~*SENHOR DAS DESCONFIANÇAS*~ cap. XL

No dia seguinte, Sexta-feira, nos jardins da mansão estava o jardineiro Jacó de joelhos no chão a plantar uma muda no solo, quando apareceu por trás o detetive e ficou em silêncio a observar o cuidado que o jardineiro tinha ao ponhar a terra no pé da muda. Ao se virar para pegar outra muda, Jacó notou a presença de Ruan ali e levantou-se.

- Detetive Gaspar! Você chegou com tanta discrição que nem o percebi - disse Jacó, fitando o rosto do detetive e reparando o ferimento em seus lábios - Me desculpe em perguntar, mas, o que houve?

- Um desastre - falou o detetive, num tom de aflição e inspirou o ar e logo soltou-o.

- Um desastre? - ele franziu o cenho ao repetir - A que se refere?

- Por minha causa o senhor Arantes descobriu a verdade sobre os pais do senhor Henrique Sanches.

- Então ele já sabe de tudo?

- Sim - confirmou e em seguida apontou para si mesmo, com uma expressão de acusação na face -, graças a esse estúpido aqui.

- Não se culpe, detetive! Meu sobrinho já estava indo longe demais com essa mentira - olhou na medida dos ombros - Cedo ou tarde a verdade teria de aparecer. Esse é o preço pela vergonha que ele tem dos próprios pais.

- Mesmo assim - Ruan deixou o cenho cair e meneou negativamente a cabeça, com lentidão -, eu não deveria ter me metido em sua vida pessoal, nem na amizade de anos que ele tinha com o senhor Arantes... Não devia ter eu revelado a verdade, não era algo que dizia respeito a mim!

- Entendo...

- Mas não vou continuar com esse peso na consciência - levantou o rosto, dizendo com firmeza.

- O que vai fazer?

- O que deve ser feito.

~*~

Thalia estava na cozinha, encostada no balcão, a conversar com a cozinheira Maria que lavava a louça; elas trocavam risos em meio de conversas descontraídas, falavam de culinária e coisas desse tipo. Então a porta da cozinha se abriu, as duas se viraram para saber de quem se tratava e, vendo que era Ruan, Thalia imediatamente desviou o olhar e voltou a mirar na direção da pia em sua frente. Ruan se aproximou do balcão e parou bem ao lado de Thalia, apoiando o tórax no móvel e pondo os braços sobre ele, enquanto fitava Maria em sua frente; Thalia ficou tensa com a aproximação do detetive e evitou olhar para ele naquele momento.

- Bom dia, detetive Gaspar - Maria saudou-o gentilmente.

- Bom dia - disse Ruan, que virou-se para o lado, mantendo só o braço direito encima do balcão e mirando em Thalia - Bom dia.

- Bom dia, detetive - falou Thalia, tão baixo que Ruan quase não compreendeu.

- Posso falar um instante com a senhorita?

Thalia consentiu e Ruan pediu licença a Maria para se retirarem da cozinha. Então foram para o salão de refeição, onde puderam falar à sós; Thalia apoiou as mãos nos ombros de uma das cadeiras da grande mesa, estando de pé, enquanto Ruan ficou ao seu lado.

- Se for sobre o que aconteceu ontem... - dizia Thalia, que teria o perguntado antes mesmo de se dirigirem para ali, só não o fez em razão de que Maria estava na cozinha e suspeitaria da conversa.

- Vamos esquecer isso, certo? - Ruan disse, tocando-a no braço; ele não tinha ideia de como aquele singelo contato extremecia Thalia por dentro - Estou aqui porque combinamos de irmos hoje à casa de sua avó Eloise, porém, antes preciso resolver uma coisa e queria te pedir que me esperasse, para assim podermos ir.

- Por que está ferido? - ela perguntou, prestando atenção nos lábios de Ruan.

- Ah, isso aqui? - ele apontou para o ferimento, sem esperar que Thalia fosse desviar tão repentinamente do assunto para notar aquilo e olhou desconsertado para o lado ao explicar - Foi só um desentendimento com o senhor Sanches.

- O amigo de meu pai?

- Sim - Ruan voltou a fitá-la -, mas admito que mereci o soco.

- Ele te socou? - Thalia indagou surpreendida.

- Pode-se dizer que sim, mas repito que mereci! E é exatamente isso que estou indo resolver.

- Não me diga que vai se vingar?

- Não, isso não! - ele riu, achando graça nas palavras de Thalia.

- Dói? - Thalia questionou num tom manhoso, tendo a vista presa nos lábios dele.

- Levar um soco? Posso dizer que não é tão confortável - Ruan voltou a rir e dessa vez também conseguiu arrancar uma risada de Thalia - Bom, então vai me esperar?

- Tudo bem. Mas então, quando iremos?

- Acredito que se eu regressar rápido, ainda essa tarde.

- Está bem - ela disse.

- Então até mais tarde - Ruan mostrou um amável sorriso, no que deu de ombros e olhou mais uma vez para Thalia antes de cruzar a porta.

- Boa sorte! - foi só o que Thalia encontrou para dizer em resposta daquele último olhar.

Então Ruan saiu da mansão em busca do xofer, encontrando-o perto dos portões, a passar uma franela no vidro da janela do carro para limpar uma indesejada mancha.

- Bom dia - Ruan o cumprimentou quando chegou até ele.

- Bom dia, detetive - o xofer disse, cessando o movimento e prestando a atencão ao detetive - Posso ajudá-lo em algo?

- Alguém precisará de seu serviço em instantes?

- Acredito que não.

- Sabe onde mora o senhor Henrique Sanches?

- Sim, senhor.

- Poderia me levar até lá?

- Claro - disse o xofer, adiantando-se em abrir a porta do automóvel para Ruan.

- Mas eu gostaria que não comentasse isso com o senhor Arantes - Ruan falou antes de subir no carro -, ele pode não gostar de saber.

- Como quiser - ele fechou a porta após Ruan entrar no carro e fez a volta para sentar ao volante.

A mansão do Sr. Sanches ficava muito longe dali e ao avistá-la quando o xofer informou-lhe de que era aquela, Ruan teve a certeza de que pelo menos o Sr. Sanches tinha uma boa condição financeira. Ele desceu do carro e o xofer retornou à mansão, depois de ter combinado buscar Ruan mais ou menos duas horas depois. Ao tocar a campainha, Ruan foi atendido por uma mulher de uniforme, que acreditou ser a empregada da casa.

- Bom dia - Ruan cumprimentou-a com um movimento da cabeça.

- Bom dia - a empregada disse, sem muita reverência.

- Eu gostaria de falar com o senhor Henrique Sanches. Ele se encontra?

- Sim - ela respondeu e abriu o braço para Ruan passar para dentro da sala - Entre!

Ruan pediu licença e entrou, então a empregada lhe ofereceu assento numa belíssima poltrona e ele se sentou.

- Só um instante, vou chamá-lo na biblioteca - disse a empregada, dando dois passos para o lado, mas voltando-se novamente para Ruan - Quem deseja? Para que eu possa repassar a ele.

- Diga que é o detetive Ruan Gaspar - falou Ruan, mirando na empregada -, ele me conhece.

- Está bem.

~*Continua...

Lyta Santos
Enviado por Lyta Santos em 10/10/2016
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