IRRESPONSABILIDADE SOCIAL

Cumpridor de suas obrigações aquele funcionário chegava sempre no horário, por anos seguidos, fora sempre um dos primeiros a bater o ponto na repartição pública, tinha que dar o exemplo aos colegas, e nunca dera motivos para alguns dos poucos superiores hierárquicos lhe chamarem a atenção. Orgulhava-se disso, seguia a risca seu compromisso com o trabalho. Mas aquele seria um dia diferente, fora levado às pressas por um colega a um hospital da cidade, bastante apreensivo desce rapidamente do carro, a passos rápidos adentra na casa de saúde.

Desesperadora era a situação daquele homem, frente à cena até então impensada, ao se deparar com a triste realidade, constatando o óbito da esposa, de um dos seus filhos, e do grave estado de saúde da sua mãe, valiosos membros de sua família, vitimadas num grave acidente de trânsito, ao serem atropeladas por um caminhão desgovernado, quando caminhavam numa calçada no tranquilo bairro que moravam.

Acostumado a muitos fatos corriqueiros, se dera conta da real situação ainda no trabalho, por o colega que acabara de atender um telefonema, lhe alertando não ser este somente mais um desatinado caso de imprudência nas ruas da cidade. Porque com ele? Era a pergunta que se fazia. Pai exemplar, cumpridor de suas obrigações com a família, acometido por aquela desgraça. Sobre forte aflição, jurou que o responsável pagaria por aquele ato, falaram que o condutor havia se evadido do local. Sendo funcionário do conceituado órgão de transito, não seria difícil descobrir o autor de tamanha tragédia, jurou que faria cumprir com a justiça nesse caso, que o “desgraçado” não ficaria impune.

Passados três dias, soube que o condutor estava sendo apresentado por um advogado na delegacia local, sem demora foi até lá, usando da sua prerrogativa de funcionário público, foi direto à sala do delegado. Informado que o condutor era habilitado, que estava capacitado para a condução de veículos pesados, e tinha a documentação do veículo em dia, que infelizmente essa foi mais uma fatalidade no perigoso trânsito, não aceitava essa afirmação deste fato, com sua família não!

Exigiu a presença do causador da tragédia, insistindo que este teria que pagar. A autoridade civil, atendendo a sua solicitação, mandou chamar o condutor do veículo. De pernas trêmulas, ficou com o rosto sem cor, ao reconhecer acompanhado por um advogado, o causador de seu infortúnio, perturbado senta-se levando as mãos a cabeça invadida por lamentáveis lembranças, das vezes que em sua alçada “facilitou” a aquisição das desejadas CNHs, (carteiras de habilitação) por pessoas incapacitadas, muitas já reprovadas em ré-testes de legislação, outras em testes de trânsito, algumas que em casos “especiais” não se prestaram nem em fazer qualquer um dos exames específicos para a comprovação da capacidade para desempenhar as concernentes funções de motorista e motociclista.

Afinal quem seria ele para impedir a alguém o prazeroso ato de dirigir, não por falta de um “jeitinho” prática esta usada por alguns colegas de ofício. Para ele seria apenas mais um a dirigir um veículo, afinal um simples e rápido exame não definiria a aptidão, tão pouco a responsabilidade de um condutor, certamente aprenderia com a prática no dia a dia, nas estradas dessa vida.

Mariano Silva
Enviado por Mariano Silva em 28/09/2016
Reeditado em 25/12/2016
Código do texto: T5775522
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