~*SENHOR DAS DESCONFIANÇAS*~ cap. LVI
Passados dois meses, os Arantes estavam no Theatro Municipal da cidade para aisistirem à uma orquestra em que Thiago participaria pela primeira vez, tocando violino, e também seu avô Wagner. Os músicos ainda estavam se preparando ao passo que as cadeiras no auditório iam sendo ocupadas por mais e mais pessoas. Thiago arriscou em dar um pulinho na parte alta do auditório, para pedir boa sorte à sua família, antes da orquestra começar.
- Estou tão nervoso... - dizia ele, enquanto o pai o ajudava a melhorar sua gravata borboleta - Nunca pensei que um dia estaria aqui, tocando a Quinta Sinfonia de Beethoven para tanta gente.
- Vai se sair bem, tenho certeza. Até porque, quem vai tocar é você e não eu - o Sr. Carlos brincou, ora com um pouco de ironia - Você convidou o detetive?
- Sim, mas parece que ele não vai poder vir.
Enquanto isso, nas outras cadeiras daquela mesma fileira, Thalia e Celina se divertiam com os penteados exóticos das senhoras que apareciam no auditório e julgavam qual era o mais engraçado. Contudo, algo que disseram ali distanciou Thalia da brincadeira, fazendo-a ficar aérea.
- Detetive! - a voz era de Thiago - Você veio!
- Achou mesmo que eu iria faltar a esse momento tão importante? - essa voz foi de Ruan.
Ao girar lentamente o rosto para o lado direito, Thalia perdeu o chão e suas mãos ficaram frias e todo o corpo trêmulo; ela viu Ruan abraçando seu irmão Thiago e seu pai e trocando palavras e sorrisos com eles.
- Olha, Lia, é o detetive! - enunciou Celina, a apontar para ele.
Entretanto, Thalia perdera os movimentos, só o vai e vem agitado dos pulmões se fazia nela. Mas, mais tenso que isso foi quando Ruan a mirou e se aproximou; dessa vez ele estava vestindo um terno preto, mas por baixo a mesma camisa branca e o colete.
- Lia - ele disse sorridente, com o olhar pregado em Thalia.
- Ruan? - ela falou, bastante surpresa ao revê-lo ali em sua frente.
- Detetive! - disse a menina Celina, eufórica.
- Princesa! - exclamou Ruan para a menina.
Ele se sentou na cadeira ao lado da que Thalia estava sentada e com a força dos braços pôs Celina sentada em suas pernas, de costas para ele, a abraçando.
- Como você está, minha lindinha? - ele perguntou à menina.
- Bem - Celina respondeu, sorrindo.
- Que bom. Ops... Acho que seu pai está te chamando.
- Eu não ouvi ele me chamar...
Ruan tirou do bolso do terno um chocolate e, como sempre, comprou a cumplicidade da menina e ela correu para sentar-se com o pai, deixando Ruan a sós com Thalia, quer dizer, não tão a sós, já que haviam muitas pessoas sentadas em volta deles.
- Nossa, não imaginei que o reencontraria - Thalia disse, fitando o rosto de Ruan, com timidez.
- Pois é, eu quis fazer uma surpresa... E também revê-la - Ruan disse, num tom carinhoso - Mas é claro que também vim para assistir à orquestra e ver seu avô e seu irmão tocarem.
- Também estou ansiosa para vê-los tocar - ela lançou a atenção para o grande palco lá em frente, de modo que Ruan quis fazer o mesmo.
- Sabe, eu gosto desse clima de suspense da Quinta Sinfonia de Beethoven, "Tam-dam-dam-dam..." - Ruan contava, a fazer gestos com as mãos e contente -, acho que combina muito com o meu trabalho.
- Entendo - Thalia virou o rosto para observá-lo - E lembra da cara que o meu pai fez quando você revelou que o grande tesouro era um violino?
- E como poderia me esquecer? - riu - Aliás, saindo daqui, nós poderíamos... Não sei, jantarmos juntos e assim você me contar como têm andado as coisas lá na mansão.
- Seria ótimo! Até porque são muitas novidades.
Então eles assistiram maravilhados à orquestra e o Sr. Carlos Arantes até se emocionou em ver o filho tocar! Embora ainda estivesse aprendendo a suportar a música... Só que não parava de pôr defeitos nos outros músicos e em como eles seguravam e tocavam os instrumentos, como se ele até entendesse realmente do assunto. E terminada a orquestra, todos, contando com Ruan, foram jantar juntos, para comemorarem aquela belíssima noite e contarem as novas para o detetive.
