~*SENHOR DAS DESCONFIANÇAS*~ cap. XX

O Sr. Carlos Arantes subiu na cama de modo que ficou sentado de frente para sua esposa e nisso ela baixou o cobertor e abraçou-o desesperadamente.

- O que houve, Beatriz? - perguntou ele e olhou para o lado, reparando o estrago na janela - E quem quebrou a janela?

- Foi um ladrão? - Indagou o filho Thiago, com um semblante de apreensão e estando no pé da cama.

- Eu vi o fantasma da bruxa da sua mãe, Carlos! - respondeu a Sra. Beatriz Arantes, e sua voz soou abafada de tão ofegante que estava a respiração e todo o seu corpo tremia. Teve medo de olhar novamente a janela e pôs as mãos sobre o rosto para tampar os olhos - Ela apareceu na janela e... E eu aticei o telefone com muito medo e me escondi debaixo do... Do cobertor.

O detetive Ruan estava de pé próximo à porta enquanto assistia a cena em que a mulher apertava os braços de seu marido a ponto de rasgar sua pele e escondia o rosto no peito dele. Do lado de fora do quarto estava Tayná, Maria e também o mordomo que ouviram o grito de sua senhora e se preocuparam em ter conhecimento do que ocorrera. Então acercou-se Ruan da cama e pediu licença para Thiago para que pudesse falar com sua mãe e Thiago se sentou mais para cima da cama.

- Calma, Beatriz, tente se acalmar! - dizia o Sr. Arantes, tentando conter a inquietude da esposa que se debatia de medo.

- Sra. Beatriz, com calma - disse Ruan, tocando o ombro da mulher, mas sem obter sua total atenção -, conte-nos o que foi que realmente aconteceu.

- Eu estava dormindo e de repente despertei ao ouvir duas batidas na janela - ela puxou o ar profundamente para retomar o fôlego e poder falar com mais tranquilidade, porém em momento algum levantou o rosto para fixar o olhar no detetive - e quando olhei para o lado vi na janela o fantasma de Eloise!

- Deixe disso, Beatriz! - ralhou o Sr. Arantes, na medida em que a mulher sacudia a cabeça e tentava esquecer da imagem que agora atormentava seus pensamentos - Fantasma de minha mãe? Mais essa agora!

Ruan fez um gesto com a mão pedindo que o homem retesse um momento sua exaltação para poder ouvir o que a Sra. Arantes poderia mais o dizer.

- E como era esse fantasma? - perguntou Ruan, esfregando o queixo com as pontas dos dedos e levantando uma das sobrancelhas.

- E como poderia ser? - a Sra. Beatriz vociferou, alterada por conta do medo que estava sentindo e finalmente encarou o detetive para falar-lhe - Era a mãe de meu marido com os cabelos cinzas soltos e com um vestido longo e branco!

De repente apareceu Thalia na porta e ligeiramente se aproximou de seu pai e ficando também ao lado de Ruan, mas menosprezando-o, porquanto seus olhos eram exclusivos de sua mãe.

- O que aconteceu? - indagou Thalia, vendo a agonia da mãe.

- Sua mãe diz que viu um fantasma de sua avó na janela - respondeu o Sr. Arantes, deslizando as pernas até o final do colchão e pondo os pés no chão, para depois fazer sua esposa descer também, segurando seus braços, e olhou para Ruan nesse instante - Vou levá-la lá para baixo para se acalmar.

Ruan consentiu e deu dois passos para o lado deixando eles passarem. Thiago também os acompanhou junto à irmã Thalia, mas Ruan permaneceu no quarto a observar o ambiente cautelosamente.

- Tayná, recolha os vidros - ordenou o Sr. Arantes à empregada que ainda estava do lado de fora.

- Sim, senhor - disse Tayná, indo buscar os materiais para fazer a limpeza.

