~*SENHOR DAS DESCONFIANÇAS*~ cap. XVI

Eram 11h:40min daquela mesma manhã e Ruan estava no salão principal da mansão, olhando através do janelão o grande jardim lá fora e Jacó, o jardineiro, aparar a grama. De repente um carro preto passou dos portões da mansão e parou ali perto. O xofer saiu do automóvel e deu a volta para abrir a outra porta de trás, de onde saiu a menina Celina com seu uniforme escolar e arrastando uma mochila de rodas. Ela correu desesperadamente para a porta da mansão, tocando a campainha consecutivamente, com seu jeito de criança que causava graça ao detetive.

- Pelos céus! - disse Ruan ensurdecido, virando o rosto para o mordomo que se aproximava com agilidade da porta, e dando uma gargalhada.

O mordomo sorriu para o detetive, ainda que não fosse algo comum de fazer em seu serviço, mas o detetive não era rígido e mau encarado como seus senhores, o que dava ao mordomo um pouco de liberdade para expressar seus sentimentos e naquele momento como lhe enlouquecia a campainha tocando sem parar.

- Olá, senhorita Celina - falou o mordomo ao abrir a porta, baixando a cabeça e vendo a menina o entregar a mochila e empurrá-lo para adentrar na sala.

E da escada descia a Sra. Beatriz Arantes, sabida de que àquela exata hora a filha estaria chegando do colégio e abriu os braços para receber a menina. Logo mais, chegou o Sr. Carlos Arantes, esbojando sorrisos ao entrar na mansão e movimentando a cabeça de um lado a outro, muito agitado.

- O almoço já está pronto? - ele perguntou ao ar e massageou a barriga - estou faminto!

- Isso é jeito de chegar, Carlos? - ralhou Beatriz, lançando um olhar de reprovação ao marido.

- Robison - voltou-se para o mordomo ao lado da porta, ignorando as palavras de sua mulher -, diga para meus filhos descerem para almoçarmos, tenho uma grande novidade para contar!

~*~

Durante o almoço na mansão, Ruan ficou na cozinha, espionando pela porta entreaberta a sala anterior onde almoçavam. Só esperava ouvir o que o Sr. Arantes tinha a dizer.

- Acabo de me candidatar para prefeito! - contou o Sr. Arantes e a reação de todos foi similar, cuspidas nos pratos.

- Prefeito? - indagou a Sra. Arantes, após se engasgar e beber um copo cheio d'água - você não sabe nem cuidar de você, muito menos dessa cidade!

- Cale essa boca! - mostrou uma cara rabujenta para a mulher e mirou no filho Thiago ao seu lado - Então, meu filho, não vai dizer nada ao seu pai?

- Pa-parabéns! - disse Thiago, simulando estar orgulhoso do pai e com um sorriso desajeitado.

- E você, filha minha - olhou para Thalia, que nessa hora tirou os olhos do prato e levantou lentamente o rosto para fitar o pai -, o que achou disso?

- Muito... Felicitante, meu pai - respondeu Thalia, esforçando-se em estender os lábios para sorrir.

- Pensei: "esta é a maneira mais rápida de se ganhar dinheiro" - falou o Sr. Arantes, com os olhos fechados e um sorriso imodéstio.

- Roubando? - indagou a esposa, conseguindo a atenção de todos na mesa e era aquilo mesmo que a agradava, ser sempre o centro das atenções com suas provocações inevitáveis.

- Não, Beatriz - revidou, encarando a esposa e meneando negativamente a cabeça -, mas você me parece entender muito sobre o assunto... Ainda mais quando se diz respeito às coisas da minha mãe!

Começada aquela discussão, Ruan se afastou da porta com um ar de tédio e se acercou do balcão em que Tayná estava encostada a fitá-lo com um olhar de interesse, e se sentou.

- O senhor deseja que eu lhe sirva um prato? - perguntou Maria, de detrás do balcão.

- Seria bom - disse Ruan, sorrindo, sem deixar também de notar como Tayná mordia os lábios e brincava com os cabelos. E ali mesmo ele fez sua refeição.

Já quando chegou a noite, Ruan estava no primeiro salão da sala, sozinho, era realmente surpreendente como após cada refeição em que a família Arantes se reunia na mesa rapidamente se dividia e desaparecia em algum lugar. Nem mesmo o mordomo se encontrava ali, onde poderia ter ido? Repentinamente apareceu Thiago descendo a escada e dessa vez ele notou o detetive sentado ali na sala e mostrou-lhe um curto sorriso antes de entrar no corredor à direita que levava ao porão. Dessa vez estava sem a mala, Ruan reparou. Todos esses detalhes que lhe chamavam a atenção e lhe fazia desconfiar, ele ia anotando no caderno e até deixara o potinho de creme para mãos no centro de decoração, porquanto sabia que logo precisaria dele.

Alguns minutos depois, Thalia entrou pela porta, passou pela sala e Ruan estava passando o creme nas mãos, quando ambos se entreolharam. Thalia desviou o olhar e saltou o primeiro degrau da escada, à medida que Ruan se levantava depressa.

- E a entrevista - ele disse alto para chamar a atenção de Thalia, mas ela pareceu não ouvir, ou fingiu, tendo subido toda a escada e dobrado o corredor. Então Ruan parou de frente ao primeiro degrau e deixou os ombros caírem - esqueceu?

Nesse instante Ruan ouviu passos vindos de alguma direção e dobrou o pescoço, olhando para trás, então viu o mordomo saindo do corredor esquerdo, o mesmo corredor onde ficava o escritório de Ruan, que nesse momento esteve muito feliz por carregar sempre com ele a chave da salinha. E em sequência viu a Sra. Beatriz.

- Obrigada por me ajudar com aquelas caixas velhas, Robison - disse Beatriz, fitando Ruan de frente à escada.

- Não tem de quê - falou o mordomo, sem o intuito de acrescentar quaisquer outras palavras àquela frase, todavia decidiu que deveria complementá-la, ao perceber só um pouco depois que o detetive estava ali a observá-los - É... Minha senhora.

Beatriz passou pelo detetive e não o fitou, subindo assim a escada. Mas o mordomo permaneceu no salão, em sua posicão de sempre. Ora Ruan virou-se e com as mãos para trás e o rosto levantado, olhou para os quatro cantos da sala, onde estavam as câmeras de filmagem. Depois baixou o rosto na direção do mordomo.

- Essas câmeras ainda funcionam? - perguntou Ruan.

- Estou quase certo de que sim, senhor - o mordomo respondeu, jogando um rápido olhar nas câmeras nas paredes.

- E onde fica a sala com os monitores?

- Fica no fundo do corredor esquerdo do andar de cima, senhor.

- Poderia me levar até lá?

- Claro.

O mordomo deu um passo à frente e esperou o detetive se aproximar, para que pudessem seguir lado a lado. Subiram a escada e caminharam todo o corredor até uma sala bem no fundo e o mordomo tratou de abrir a porta e deu licença para que o detetive entrasse primeiro.

~*Continua...

Lyta Santos
Enviado por Lyta Santos em 03/09/2016
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