~*SENHOR DAS DESCONFIANÇAS*~ cap. XVII
Na sala em que ficavam os monitores, não havia nada demais se não somente os monitores e uma cadeira com rodinhas, que lembrava a do escritório de Ruan na agência, de frente para os mesmos monitores, muita poeira sobre eles e um computador. O detetive Ruan Gaspar até procurou coisa mais distinta e meritória mas, ao dar a volta nas paredes com o olhar, só terminava nos monitores empoeirados e assemelhou aquela sala a seu pequeno escritório, uma caixa de sapato fechada e cheia de traças.
- Alguém fica aqui na sala? - perguntou o detetive Ruan ao mordomo.
- Para ser sincero, não o bem sei, senhor - dizia o mordomo, inseguro de seus pensamentos -, mas acho que todos estão sempre muito ocupados ou indispostos, se é que vê diferença nessas duas situações, para frequentar essa sala.
- Entendo - pregou a vista nas imagens que apareciam nas telas acesas e mostravam partes do salão principal e dos fundos da mansão - Ficarei aqui por enquanto, não se incomode em permanecer comigo.
- Como preferir, senhor, peço licença para regressar ao salão - deu um impulso com o corpo para frente enquanto as mãos estavam acolhidas nas costas -, se desejar algo mais, estarei à disposição.
- Sim, obrigado - se direcionou até à porta para despedir o mordomo.
- Com licença - o mordomo saiu.
Ruan estava decidido a passar aquela noite assistindo aos monitores na espera de flagrar algo suspeito e se sentou diante das telas. Havia passado cerca de uma hora e meia, quando ele não viu nada de anormal nas telas, mas sim do lado de fora ou em alguma sala vizinha um barulho. Levantou-se e caminhou para fora da sala, com passos discretos foi investigando o corredor, até que voltou a ouvir barulhos por trás da porta de uma das salas. Tocou a mão na maçaneta e girou-a, abrindo lentamente a porta. Entretanto as luzes da sala estavam apagadas, contudo havia um homem de costas a recolocar um quadro na parede e virou-se depressa quando percebeu a porta sendo aberta.
- Sr. Arantes? - Ruan pôde reconhecê-lo no instante em que se voltou para ele.
- Detetive Gaspar! - disse um pouco surpreso e o quadro já estava na parede.
- O que tem atrás do quadro? - perguntou o detetive à medida que cruzava a porta e se acercava do Sr. Arantes.
- Ah, são só as fotografias que me restaram de minha mãe - ele deixou o olhar cair sobre o ombro e franziu os lábios, demonstrando um semblante angustiado. E tratou de retirar o quadro novamente para mostrar o cofre ao detetive.
- Pode abrir para mim?
- Mas são só fotografias...
- Se é só isso, então abra.
O Sr. Arantes consentiu, embora no ponto de vista de Ruan parecesse de algum modo desconfortável e com a mão escondeu a tranca com combinação do cofre, para que o detetive não soubesse da senha enquanto girava de um lado a outro a tranca. Depois de alguns segundos o cofre foi destrancado e o Sr. Arantes o abriu.
- Vê? - perguntou ele, remexendo nas fotografias espalhadas dentro do cofre - Só fotografias.
Ruan olhou mais de perto, mas não chegou a mexer nas fotografias, tão somente observou, pondo para trás as mãos.
- E por qual razão as mantêm escondidas no cofre? - indagou Ruan.
- É como te disse, foram as últimas que me restaram - explicava, movimentando as mãos - e achei melhor guardá-las aí sem que ninguém soubesse, pôsto que ainda não tenho conhecimento de quem sumiu com as demais fotografias e pertences de minha mãe.
- Claro - falou, fitando o homem com um olhar meio desconfiado.
- Não vai contar a ninguém que há esse cofre aqui, vai?
- Não - deu de ombros e simplismente cruzou a porta, virando-se só um pouco antes de voltar à sala dos monitores - Estou observando os monitores das câmeras que o senhor instalou pelos cômodos da mansão, quem sabe vejo alguma coisa...
