~*SENHOR DAS DESCONFIANÇAS*~ cap. XLVIII
Todos os presentes no grande salão da mansão dos Arantes intimidaram-se com as palavras do detetive e se existisse a possibilidade de se retirar dali, ninguém ficaria, uma vez que o detetive parecia ter mesmo conhecimento de cada segredo naquela mansão. A Sra. Beatriz, ainda que achasse insuportável as palavras do detetive e ridícula aquela reunião de empregados e patrões para falar a respeito de algo tão bobo que era o desaparecimento de coisas de sua sogra, foi obrigada a permanecer ali e aturar o detetive Ruan lhe observando ao passo que caminhava de um lado para o outro.
- Vamos começar pela noite daquele Sábado , noite em que a senhora disse ver um fantasma na janela do quarto - dizia Ruan, em referência a Beatriz - A senhora diz que o fantasma é de sua sogra e eu não duvido, mas acho demasiado intrigante que ele tenha aparecido só para a senhora. Alguém mais viu esse fantasma?
Ruan cessou o caminhar, lançou o olhar aos demais e estes menearam negativamente a cabeça como resposta à sua pergunta. Nisso, ele continuou caminhando de lá para cá e de cá para lá, com a vista no carpete cinza, uma mão para trás e a outra no queixo.
- Muito estranho... - falou Ruan.
- Será que não entenderam? - a Sra. Beatriz se pronunciou depressa - Eu e a senhora Eloise nunca nos damos bem, era de se esperar que até depois de morta ela iria querer me perturbar!
- Bom, que vocês não se davam bem ninguém aqui pode negar, mas... Será que foi mesmo isso que trouxe a assombração para a mansão? - Ruan disse, mirando o olhar nela - Eu até teria pensado que fôra isso, se não fosse uma coisa muito intrigante que descobri naquela noite...
- O quê? - quem perguntou foi o Sr. Carlos Arantes, de pé ao lado do sofá e cruzando os braços.
- Quando entramos no quarto a janela está quebrada - Ruan prosseguiu -, a senhora Beatriz diz que ficou tão assustada com o fantasma que jogou o telefone contra a vidraça! Mas na verdade o que ela quis mesmo foi destruir uma pista de um ato cruel no passado.
- Não sei do que você está falando - disse Beatriz, com a voz prejudicada pela tensão.
- É claro que sabe, senhora Beatriz! Estou falando da frase escrita a batom no vidro da janela. Agora deve estar se perguntando: "mas, como esse maluco conseguiu entender a frase?" eu juntei os pedaços de vidro e com muita dedicação e reflexão consegui montar a frase. A frase era: "Nunca vou esquecer do que você me fez".
A Sra. Beatriz não pôde negar com o assombro estampado na face que sabia perfeitamente da frase de que Ruan falava, contudo não disse nada e os outros ficaram intrigados, sem nada entenderem.
- Então eu pensei: "se a frase estava escrita na janela em que a senhora Beatriz viu o fantasma, então teria sido o próprio fantasma que a escreveu?" - falava Ruan, uma vez olhando para Beatriz, outra vez deixando o olhar se perder no vão da sala - Sim, só podia ter sido o fantasma da senhora Eloise! Mas, por que teria escrito aquilo? Teria a senhora Beatriz feito algum mal à sogra quando ainda era viva? E o que poderia ser de tão terrível para o fantasma se expressar daquela forma na frase? Então, senhora Beatriz, o que tem a dizer?
- Que você está blefando! - ela ralhou, mas com toda insegurança - Eu nunca fiz nenhum mal a ela! Ainda que não a suportasse.
- Isso é a senhora quem diz, mas lembro-me de quando a entrevistei e ao perguntá-la sobre o momento em que vocês estavam sendo arrastadas pela correnteza naquele acidente de bote, a senhora me disse que tentou de todas as formas puxar sua sogra para a margem. Mas pensemos bem, uma pessoa que sente tanto ódio por outra, vendo ela se afogar, não veria ali uma chance de livrar-se dela e não de salvá-la?
- Detetive, até onde está querendo chegar com isso? - indagou o Sr. Carlos, com o semblante já apreensivo.
