~*SENHOR DAS DESCONFIANÇAS*~ cap. LI
Cada vez tudo fazia mais sentido com as novas revelações do detetive Ruan Gaspar e da Sra. Eloise; revelações que estavam deixando o Sr. Arantes num mato sem cachorro e mais que a esposa ele almejava despachar-se dali e afundar a cabeça dentro de um aquário para quiça assim afogar todas as coisas que pesavam em seus pensamentos.
- A propósito, meu filho Carlos - dizia a Sra. Eloise, mirando o olhar no rosto do filho -, como você soube do tesouro? Também derramou desastrosamente água sobre uma de minhas fotografias?
- Não, eu não sou tão displicente assim - disse o Sr. Carlos, uma vez olhando para o detetive e fazendo este outro fitá-lo com indiferença; Carlos voltou o olhar para a mãe e concluiu - Eu li em seu diário, algumas dias após sua "morte".
- Ah, é claro - a Sra. Eloise deixou o olhar cair sobre os ombros -, eu anotei tudo sobre o tesouro no diário.
- Sim. E era por isso que eu tinha tanta pressa de encontrá-lo, pois se alguém o encontrasse antes que eu e porventura o lêsse, saberia do tesouro! - contou o Sr. Carlos e girou com astúcia o corpo para o detetive - Agora que todos já sabem da verdade, vamos acabar logo com isso! Detetive Gaspar, me dê a fotografia de minha mãe.
- Claro - disse o detetive, sacudindo os ombros e entregando a fotografia ao Sr. Carlos.
- Finalmente hei de descobrir que tesouro é esse! - ele dizia, ao passo que olhava o verso da fotografia agora em suas mãos - "na parede, dois diamantes cheios de mistério"... Oh, meu Deus! Dois diamantes!? Estou rico! Digo, mais rico!
Ele deu saltos de empolgação, esbanjando sorrisos; correu de um lado do salão para o outro, com passos ligeiros e embaralhados.
- Em que parede estão? Em que parede? - ele perguntava ao ar, tocando com as mãos cada parede, à medida que o detetive revirava os olhos - Ah, como sou tonto... São as paredes da casa antiga de mamãe!
- Não, é numa parede daqui mesmo - contou o detetive, apontando em seguida para o grande quadro na parede lateral -, no quadro com a pintura da Sra. Eloise quando mais jovem.
- Ah, sim, é claro!
O Sr. Carlos correu desesperadamente para retirar o quadro da parede, enquanto sua esposa, a Sra. Beatriz, franzia o cenho e olhava com repulsa para a sogra.
- Então quer dizer que eu mandei pregarem na parede de minha casa um retrato se-seu? - indagou Beatriz à sogra.
- Pois é, isso que dá carregar coisas que não lhe pertencem - falou a Sra. Eloise e mirou a vista no quadro - Foi Wagner quem o pintou por uma fotografia minha que eu guardava de quando eu tinha meus vinte e poucos anos. Mas não a vi muito interessante e pedi que ele fizesse algumas modificações e pusesse efeitos, para tornar a pintura mais fantasiosa.
- Carlos, você sabia disso? - perguntou Beatriz para o marido, em alta voz.
- Talvez sim - respondeu ele, num tom gélido, menosprezando aquela voz que vinha de alguém que até então lhe causara muito desgosto; concentrava-se no quadro pôsto encima da mesinha de centro e procurava alguma pista do tesouro.
- Está nos olhos - disse o detetive -, os olhos são os dois diamantes cheios de mistério.
- Ah... - então o Sr. Carlos retirou a tela de vidro do quadro e descobriu a peça deslocável dos olhos da mulher, a Sra. Eloise, na pintura, e retirou-a - Mas, não há nada aqui!
- Porque eu já retirei o papel com o último enígma - o detetive pôs a mão no bolso, tirou o papel que encontrou no quadro e o desenrolou - E nele diz: "o tesouro está atrás da velha estante de livros, no sótão. Lá encontrará o VIOLINO."
- Ahá! Eu sabia que era... Um violino? - indagou em desânimo, logo depois de uma breve comemoração e franziu a testa com força - Mas, que violino?
- O violino de Thiago - explicou Ruan, mirando o olhar em Thiago que soprara um ar de infelicidade ao ver o detetive revelar sobre seu segredo.
- Thiago, você tem um violino? - perguntou o pai do rapaz e parecia não muito feliz com a informação.
- Eu o encontrei exatamente no sótão da casa da vó Eloise, naquela vez que fomos buscar algumas coisas dela. Não contei ao senhor porquanto sei que não gosta de música e detestaria me ouvir tocar violino, no que eu descia para o porão para poder tocá-lo e não ser ouvido por ninguém - Thiago explicou, num tom tímido.
Após escutar o que disse o filho, o Sr. Carlos começou a andar da direita para a esquerda, esfregando a testa com a mão e com o queixo a desabar. E num momento, se virou de supetão para os que ali estavam, contudo dando exclusiva atenção ao filho Thiago e ao detetive.
- Esperem um pouco... Então quer dizer que a todo esse tempo eu estive à procura da droga de um violino? - ele ralhou, inconformado.
- Mas não é um violino comum - disse Ruan e olhou para Thiago - Thiago, pode trazer o violino, por favor?
O rapaz consentiu e subiu a escada, saltando os degraus com agilidade, à medida que o Sr. Carlos resmungava e a Sra. Beatriz ria dele. Poucos minutos depois, Thiago desceu com o violino nas mãos e só de ver o instrumento ainda de longe, o Sr. Arantes reconheceu que deveras não se tratava de um violino comum, mas de muito valor.
- Lembro que Wagner me contou sobre esse violino. Ele pertencia a seu pai e por Wagner ter muito estima pelo violino, quis renová-lo para melhor preservação e mandou que o folheassem a ouro - contava a Sra. Eloise - O violino foi avaliado em mais ou menos ciquenta e dois mil reais.
- Que interessante... - Carlos comentou, à medida que admirava o instrumento dourado nas mãos do filho; embora ciquenta e dois mil reais não fosse muita coisa para ele - Thiago, meu filho, não acha que seria um bom dinheiro?
- Eu não quero vender ele - disse Thiago, segurando com firmeza o violino - Eu o amo e ainda sonho em tocar com ele.
- Deixe de tolice, filho, você poderá comprar outro depois! Eu nem vou te impedir de tocar.
- Mas...
- Vamos, me dê aqui - fez um gesto com a mão para pedir o instrumento.
Com o semblante desfalecido, Thiago ia entregar o violino ao pai, mas com um rápido movimento do braço a avó de Thiago o obstruiu de fazê-lo.
- Não, ele não vai te entregar - falou a Sra. Eloise, encarando o filho Carlos -, pois o violino já está com quem deveria estar!
- Como assim? - indagou Carlos.
- Detetive Gaspar - ela voltou o rosto para o detetive -, por favor, leia o restante das palavras do papel que você encontrou no quadro.
O detetive abriu novamente o pequeno papel e elevou-o até a altura dos olhos, para ler a última frase que não chegou a ditar antes.
- "Esse violino é um presente meu para meu estimado neto Thiago" - Ruan leu.
- Isso... É verdade, vovó? - perguntou Thiago, emocionado, e recebeu o consentimento da avó.
Porém, indignado, o Sr. Carlos tomou o papel das mãos do detetive para se certificar de que dizia mesmo aquilo. E confirmou.
- Mas - murmurava Carlos, olhando para a mãe.
- Sem mais - ela o repreendia.
- Raios!
~*Continua...