- Ah, sim, fique à vontade - disse, trancando o cofre e colocando o quadro por cima, depois andou até a porta para sair da sala - Eu vou dormir agora.
- Durma bem - falou Ruan enquanto o outro fechava com cuidado a porta.
- Obrigado e, boa sorte - olhou pela última vez para o detetive que saiu caminhando até a sala de monitoramento, e então foi para seu quarto dormir.
~*~
O relógio no pulso esquerdo de Ruan começou a apitar marcando 05:00h da manhã, mas foi silenciado com um golpe que falhou na primeira vez mas que na segunda tentativa acertou o botão de desligar do relógio. Foi uma noite comprida passada naquela sala vazia e pacata, o detetive nem sabia ao certo se havia permanecido todo o tempo com os olhos abertos, ou se teria em algum momento cochilado. As telas de frente aos seus olhos sonolentos pareciam mostrar filmagens de um museu fechado, nenhum movimento, nada. Enfatigado com a quietude deprimente, Ruan deslizou a cadeira um pouco para trás e se colocou de pé; cuidadoso ele abriu a porta sem emitir nenhum barulho e saiu da sala, descendo até o grande salão da mansão. Lá embaixo já se encontravam de pé o mordomo e a faxineira Tayná, essa última batia o espanador desanimadamente nos móveis, sem muito se importar com uma limpeza caprichada, ao passo que bocejava umas duas ou três vezes.
- Vai acabar se exaustando dessa forma - disse o mordomo à medida que abria o janelão.
- Quem fala é aquele que só faz abrir e fechar a porta - revidou Tayná, se deixando cair no sofá e colocando os pés sobre o centro decorativo, mas ouvindo passos na escada, se levantou ligeiramente.
- Bom dia - Ruan os saudou, depois de descer a escada.
- Bom dia, senhor Gaspar - disse primeiro o mordomo.
- Bom dia, detetive Ruan Gaspar - falou em seguida Tayná, mostrando um sorriso travesso.
Ruan mirou nas câmeras nas paredes e se acercou do mordomo, esse outro já se adiantou dois passos à frente para ouví-lo. O detetive revirou a cabeça de um lado a outro, com um ar de dúvida.
- Onde posso conseguir uma escada? - perguntou Ruan.
- Há uma na salinha de materiais de limpeza - respondeu o mordomo, olhando rapidamente para o corredor direito e voltando o rosto para o detetive -, o senhor deseja que eu a busque?
- Se puder - abriu um sorriso de gratidão.
- Com licença.
O mordomo entrou no corredor direito e de dentro de uma salinha retirou uma grande escada e a levou até o salão.
- Onde a ponho, senho Gaspar? - ele perguntou, olhando para os dois lados do salão.
- Aqui - disse Ruan, apontando para a parede da frente.
O mordomo encostou ali a escada e Ruan pediu que ele a segurasse enquanto subia. Subindo Ruan a escada, alcançou a câmera de filmagem e tentou desinstalá-la, nessa hora apareceu o Sr. Arantes e vendo-os ali estranhou.
- O que faz aí? - indagou o Sr. Arantes, com o rosto levantado para o detetive no alto da escada.
- Ah - Ruan olhou para baixo e já estava com a câmera na mão -, estou retirando as câmeras.
- E... Por quê?
Ruan desceu a escada com o apoio de apenas uma das mãos, porquanto com a outra segurava a câmera, e se colocou de frente ao Sr. Arantes.
- Ouça, Senhor Arantes - dizia Ruan, mostrando a câmera -, essas câmeras nas paredes dizem: "não aprontem, eu estou de olho!" e acredito que seja por isso que nada de incomum tem acontecido aqui. Então adeus câmeras.
- Mas eu as instalei exatamente para descobrir...
- Se o senhor me chamou aqui é porque as câmeras na verdade não podem ajudá-lo totalmente. Certo?
- Bem...
- Confie em mim!
~*Continua...