-Se descuidarmos o Cadu coloca tudo a perder – disse Debora para o tio Daniel
-Não se preocupe... eu cuido dele. Ele é cria minha. Pode confiar. Ele eu acalmo.
Debora logo soube que a coisa não era bem assim.
Cadu a convidou para sair e ela aceitou alguns jantares de com ele. Tudo certinho, careta, mas suficiente para Debora conhecer Ricardo, e vice-versa. Estavam se dando bem.
Dona Luana observou uma vez: - Cuidado para não se apaixonar por esse Cadu....
- Que absurdo! É um ansioso, e dependente. Nem sei como é que foi que ele se casou. É imaturo. Tem uma visão de mundo de adolescente, de rejeitado carente.
-Pois é essa insegurança que acaba sendo o encanto. Vocês são da mesma idade, mesmos gostos, se descuidar acontece a paixão
-Sem essa mãe, eu vou cuidar dele. Só isso, sem paixão.
Todavia Debora gostava da ingenuidade de Cadu. No trabalho ela dava apoio e apresentava soluções para ele ser bem visto pelos outros diretores seus irmãos e a família. Debora pedia tempo ouvindo suas queixas e reclamações. E fora do trabalho nas vezes em que saiam, inflava seu ego com elogios a sua bondade, e esmero social.
Cadu, socialmente, era muito prestigiado, tendo amigos em várias esferas como gourmet, anfitrião, dançarino e segundo colocado no campeonato de tênis da região. Não era sucesso com as moças solteiras, mas despertar o interesse das divorciadas solteironas. Gostava muito do glamour da vida social. Inútil, mas simpático.
Debora se interessavam pelo lado gourmet e juntos foram a restaurantes competições, feiras e congressos de degustação na região. Não raro ela voltava dirigindo porque ele beberá vinhos famosos além da conta. Discretamente Cadu dava uma força para a elegância de Debora lhe presenteando com roupas caras sobre o pretexto da ocasião.
-Eu te trouxe um conjunto marinheiro que você vai vestir para a festinha do Iate dos Maias, quarta-feira na represa de Paranapanema- lhe disse Cadu.
E Debora aceitava lhe fazia bem ao ego. Gostava de um paparico. E cada lhe caia muito bem. Retribuía elogiando a elegância e a postura é charmosa de cada. Tudo muito frívolo, mas no fundo a amizade estava se transformando em algo mais. Não só pela cumplicidade, mas pela descoberta de gostos e aspirações complementares.
Um dia o tio Daniel a reprendeu.
-Não é bom você se aproximar muito do Cadu, lembre-se que ele vai sumir logo, logo e não tem espaço para mais nada, que não seja nosso negócio. Certo?
Debora concordou e até que se retraiu por alguns dias, logo voltando ao convívio mais próximo. Uma ocasião vestindo roupas de banho na casa dele à beira da piscina, no ato de preparar uma salada, se esbarraram se roçaram, e quase saiu faísca, gerando constrangimento. De todo modo Cadu era macho, bobo, mas macho, e a Debora com pouca roupa era um pedaço de mau caminho. Magrinha e sensual.
As semanas foram passando e um dia pela manhã depois de uma noite de muitos drinks Cadu ainda que titubeante se aproximou de Debora na sua sala de trabalho e lhe disse:
- Você está melhor que a cereja do Martini ...e olha que dessa fruta eu como até o caroço!
E fugiu rapidinho. Debora pasmada não soube responder e passou o dia com o ego saindo pelos poros. Isso foi uma cantada, pensava.
Dias depois numa noite no jantar à beira do rio Cadu suspirou:
- Você sabe qual é o meu sonho? Sabe o que eu quero?
- Diga!
-Um apartamento meu... só meu na rue dês Árcades, na Gare de San Lázar
-Paris !?
-E um emprego de produtor na casa Dior ou Valentim
-Só?
-E que Bateau Mouche, me leve do Sena ao Danúbio....
-0h...Você lá... meu bem... saúde!
Arrematou erguendo a taça de vinho branco Borgonha e Debora completou
-Aos nossos sonhos... to no teu... tejá no meu...saúde!
Nesse fim de semana Daniel, Cadu e Debora se reuniram para beber ao sucesso da operação de desvio de 80 milhões. Passados cinco meses de trabalho tudo tinha se concluído a contento.
