A fuga - parte 5

Não é intenção de Bruce empreender qualquer tipo de agressão física; quer apenas uma satisfação de seus atos tiranos, que vêm prejudicando grande número de presos.

-Quem está pensando que é, o imperador de Roma? Acha que tem o direito de ser cruel e injusto só porque tem um poder nas mãos?

Wilson nada responde. Da mesma posição em que havia interrompido os passos, encara fundo nos olhos de Bruce; é um olhar altaneiro, de superioridade. Isto enche Bruce de um ódio incontrolável. O grupo de detentos com quem conversava assiste a cena com certa indiferença e impassividade. Há outros grupos espalhados pelo pátio. É uma tarde de sol, mas de temperatura agradável.

-Então, o que diz? Vai ficar aí me olhando feito um paspalhão covarde?

Isto foi a gota d’água para a paciência de Wilson; o sangue sobe-lhe de repente à cabeça. De olhos arregalados, rubicundo e irado, desfere violento soco, de baixo para cima, atingindo Bruce no queixo, de forma precisa, jogando-o para trás na direção dos outros companheiros. Três ou quatro agarram-no, evitando assim sua queda. Ele quer desvencilhar-se e partir para cima do agressor, mas não lhe permitem que assim faça.

-Calma! Esfrie a cabeça; não revide, seria a sua morte. - Bruce olha para o que dissera esta frase; reconhece-o. É um dos mais antigos prisioneiros de Blue Mount. Deve ter entendido o que dissera o outro; tem tempo de refletir e desistir do contra ataque. Apenas acompanha com o olhar enquanto Wilson se afasta, massageando a mão que lhe acertara.

O homem que desmotivou Bruce de reagir contra a provocação de Wilson é Norman. Condenado a prisão perpétua por assassinato, já se encontra ali há vinte e dois anos. Participara de uma das mais violentas rebeliões que já houvera em Blue Mount. Tem, portanto, experiência e conhece os pontos fracos - que são poucos, porém importantes - da instituição. Por causa deste evento, Bruce, que ainda não tivera chance de travar contato com Norman, torna-se seu amigo, embora não seja este termo muito apropriado para ser aplicado dentro de um presídio. Os contatos são rápidos, porém de grande significado para o que trazem em mente. Jordan e Norman pertencem a mesma galeria. Por serem os três muito visados aproveitam bastante bem as chances de estarem juntos; isto acontece nos locais de esporte, durante as refeições ou nos banhos de sol.

-Segure isto - diz Norman, enquanto passa a Bruce, por baixo da mesa, durante o jantar, um bilhete. Ressabiado pelo que já ocorrera em situações como esta, ele pega o papel e, rapidamente, o guarda no bolso. Não é molestado desta vez por nenhum guarda; logo compreende a esperteza de Norman. Os dois seguranças que estão no recinto naquele momento veem-se envolvidos em apaziguar um início de confusão na outra extremidade do refeitório. Esta estratégia fora previamente planejada por Norman e os envolvidos são companheiros de confiança. Assim, não houve percepção nem interferência na passagem do bilhete por debaixo da mesa.

-Aí você tem a data e o horário em que faremos a fuga - diz Norman disfarçadamente. -Não deixe que ninguém leia, por enquanto; nem mesmo seus companheiros de cela.

- Está convicto de que dará certo?

- Nunca tive tanta certeza. O fracasso anterior deu-se por uma estratégia mal planejada. Precipitamo-nos na hora da ação principal; leia com atenção o que escrevi que vai entender.

-Quantos estarão envolvidos na ação?

-Mais companheiros do que você possa ter ideia. Cuidado! Eles estão retornando.

Já em sua cela, enquanto dormem os outros dois companheiros, Bruce se põe a ler o conteúdo do bilhete. É na verdade uma carta ou uma explicação detalhada de como empreender uma desordem interna a ponto de envolverem uma galeria inteira de presos e tirarem, dos guardas, dos carcereiros e, principalmente, da direção interna, toda e qualquer chance de defesa, pedido de socorro ou reforços. As comunicações seriam cortadas, Wilson seria tomado como refém. Isto seria feito à noite, no mais completo silêncio e sem que as outras galerias tomassem conhecimento, o que poderia desencadear um caos, o que seria contraproducente e incontrolável. Embora conheça cada palmo da casa que já o abriga por tanto tempo, tem Norman perfeita ciência das dificuldades, mas passara os últimos anos estudando o comportamento dos guardas, do próprio Wilson e da rotina de segurança do prédio.

Jordan seria o encarregado, por sua força e inteligência, de atrair para si um dos quatro carcereiros da galeria em questão. Aí seria o ponto de partida e o início da fuga. Ocorre que muitas das estratégias estipuladas por Norman não chegarão a ser utilizadas, por contingência da própria situação que envolve um plano deste quilate.

- Carcereiro - diz Jordan, bem no horário em que acaba de ser servida a refeição noturna. Jordan não mexera no seu prato. Por volta das 22 h:

- Não vou comer esse grude; poderia me servir coisa melhor? - É claro que o carcereiro não lhe dá a mínima atenção e ele repete a pergunta:

- Amigo, que tal mudar de opinião, isto por acaso não te interessa? Tem nas mãos, tinindo, uma nota de cem dólares; o carcereiro já muda de fisionomia.

-Vou pensar no seu caso - diz isto e se afasta, mas Jordan pressente que seu plano terá sucesso. Por volta das 11h da noite surge o carcereiro portando uma refeição. - Veja se está melhor; e cuide que não se acostume!

No momento em que enfia pela grade o prato com a comida, tendo o olho arregalado sobre a nota de cem dólares, tem o homem o braço agarrado e de tal forma violenta por Jordan que chega a soltar um grito de dor abafado a tempo por outro prisioneiro da cela. Fica, o guarda, bem junto à grade e pode ter saqueados todos os bolsos. Vasculhando-os, encontra Jordan o que queria: as chaves. Passa-as para outro prisioneiro; logo se veem fora da cela. E o carcereiro, algemado, devidamente amordaçado e preso à própria grade de ferro.

Conforme previamente combinado, tudo precisa ser executado no mais completo silêncio; uma única falha pode ser fatal, visto que seria dado o alarme e, neste caso, mais uma tentativa de fuga redundaria em fracasso. Uma vez libertos os presos da primeira cela, os demais não devem representar problemas, contanto que ajam corretamente. Norman, com sua experiência vinha usando, durante meses, a tática da boa camaradagem com um dos carcereiros de sua ala.

Professor Edgard Santos
Enviado por Professor Edgard Santos em 06/08/2016
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