- O que quero dizer é óbvio! A senhora Beatriz aproveitou aquele momento em que a sogra estava em apuros para provocar seu afogamento - contou Ruan, levando os ouvintes a se abismarem, com os queixos caídos.
- Como se atreve a fazer essa acusação a mim? Seu maluco! Doente! - vociferou Beatriz, com um olhar tão maléfico e irado para o detetive que se antes fosse uma feiticeira já teria o transformado na mais infeliz e horrorosa coisa!
- E não é essa a verdade, senhora? - disse Ruan num timbre mais alto, lançando os ombros para frente - Não devo eu ter me enganado e se duvidam os demais, perguntem à empregada Tayná, pois ela também sabe do segredo da senhora Beatriz.
Todos olharam para a empregada, que foi pega de surpresa, estava ali tão quieta só a prestar atenção em tudo e de repente tornou-se a atração principal.
- O quê? Não, eu não sei de nada! - exclamou Tayná, fazendo movimentos rápidos com as mãos para negar.
- Sabe sim - o detetive desmentiu-a, quando se mantinha frente a ela - e foi por saber que a senhora Beatriz a pagava com um salário maior que os dos outros empregados, pedindo que você não contasse nada sobre o que ela fez com a senhora Eloise no dia do acidente.
- Tayná, diga de uma vez, é verdade isso o que o detetive disse sobre minha mulher? - o Sr. Carlos perguntou-a, com uma rigorosa autoridade na voz, intimidando a empregada, que olhou para a Sra. Beatriz antes de respondê-lo - Me responda, ou será demitida!
Ouvindo essa ameaça, Tayná arregalou os olhos, pois não desejava perder seu emprego, ainda mais por causa de um segredo que nem era dela. Ora a Sra. Beatriz implorava com o olhar para que a empregada nada falasse.
- Sim, é verdade - respondeu Tayná, encolhendo os ombros ao receber um olhar amaldiçoador da Sra. Beatriz.
- Essa aí é outra demente desminliguida! - Beatriz ralhou e voltou o rosto para o marido - Carlos, vai mesmo acreditar nessa empregadinha e duvidar de sua esposa?
- Beatriz - o Sr. Carlos a encarou com um olhar nublado e um semblante aflito, que poderia resultar mais em choro do que em gritos -, você... Você provocou mesmo a morte de minha mãe?
E Beatriz o observou calada, o que pareceu uma confirmação, mas ela guardava demasiado medo nos olhos. Foi quando o mordomo deu dois passos para frente e fitou a mulher com indignação.
- Santo Deus... Você é um monstro de saia! - o mordomo insultou-a, no que o Sr. Carlos olhou-o com estranheza.
- Ah, então agora me acha um monstro? - indagou a Sra. Beatriz - Não era assim que você me chamava quando me arrastava para algum esconderijo e tentava me beijar!
Aquilo bastou para o mordomo engolir todas as palavras que tinha para dizer e paralisar ali. Todavia foi o único que inquietou-se, pois os empregados e os filhos dos senhores Arantes ficaram boquiabertos! Mas o Sr. Carlos ao saber daquilo... Começou a mudar de cor, ficou vermelho de furor e saía fumaça de seus olhos.
- Como é? Você se engraçou com a minha esposa? - as palavras de Carlos soaram forte contra o rosto do mordomo.
- Quer saber? Foi isso mesmo! - afirmou o mordomo, com um sorriso debochado - E ela amava meus beijos, porque eu sim fui um homem de verdade! Ao contrário de você, que sempre foi um...
Não deu tempo nem do mordomo concluir a frase e Carlos o acertou com um soco no nariz! No que ele caiu sobre a mesinha de centro, quebrando as decorações. Mas ainda virou-se para Carlos para rir de sua cara.
- Seu desgraçado! Ordinário! Infeliz! - gritava Carlos, querendo bater mais no mordomo, mas sendo segurado pelo filho Thiago - Me solte, Thiago! Eu quero acabar com esse cretino...
E tudo isso Ruan assistia sentado no sofá, a revirar os olhos, pois haviam estragado todo o clima de mistério ao começarem aquela briga.
~*Continua...