~*SENHOR DAS DESCONFIANÇAS*~ cap. XXV

Thalia estava tão envergonhada de seu comportamento infantil que foi impossível dissimular, seu rosto ao invés de corar rapidamente empalideceu, mas para Ruan tudo não tinha passado de uma simples brincadeira, sim, uma brincadeira demasiada ridícula, uma vez que ele foi a personagem das imitações de Thalia.

- Devia ter batido na porta - faiou Thalia para o detetive, num tom bem distinto do sentimento que lhe rasgava o peito naquele momento.

- Por quê? - indagou Ruan, dando um passo à frente e mirando a porta em suas costas - Ela não me fez nenhum mal.

Thalia entendeu o chiste do detetive, contudo não demonstrou um sequer sorriso, no lugar disso ocultou no pensamento a postura de um bobo que Ruan carregava nessa brincadeira e ela também! Tanto quanto ele, em suas atitudes de minutos atrás.

- Senhorita Celina - Ruan mirou a menina sentada na cama antes de retroceder o olhar a Thalia a uns quatro palmos de distância dele -, pode nos deixar à sós? Eu gostaria de ter uma conversa com sua irmã.

- Não, Celina - contradisse Thalia fazendo um sinal com a mão para que a menina não se movesse, à medida que a irmã dava um pulo da cama e se ponhava de pé, mas se manteu imóvel até então. Thalia não fez olhar para Celina, continuou com a vista fixa em Ruan, com seu olhar predador, mas ainda se referindo à sua irmã pequena - Fique aí. Pois, pelo que sei, o detetive tem como propósito entrevistar e não conversar.

- Então nos deixe à sós, Celina, para eu ter uma entrevista com sua irmã - Ruan remontou a frase, lançando para Thalia um olhar provocante que teve certeza de que a deixara demasiada inquieta em seu interior.

Sem ouvir mais nenhuma palavra, para revidar, de Thalia, Celina bufou de raiva e andou até a porta, mas vacilou antes de deixar o quarto.

- Por que não posso ficar? - questionou ela, cruzando os braços e esperando que alguém a pudesse responder, apesar de Thalia só ignorá-la.

- Porque eu deixei alguns chocolates te esperando lá na cozinha - disse Ruan, baixando a cabeça e rindo para a garota.

- Eba!

Celina correu desesperadamente para fora do quarto a dar gritos de alegria e Thalia e Ruan ficaram sozinhos no quarto, o que causou-a de fato um grande incômodo.

- O que quer? - ela mantinha os olhos fixos no rosto de Ruan, contudo já com um maior receio. Seu desconforto por estar só com ele ali em seu quarto a fazia recuar pouco a pouco cada centímetro e por constantes vezes mirar a porta aberta, por onde a qualquer momento entraria alguém e os veria ali, e isso não seria bom.

- Você sabe o que eu quero - dizia Ruan, que se manteve naquela posição, mesmo notando que Thalia se distanciava - Há dias quero entrevistá-la.

- Não vê que estou ocupada? - ela abriu o braço para mostrar os papéis com seus desenhos espalhados por toda a cama; todavia Ruan não se importou e não tirou o olhar dela.

- Até quando vai fugir de mim?

- Eu não estou fugindo - o tom da voz soou inseguro e abafado; suas mãos apertavam o tecido do vestido salmon que usava, como se isso a desse mais segurança.

- Não? - Ruan movimentou os pés, se aproximando alguns centímetros mais de Thalia e pôs as mãos nos bolsos da calça, enquanto esquivava um tanto a coluna para melhor fitar a moça - E o que acha que tem feito até agora?

- Não tenho culpa se só me procura quando estou ocupada - Thalia mostrou uma quantia de rispidez em sua fala, deixando os ombros encolherem.

- E eu não tenho culpa se a senhorita sempre se ocupa.

- Pelo menos não perco meu tempo - quis ter retido aquelas palavras, mas já era tarde.

- O que insunua? - franziu a testa ao indagar.

- Nada - ela deixou o olhar cair sobre o ombro, sem coragem para encarar Ruan naquele instante e saber como ele recebia sua resposta.

- Eu só espero que saiba, senhorita Thalia, que quanto mais foge dessa entrevista, mais sou obrigado a desconfiar de você...

