~*SENHOR DAS DESCONFIANÇAS*~ cap. XLIX

Para acabar logo com aquela discussão arrasadora entre o Sr. Arantes e o mordomo, Ruan se colocou de pé e decidiu falar num tom elevado para chamar-lhes a atenção.

- Mas devo lembrá-los de que meu dever aqui era descobrir quem estava sumindo com os pertences da senhora Eloise, certo? E eu descobri - ele falou, mirando a vista em Thalia que estava próxima à escada e que nesse momento o fitou acanhada; mas Ruan logo desviou o olhar e foi passando-o por cada um dos que ali estavam a ouvi-lo - e direi como: Certa vez eu havia saído por um instante de meu escritório e quando voltei peguei a pequena Celina remexendo em minhas coisas e tinha pego uma fotografia que guardei comigo...

Ruan pôs a mão dentro do bolso direito da calça, de onde retirou a fotografia da Sra. Eloise junto ao Sr. Wagner, o músico, e levantou-a, mostrando-a a todos.

- Essa aqui - disse Ruan.

- Onde você conseguiu essa foto? - perguntou muito impressionado o Sr. Arantes, olhando a foto e até esquecendo do mordomo, que nesse meio tempo pôde se sentar e cuidar do ferimento no nariz.

- Ah! Lembra daquela caixinha de jóias de sua mãe em que o senhor mexia quando eu apareci em seu quarto? Pois é, estava no fundo dela, tinha um fundo falso na parte externa da caixinha.

- Sério? - fez uma cara como estivesse se sentido um estúpido.

- Voltando ao assunto - Ruan pôs as mãos para trás, mas continuou segurando a fotografia -, eu perguntei à Celina por que ela pegara a foto e ela me disse que foi a mando de alguém...

- De quem? - Thiago perguntou, depois de olhar para Celina, que estava apoiada em suas pernas.

Ruan não mudou a posição dos braços, somente girou o corpo para fitar Thalia de uma maneira que a fez entender que ele passava para ela a palavra.

- A meu mando - revelou Thalia, se distanciando da escada, à medida que dava passos para frente - Eu mandei Celina pegar a foto.

- Pode os contar o porquê, senhorita Thalia? - Ruan falou, já de costas para ela e com a vista sobre o Sr. E a Sra. Arantes.

- Eu tinha procurado por uma foto como aquela por muitas vezes - contava ela, enquanto todos lhe prestavam a atenção -, pois uma pessoa me pedira. Isso depois de eu levar escondida outras coisas de minha avó Eloise. E quando vi aquela fotografia com o detetive, tive que conseguí-la!

- Espere aí... Deixe-me ver se entendi - falou o pai de Thalia, fitando-a com a testa franzida - Então... Era você quem sumia com os objetos, filha?

- Sim - Thalia consentiu.

- Mas, por quê? E para quê?

- Como eu disse, papai, alguém me pediu por essas coisas e eu não pude me negar a fazer isso!

- E quem foi que te pediu?

Incerta de revelá-lo, Thalia olhou para Ruan, como quem suplicava para não ter ela mesma que falar.

- A mesma pessoa a quem Thalia visitava constantemente, a mesma que escreveu aquela frase no vidro da janela do quarto e também a mesma que apareceu vestida de fantasma para assustar a senhora Beatriz - Ruan contou.

- Espere, mas o fantasma era de minha mãe e ela está morta! - disse o Sr. Carlos Arantes, percebendo como Ruan e Thalia o olhavam de maneira distinta, sem nada dizerem, no que receou - Não está?

E foi nesse instante que a porta de entrada da mansão se abriu e uma silhueta de mulher surgiu e adentrou o salão. Ao mirarem o olhar nela, todos, em principal os Arantes (com excessão de Ruan, Thalia e do mordomo, que já sabiam que ela estava viva), ficaram em choque! Não, não podia ser! Era a assombração diante deles? Não podia ser verdade, não estava acontecendo! Aquele rosto inconfundível, mas depois de tanto tempo quase esquecido, aparecer ali de repente?

