~*SENHOR DAS DESCONFIANÇAS*~ cap. VII

Satisfeito com o interrogatório e com as respostas de Carlos, o detetive Ruan pôs um fim e voltou o rosto para ele.

- Agora eu gostaria que o senhor convocasse todos os que convivem na mansão, familiares, empregados - citava o detetive -, para virem até aqui. Preciso conhecer cada um.

- Claro - disse Carlos em consentimento e fez um sinal com a mão para que o mordomo ao lado da escada se aproximasse - Robison, peça em meu nome para que todos dessa mansão, sem excessão de nenhum, compareçam aqui.

- É para já, meu senhor - falou o mordomo, se retirando em sequência.

Após alguns minutos, desceram da escada cada um da família de Carlos e de outros cômodos surgiram os empregados da mansão. Os familiares de Carlos formaram uma fileira num lado do salão e os empregados ficaram separados em outra do outro lado. O detetive ficou de frente para eles, com as mãos que seguravam seu caderno e caneta para trás, enquanto Carlos ao seu lado o apresentava para todos.

- Esse é o detetive Ruan Gaspar, está aqui por um motivo que a maioria de vocês já deve conhecer - dizia Carlos, pondo uma das mãos no bolso da calça enquanto a outra estava apontada para o detetive -, investigar o desaparecimento inexplicável das coisas de minha falecida mãe. Ele pediu que eu os chamasse até aqui porque tem o propósito de conhecer cada um de vocês. Ah, também os aviso de que o detetive Gaspar permanecerá na mansão até o caso ser totalmente solucionado e tudo o que ele exigir de seus serviços ou outras coisas será com minha total permissão, portanto quero que o atendam, como se atendessem à mim. Fui claro?

Esta última pergunta tirou os empregados de seu entreolhares indiferentes e apreensivos e levou a uma combinada série de consentimentos que passava despercebida por Thalia e faltava na Sra. Beatriz.

- Pode me apresentar cada um? - perguntou o detetive com o rosto virado para Carlos e aprontando o caderno e a caneta para as anotações. Carlos assentiu e foi para a ponta da primeira fileira de pessoas, que começava com Beatriz.

- Esta é minha chata esposa Beatriz - ele a apresentou, sob um olhar negro da esposa.

- Não lembro dele mencionar a precisão dos adjetivos - ralhou Beatriz com Carlos e ele encolheu os ombros.

Ruan se colocou de frente a Beatriz, a observou por alguns segundos, fez anotações no caderno e deu um passo para o lado, para conhecer o próximo da fileira.

- Esse é meu filho mais velho, Thiago - disse Carlos, com um semblante neutro ao referir-se ao filho -, tem vinte e três anos e está cursando Medicina.

Ruan observou o rapaz. Thiago era de boa aparência, lembrava bem o pai, seus traços, os cabelos castanhos, a maneira como olhava e outras coisas. Após apreciá-lo, Ruan deu mais um passo para o lado e seu olhar se perdeu no vão do salão. Mas ao baixar o rosto viu a pequena menina Celina segurando a mão do irmão.

- Essa é minha princesinha Celina - disse o pai, com um sorriso amoroso para a menina, mas que logo foi substituído por um olhar de confusão -, é a mais nova, está com seis anos e no primeiro ano do ensino fundamental. Estuda pela manhã, não entendo o que está fazendo por aqui...

A menina baixou o rosto sob o olhar avaliador do pai e Ruan se agachou para observá-la melhor.

- Minha irmã disse que você é um tipo de gente que vive bisbilhotando a vida dos outros - falou Celina, enfrentando o detetive. Nesse momento Thalia apertou os lábios, sem esperar que sua irmã fosse mencionar tal coisa.

Ruan levantou uma das sobrancelhas, um pouco surpreendido com as palavras da criança, ao passo que Carlos deu um risada balela e puxou a menina para encostá-la em suas pernas.

- Ela também gosta de fazer brincadeiras atrevidas - disse Carlos, que mostrou um olhar reprovador para Celina e ela ficou em absoluto silêncio.

Ruan ainda anotava algo no caderno enquanto agachado, e com indignação Carlos puxou Thalia que estava junto aos empregados na outra fileira para o lado de Thiago, para poder apresentá-la. Thalia gostava de se misturar com os serviçais e não considerava em rigor as normas da alta sociedade, o que tirava seu pai do sério.

- E essa é Thalia, minha filha do meio -ele contou - tem vinte e um anos e ainda não faz faculdade.

Ruan ainda estava se colocando de pé quando Carlos dizia isso e, ao fixar o olhar em Thalia, ela virou o rosto para o lado em que estavam os serviçais e evitou enfrentá-lo. Ruan só a observou por mais alguns segundos a mais que os anteriores, até abandonar a imagem da moça e se deslocar para o outro lado. Carlos ainda apresentou ao detetive a faxineira, a cozinheira, o jardineiro, o mordomo e o xofer. Terminandas as apresentações, Ruan se pôs de frente para todos e pondo os braços nas costas começou a balançar o corpo em lentidão para frente e para trás, enquanto dava os últimos avisos.

- Para iniciar, eu entrevistarei cada um de vocês - ele disse, e ouviu-se murmúrios, em principal os que vinham de Beatriz -, mas as entrevistas só começarão amanhã. Portanto, já podem se acalmar.

Dito isso e seguro de que não faltava mais nada para aquele momento, Ruan fez um gesto de consentimento com a cabeça para Carlos, para dizer que já podia dispensar todos.

- Já podem se retirar - disse Carlos a sacudir a mão de um modo humilhante para despedir os empregados. Mas com sua família foi mais delicado.

Tendo todos retomado suas atividades que foram interrompidas pelo chamado de seu senhor a pedido do detetive Ruan, exceto Beatriz, que permaneceu no salão, Carlos já ia abrir a boca para dizer algo para ela, mas Beatriz virou-se com peito estufado e seu casual modo grosseiro de se comportar para o detetive.

- É bom lembrá-lo, detetive Ruan Gaspar, de que há outros que frequentam esta casa em visitas constantes - olhou na altura dos ombros, e Carlos, que estava do lado, deduziu que ela se referia a seu grande amigo - que merecem muito mais de sua desconfiança e a eles sim você deveria solicitar uma entrevista.

- Refere-se a Henrique, Beatriz? - ralhou Carlos, cruzando os braços e pensando em revidar.

- Eu já estou ciente disso, Sra. Beatriz - disse Ruan ao se aproximar dois passos de Beatriz, tomando a vez e deixando Carlos sem espaço -, não se preocupe. Irei tratar com seu marido a respeito dos que mais visitam a mansão assim quando eu bem entender que o deva fazer.

Com esse contesto, Beatriz espremeu os olhos em discórdia, as palavras do detetive tiveram poder para cala-la.

- Agora, se me permite, senhor Arantes - ele dizia, girando o rosto para Carlos -, eu gostaria de conhecer meu novo escritório.

- Sim, claro, venha comigo - Carlos passou na frente para o detetive segui-lo, e ao passar pela esposa, que até então permanecia sem mais exaltações, balançou a cabeça uma vez e lançou um resmungo para mostrar que ela havia merecido as palavras do detetive - Hum!

~*Continua...

Lyta Santos
Enviado por Lyta Santos em 22/08/2016
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