Bom, as novidades eram que Beatriz continuava pagando a pena na prisão, mas recebendo visitas de sua família e numa dessas visitas, ela acabou pedindo perdão para o marido e até para a sogra; a sogra a perdoou, tinha um coração bondoso... Já o marido precisou pensar e repensar três vezes antes, mas acabou perdoando. Todavia, Robison não voltou a trabalhar na mansão, mas em seu lugar o Sr. Carlos pôs um outro mordomo, mais parecido com uma máquina, abria portas mais rápido que foguete! E no lugar de Tayná, que continuava prestando serviços comunitários, o Sr. Carlos pôs uma outra faxineira, a diferença é que essa tinha mania de limpeza e a mansão vivia brilhando! Ela acabou conquistando o xofer Hudson, que acabou esquecendo de vez a Sra. Eloise, sim, ele realmente era apaixonado por ela como o detetive havia presumido. A cozinheira Maria permaneceu na mansão, fazendo seus deliciosos e incomparáveis quitutes, usando um ingrediente secreto que, além do detetive, ninguém jamais havia descoberto qual era. Acerca da Sra. e do Sr. Wagner, eles voltaram a morar em sua antiga casa, já que pretendiam permanecer na cidade; e a relação de Carlos com o padrasto ficou muito melhor, ainda que Carlos nunca conseguisse aprender a tocar violino, todavia ver seu fllho Thiago se sair tão bem e se sentir tão feliz com as aulas particulares do músico, também deixava a ele mesmo muito contente. Mas não foi só isso que o deixara tão feliz, mas também ter vencido as eleições e se tornado o novo prefeito da cidade!
Agora vejamos... O que mais? Ah! Depois daquele jantar após a orquestra, Ruan e Thalia começaram a namorar, então não teve mais jeito dos Arantes se livrarem do detetive, já que ele quase sempre aparecia pela mansão, só que dessa vez... Não era examente para investigar.
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Minas Gerais, 17 de Novembro de 2002
Caro detetive Gaspar,
Sei que eu deveria telefonar, mas é que sempre preferi escrever cartas. E como lhe dei minha palavra de que o faria, escrevo para lhe contar sobre o meu reencontro com meus pais.
Bom, eles continuam na mesma casinha humilde de sempre; logo quando cheguei, encontrei meu pai em seu pequeno salãozinho, serrando uma mesinha de madeira. É, muita coisa não havia mudado. Quando ele me viu, quase serrou os dedos, mas não foi como deve está pensando, ele não correu para me abraçar, até porque da última vez que nos falamos por telefone tivemos uma discussão absurda. Eu vi nos olhos dele a marca da dor e do desgosto, eram mais profundas que as marcas da avançada idade em seu rosto; e quando me aproximei, não tentei abraçá-lo, tão somente o saudei com um sorriso acanhado e perguntei por minha mãe e ele respondeu num tom rude: "já está muito bem, depois de todo esse tempo, e você não devia ter se sacrificado tanto vindo aqui para vê-la." Eu a procurei, ela estava fazendo o almoço no antigo fogãozinho... Era sopa de macarrão... Eu conhecia bem a saborosa comida de minha mãe! Quando ela me viu, chorou, eu não esperava, mas ela me abraçou forte. Eu chorei aos pés dela e pedi repetidamente perdão. Ela me olhou com aquele amor nos olhos e disse que estava tudo bem, mas eu sabia que tinha a ferido! Então, com muito esforço, consegui fazer meu pai sentar com minha mãe para conversarmos. Eu não só pedia desculpa, como também ouvia-os desabafar, pois precisava saber de tudo onde eu havia errado com eles. Bem, graças a Deus eles me perdoaram e tudo ficou bem entre nós! E acredite, estou planejando ficar morando aqui, esquecer o cassino, os amigos do dinheiro e investir em algo que eu e meu pai possamos trabalhar aqui; usar meu dinheiro para construir uma casa maior e confortável para meus pais, comprar uma fazenda, construir um chalé, como mamãe sempre sonhou!
É maravilhoso reconquistar o amor de meus pais e me livrar dos remédios e das mentiras. Ah! Eu soube que você está namorando com a filha de Carlos! Espertinho... Falando nisso, acredita que ele me ligou para pedir-me desculpas por ter agido daquela maneira comigo ao descobrir sobre meus pais? Pois é! Ele disse que mudou seu modo de pensar acerca das pessoas, sejam ricas ou pobres, e que já não trata seus empregados com humilhação. E é claro que eu o perdoei e reatamos nossa amizade. Eu reconheço que quem devia um pedido de desculpas em principal era eu, a ele, contudo, fiquei maravilhado com a atitude dele! Foi algo felicitante, dígno de um prêmio! E por que não um violino? Haha...
Que passes bem e tenhas muito sucesso em suas missões.
Atenciosamente, Henrique Sanches.
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~*FIM*~