- Mam-mamãe!? - disse o Sr. Carlos, que com a surpresa quase caiu para trás.

- Não... Não pode ser! - falou a Sra. Beatriz, dando dois passos para trás e segurando nos corrimãos da escada.

- Surpresa, Beatriz? - indagou a Sra. Eloise, com um sorriso malicioso nos lábios.

- É o fantasma! - gritou o mordomo, se levantando do sofá e apontando para ela.

- Não... - disse o Sr. Carlos, que foi se aproximando da mãe devagar; quando ficou frente a frente, tocou o rosto dela com a mão e sentiu sua pele frágil e olhou no fundo de seus olhos - Não é um fantasma... É minha mãe! Está mesmo viva!

Ele abraçou-a muito forte e derramou lágrimas em seu ombro. Depois foram os netos abraçá-la e ali também choraram com ela toda a saudade. Mas a Sra. Beatriz aproveitou aquele momento de distração para tentar fugir dali, todavia a Sra. Eloise pregou os olhos nela.

- Aonde vai com tanta pressa, Beatriz? - perguntou Eloise, em alta voz, e Beatriz virou-se para ela - Ainda nem lhe dei um abraço! Sinto muito por ter estragado seu plano. Eu deveria ter morrido quando você tentou me afogar?

- Então é mesmo verdade? - questionou o Sr. Carlos, primeiro olhando para a mãe e depois para a esposa perto da porta - Você tentou afogar minha mãe?

- Eu não... - queria Beatriz negar a acusação.

- Vai negar até na frente de minha mãe, Beatriz? Ela acaba de confirmar o que você a fez! Como teve coragem? - ele lançou-a um olhar inundado de raiva e intriga, ao passo que Thiago mandava Celina subir para o quarto, pois ela era uma criança e aquilo a assustava e a confundia - E pensar que a todo esse tempo estive casado com uma... Com uma bruxa!

- Bruxa é essa sua mãe, que sempre quis te jogar contra mim! Dizendo que eu era maluca e que não merecia o seu amor! - vociferou a Sra. Beatriz, com demasiado furor ao encarar a sogra.

- Se disse aquelas coisas foi porque eu sempre soube quem você era e continua sendo - dizia a Sra. Eloise - Uma mulher sem escrúpulos, de um coração mau... Capaz de intentar contra a vida da própria sogra!

- Do que não me arrependo! E lamento por não ter conseguido...

- Beatriz, chega! - a voz do marido soou forte e a fez calar idediatamente - Você tentou pôr fim na vida de uma das pessoas que mais amei e vai pagar por isso, na prisão!

Beatriz não disse mais nada, pois se deu conta da dor que seus filhos estavam sentindo naquele momento em que os observou e os viu derramar lágrimas, por saberem da maldade que a mãe foi capaz de fazer.

- Agora me conte, mamãe - disse o Sr. Carlos olhando para o rosto da mãe -, como a senhora sobreviveu ao acidente?

- Eu só sei que cheguei à terra e fui socorrida por um pescador que morava numa cabana ali perto - relatava a Sra. Eloise - E depois de me recuperar, vim para São Paulo, mas não quis procurá-lo.

- E por que não?

- Porque eu precisava aliviar um pouco a alma, quis ficar em paz...

- E escondeu de seu próprio filho que estava viva? - ele falou num tom de choro.

- Me perdoe, Carlos, mas pensei que talvez fosse melhor assim.

- Melhor para quem?

- Para aquela bruxa ali - disse em intromissão o mordomo, apontando para a Sra. Beatriz e recebendo desta um furioso olhar.

~*Continua...

Lyta Santos
Enviado por Lyta Santos em 22/10/2016
Código do texto: T5800179
Classificação de conteúdo: seguro