-Dinheiro na conta, champanhe para nós. Disse Daniel levantando a taça.
-Eu vou confirmar pessoalmente a minha conta em Luxemburgo disse cada, bebendo de um só gole.
-Não faça isso- advertiu Debora - é imprudente!
-Deixa, deixa... disse Daniel.
E na manhã seguinte quando cada não chegou na hora para trabalhar Debora fez algumas ligações e descobriu que ele estava mesmo a caminho de Luxemburgo.
As cinco da tarde usando seu notebook pessoal e os dados que tinha, consultou o saldo em Luxemburgo e percebeu que cada acabara de fazer uma retirada no caixa de cinco mil euros.
- Esse cara é um louco... descuidado...ingenuidade!
E ligou para o seu celular falaram por 10 minutos. Ao fim:
-Ok... too indo... de manhã no hotel Porte De Itálie, Paris sul...
E avisou o tio que ia para encontrar Cadu em Paris. Daniel ficou possesso, bravo. A coisa estava saindo do combinado. A ausência de Cadu na tecelagem já era problema. De Debora então, horrível. As coisas se precipitaram.
Uma semana depois nenhum dos dois voltara. Sumiram. Nem telefonema. Na firma todos estranharam.
Daniel foi chamada a sala da diretoria e o irmão de Cadu o presidente Sandro foi logo ao ponto:
-Onde é que o Cadu e a senhorita Debora se perderam? O senhor está sabendo algo que eu precise saber? Por acaso o senhor sabe de onde eles conseguiram dinheiro para desaparecer?
-Não tenho ideia - respondeu Daniel
- Pois eu tenho! – Respondeu o presidente- Como eu venho monitorando o meu irmão, a algum tempo, sei que ele fez alguma tramoia para desviar dinheiro para alguma conta em Luxemburgo e tenho certeza que a sua sobrinha tem culpa nisso também...
E Daniel sem se abalar responde:
-Eu bem que os avisei quando o Cadu a contratou...eu vim aqui e lhes disse que a minha sobrinha não era bem-vinda. Eu avisei!
-O senhor avisou, mas não impediu. Não tomou providências. E agora?
-Porque o senhor não fala com o seu irmão com certeza ele está em Paris Hoje tem jogo pelo Roland Garros de tênis... certeza que ele está lá.
- Opa...muito bem... gostei. Não lembrava disso, como é que eu não pensei nisso...vou chamar no hotel... depois do almoço nós conversamos.
Daniel saiu da sala.
Até ali tudo certo. Tudo estava correndo conforme os seus planos. Almoçou sossegadamente. As 16:00h voltou a sala da presidência onde além do senhor Sandro estavam as duas irmãs de Cadu, Monica e Ana Paula as diretoras de Marketing e Publicidade.
- Senhor Daniel se não fosse nosso empregado antigo e da confiança do meu pai eu não sei ...começou dizendo Sandro
- Senhor Daniel - interferiu Ana Paula, uma das irmãs- cada, nos disse por telefone que desviou dinheiro do nosso caixa em conluio com sua sobrinha, disse que a sua sobrinha não roubou!
-Calma Ana Paula - interveio o presidente - não temos certeza de nada.
- Mas o Cadu disse que vai ficar com o dinheiro e não volta mais para a fábrica...nem para o páis...
-Culpa é da sua sobrinha senhor Daniel, e nos vamos mandar prender a sua sobrinha Debora.
-Já a denunciei -disse Mônica
-Fez bem... muito bem! Mande prender... eu sempre fui pela legalidade o que é certo é certo. Chame a polícia e mande investigar. Não meça consequências. - Afirmou Daniel de modo categórico em voz alta
O Presidente Evaristo sentiu o golpe. Sentiu a posição firme de Daniel e tentou aliviar a tensão. Recuou.
-Senhor Daniel, o senhor sabe que não queremos polícia. Nao queremos investigação nenhuma. Temos que resolver sem publicidade. Não fica bem o envolvimento dos Amaral... e o escandalo? E os acionistas?
-Meu irmãozinho não tem cabeça para isso... com certeza é tudo coisa da sua sobrinha. Vamos mandar prender... reafirma Monica- ... eu que nem desconfiava, achei ela sempre tão solícita... e era desonesta...