Dentro do quarto, Ruan caminhou até a janela, evitando pisar nos vidros espalhados pelo chão e chegou até a pequena varanda. As brisas serenas sopraram-lhe no rosto o frio da noite, no alto um céu negrume e com poucas estrelas, mas com uma esplendorosa lua cheia amarelada; ocultos entre os jardins da mansão insetos que emitiam sons agradáveis e imconfundíveis e pelos ares e árvores pássaros da noite. Tudo isso Ruan contemplava, todavia lhe interessava perceber alguma coisa relacionada à aparição na janela, uma pista talvez... Mas mirando lá embaixo tudo andava muito quieto e aos lados também, nada que fosse suspeito. Entretanto sua velha mania de desconfiar não o deixava apenas na ideia de uma repentina aparição fantasmagórica! Para ele tinha algo estranho nesse acontecimento. E Prestando bem a atenção, ele notou preso às grades de segurança um pedaço de tecido, recolheu-o e num rápido instante assemelhou-o com o tecido que viu Thalia segurar quando subiu até seu quarto para chamá-la para a entrevista. Sim, ele tinha certeza, era o mesmo tecido! Foi apenas olhá-lo na palma de sua mão para reconhecê-lo. Então guardou o tecido no bolso da calça e retrocedeu para dentro do quarto, onde Tayná chegara com uma vassoura e uma pá de lixo para recolher os pedaços de vidro.

- Espere - disse Ruan, com um gesto que fez com a mão e Tayná não se moveu. Ele agachou-se e observou os vidros, havia algo desenhado nos pedaços. Tomou nas mãos um desses pedaços e após uma breve análise percebeu que eram palavras escritas a batom! Pediu a Tayná um saquinho e foi pondo dentro dele todos os pedaços de vidro que tinham as palavras em batom. Como o vidro era forte, o impacto do telefone lançado pela Sra. Arantes só fez a vidraça se quebrar em poucas partes. E deixou Ruan que a empregada varresse o restante e foi guardar o saquinho com os vidros em seu quarto.

~*~

No grande salão da mansão, o Sr. Arantes ficou sentado no sofá com a esposa confortada em seu peito e o mordomo serviu-lhe um copo d'água. O detetive descia a escada e do meio dela reparou quando Thalia entrou com o xofer na sala de janta, porém mais ninguém os reparara, uma vez que estavam mais preocupados com o estado da Sra. Arantes. Então Ruan terminou de descer a escada em passos silenciosos, mas surgiram outros que desciam como tiros na madeira! Alguém deu-lhe um empurrão para o lado ao passar alvoroçadamente. Segurando-se no corrimão, Ruan olhou para baixo e viu que se tratava apenas da menina Celina que foi correndo para perto dos pais.

- Celina, o que está fazendo aqui? - perguntou o Sr. Arantes ao encontrar a menina ali, vestindo seu pijama e com os cabelos amassados.

- Eu ouvi todo mundo conversar e quis saber o que faziam - Celina disse, estranhando o rosto amedrontado de sua mãe, que tentou dissimular diante da menina - O que aconteceu, mamãe?

Com a vista fixa na menina que aparecera o assustando até aquele momento, Ruan não esperou ouvir a resposta da Sra. Arantes, abandonou a cena do salão principal e chegou até a porta da sala de janta, onde Thalia havia entrado com o xofer; pôs a mão na maçaneta e com muita cautela ele girou-a, abrindo só um pouco a porta para espiar o interior da sala. Viu Thalia e o xofer já no meio de uma conversa.

- Nunca devíamos ter concordado com isso! - falou o xofer, apoiando as mãos sobre a mesa e deixando o rosto caído. Ele era um homem de boa aparência, não aparentava passar dos quarenta anos; tinha cabelos negros a gel e pele clara. Ainda vestia seu uniforme de trabalho, um terno escuro e uma luva branca em uma das mãos.

- Eu sei - Thalia disse, a fitá-lo inquietamente.

- Thalia! - gritou o Sr. Arantes lá do primeiro salão.

Tendo ouvido o pai lhe chamar, Thalia virou-se para a porta e Ruan que estava a espioná-los pela brecha escondeu-se depressa na escuridão do corredor bem ao lado, sendo que quando Thalia saiu do salão de janta não o notou ali.

- Diga, meu pai - ela se aproximou do sofá em que estavam seus pais e Celina escorada.

- Leve sua irmã de volta para o quarto - disse o pai, servindo seu ombro de consolo para a esposa que parecia se acalmar.

Thalia assentiu e pegou na mão de Celina, conduzindo-a até o andar de cima e só Thiago permaneceu no salão com os pais.

~*Continua...

Lyta Santos
Enviado por Lyta Santos em 08/09/2016
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