- Quer me entrevistar? Está bem, façamos isso logo de uma vez! - exclamou Thalia, impulsionando os ombros para frente.

- Está falando em sério?

- Eu posso ao menos guardar meus materiais?

- Claro - respondeu Ruan, após um breve instante que precisou para crer que ouvira certo; então deu de ombros - Estarei a esperando em meu escritório.

Ele fitou-a uma vez antes de cruzar a porta e adiantou dois passos para fora ao ver Thalia se acercar da porta e segurar na maçaneta para fechá-la.

~*~

Ruan estava de pé diante da escrivaninha e organiza os livros que estavam pôstos sobre o móvel, deixando um acima do outro e bem alinhados; melhorou a posição da luminária e deslizou as pontas dos dedos na borda da escrivaninha para verificar se estava bem limpa e estava! Porquanto a faxineira Tayná fazia questão de luxar no escritório de Ruan; era incrível como ela se empenhava para brilhar os móveis daquela pequena sala. Estando tudo com boa aparência, Ruan girou o corpo e andou até a porta que permanecia totalmente aberta, encostou-se na porta enquanto mantinha as mãos nos bolsos e olhava para o vão do corredor; até o barulho da chuva parecia minimizar ao chegar nas paredes sombrias; em certo momento deixou o rosto cair sobre o piso e só voltou a erguê-lo quando passos no início do corredor anunciaram a aproximação de alguém; era Thalia. Ruan tomou uma postura formal para recebê-la e assim que ela se acercou da porta Ruan mostrou um cordial sorriso, ao qual Thalia respondeu com um mais tímido.

- Que bom que já está aqui - disse Ruan, mas tendo visto que aquelas palavras não tiveram nenhum efeito para Thalia, deu espaço para ela passar para o interior da sala primeiro e, tendo ela passado, ele encostou a porta.

Thalia dobrou os braços na altura do peito e sem se mover dali, passeou os olhos na pequena sala; fazia tempo que ela havia estado ali e muita coisa não havia mudado... A escrivaninha, a estante de livros, a vitrola, tudo era o mesmo, só que mais limpo e organizado. Depois dessa rápida visualização, ela de imediato dobrou o pescoço procurando por Ruan, que até esse momento esteve em silêncio; ele pediu sua licença se acercando da cadeira do convidado, no que Thalia deu um passo para o lado.

- Permita-me - disse Ruan, puxando a cadeira para Thalia se sentar.

- Obrigada - disse Thalia, sentando-se ao passo que suas mãos puxavam o vestido para não amassar.

Ruan fez a volta no móvel de madeira e tomou lugar na cadeira principal; quando os dois já estavam confortáveis em seus lugares, ele fixou a vista em Thalia e relaxou as costas na cadeira.

- Está pronta para a entrevista? - questionou ele, com a sombra de um sorriso amigável.

- Está pronto para a entrevista? - Thalia repetiu, num tom estável, enquanto encarava-o.

- Sou eu quem te pergunto - ele franziu levemente a testa e seus lábios escondiam uma certa graça, mas esteve tão confuso que não soube se deveria rir.

- Sou eu quem te pergunto - ela insistiu na imitação.

- Ah, então você gosta de brincar?

- Ah, então você gosta de brincar?

- Hhm... Você é uma gracinha - Ruan disse num tom mais provocante, ao passo que jogava os ombros para frente e fazia pressão nos braços dobrados sobre a escrivaninha. Suas palavras causaram um certo desconforto em Thalia e fez as maçãs do rosto da moça rosarem rapidamente.

- ...

Sob o sigilo de Thalia e a maneira indiferente que ela o fitou, Ruan deu uma gargalhada, levando o corpo a recostar na cadeira. Novamente se inclinou para frente e, esticando o braço direito, tocou com a ponta do dedo indicador a ponta do nariz de Thalia, uma atitude que a surpreendeu.

- Sua bobinha - disse Ruan, cheio de graça em seu semblante. Então recolheu o braço e retomou sua postura correta para agora falar em sério - Bom, acho que já podemos começar.

~*Continua...

Lyta Santos
Enviado por Lyta Santos em 19/09/2016
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