Advogados da tecelagem trabalharam rápido.
Denúncia feita, mandado judicial emitido para deter e interrogar Debora.
Dias depois sem perder a calma Daniel com jeito de conciliação encontrou Debora na carceragem da Polícia Federal, presa assim que ela desembarcou na volta da Europa.
Debora nervosa se sentia traída. A corda sempre parte do lado mais fraco.
-Debora, o advogado que contratei já está a caminho, foi o Cadu que te entregou... você fica quieta... não delata ninguém que o seu está na mão da tua mãe... fica na tua... isso se resolve logo
Debora nervosa.
-O senhor é um desgraçado... Não foi o Cadu coisa nenhuma. Isso é coisa sua, isso tem jeito de plano seu.
-Não chora, eu te disse que eu estava certo com o Cadu. E estou. Nós combinamos tudo. Você entrava para fazer o serviço de contabilidade e ele a denunciava. Com isso todos ficaram com dinheiro e a senhora vai cumprir uns meses de prisão e receber o seu milhão. Certo? Todos felizes. Tudo certo!
- Certo nada! O senhor não me disse nada...... não me disse nada... não combinou nada disso comigo... voce bolou esse plano todo e eu vou presa no seu lugar...ou do Cadu. Mas não vou mesmo, isso não vai ficar assim... cachorrada, me pegaram de bode expiatório, mas eu não sou boba isso não fica assim.
Daniel saiu, pagou advogado, passou o dinheiro para sua cunhada Luana e se preparou para pedir aposentadoria. Por ele estava tudo certo. Três dias depois na sala da presidência:
-Senhor presidente pelo que ocorreu eu vou me retirar. Não tenho culpa, mas devia ter previsto. Vou me aposentar. Estou me demitindo.
-Senhor Daniel a tecelagem tem o prazer de não mais usar seu serviço. Passe bem... e com um sorriso completou- de verdade é ótimo me livrar dos senhor e do meu irmão Cadu. Passe muito bem!
Com as reservas que tinha disponíveis Daniel foi para Fortaleza e uma semana depois voltou para assinar os papéis de demissão e encaminhar a aposentadoria. Voltando para casa, a noite tentou checar novamente o seu banco na Suíça, o Internacional de Zurique.
Não logrou, na verdade não sabia lidar com Internet Banking. Tinha senha, mas não alcançava acesso. Pela manhã ligou para o celular de Cadu, que estava na Europa. Com voz eufórica se cumprimentaram.
- Não estou conseguindo acessar a minha conta, Cadu, como eu faço?
-Não faça Daniel, lamento, mas o nosso acordo acabou, os planos mudaram Daniel.
- Do que você está falando cada, que que você está dizendo?
- Você dançou Daniel... isso... eu mudei de equipe, Daniel... agora estou no grupo da Debora. Eu amo a tua sobrinha. Vamos fugir junto. Vamos nos casar!
-Você está louco, ela está presa... que besteira você está falando?... que foi nosso combinado?
- Estava presa...estava presa... saiu ontem de manhã, a tecelagem Amaral já retirou a queixa. Disseram que foi tudo um mal-entendido e inocentaram todos nós. Eu você e a Debora estamos livres. Daniel, inocentes... Livres Daniel!... escutou... escutou?
-Escutei. Escutei! Pode me dizer como conseguiu isso, por que aquelas idiotas das tuas irmãs iriam retirar a queixa e nos inocentar?
-Pelo dinheiro... pelo dinheiro, pela grama, pelo sigilo e a grana...Daniel são 40 milhões que a Debora devolveu... escutou... fez um acordo assumiu e devolveu só o teu dinheiro.
-O que... o que você está falando?
- A Debora tem a senha da tua conta na Suíça... ela pegou o teu dinheiro e devolveu tudinho para o caixa da tecelagem, esse dinheiro comprou a liberdade dela... ela é que entende de depósito e de contas bancarias... ela te deixou sem nada!
- Filha da p...
-Eu vou fugir com ela... ela é o amor da minha vida. Vou senão ela vai pegar a minha grana também... eu amo a tua sobrinha e os 40 milhões... alo titio...alo... venha nos visitar nas Ilhas Virgens.... Visitar nas ilhas virgens... lembranças a dona Luana!