Um caminhar tortuoso
Uma dor maior pode nos levar a ignorar dores menores; uma transgressão de dimensões inaceitáveis pode nos levar a desconsiderar transgressões menores; é certo que aquilo que realça mais, inibe manifestações menos significativas. Soda caustica, imediatamente, nos remete a corrosão, desentupimento, a tudo que exige medidas mais profundas, ou incisivas.
É difícil compreender como uma pessoa pode imaginar em tirar sua própria vida com a ingestão de um produto tão agressivo, corrosivo, e doloroso, existem meios mais rápidos, e menos repulsivo de se matar, sem transformar o fato em uma cena dantesca, que fica gravada, de forma definitiva, na memória de quem a assiste.
Os gritos histéricos trouxeram a polícia ao local, uma casa sombria, onde foram encontrados: uma senhora paraplégica, sentada em uma cadeira de rodas, e um corpo estirado no chão, com um copo quebrado ao lado, com evidentes sinais de um líquido caustico.
A deficiente física declarou que ouviu gemidos no quarto da doméstica, que lhe dava assistência, conduziu sua cadeira de rodas até o quarto da empregada, foi quando se deparou com aquele quadro...a ser esquecido. Uma lamentável forma de se suicidar.
Não havia motivos aparentes para aquela forma estúpida de morrer, não havia notas que explicassem o suicídio e nenhum comportamento diferente, que pudesse levar a conclusões, ou trazer explicações a aquela medida tresloucada; e, particularmente, era difícil entender a forma tão acintosa de se matar; por que tinha de se flagelar daquela forma? Um suicídio, que tirava a vida de uma, punia uma inválida, e fazia da casa, uma casa de tortura.
Nem sempre um trauma, que provoca uma lesão permanente, pode abrandar a alma de alguém, quase sempre faz da vítima uma pessoa mais amarga, literalmente mais caustica; um acidente de carro deixou aquela senhora paraplégica, e matou sua filha de 19 anos. Cinco anos após o acontecimento, a senhora viu a empregada experimentando o vestido que a filha usava no momento da tragédia. O motivo, sem dúvida, era torpe, mas o que pode pensar uma anciã remoída pela saudade, e sensação de ter sido ela quem deu causa ao acidente, com sua pouca habilidade na direção?
Preparou um suco de laranja, “adoçado” com uma dose letal de ricina, terrível veneno derivado da mamona, e serviu à doméstica, que logo passou a sentir s efeitos mortais do droga que havia ingerido, e antes mesmo de morrer, assistiu a patroa levar até ela o famigerado vestido da filha, em uma bacia, cheia de água e soda caustica, que corroeu, de forma feroz aquela indumentária feminina. A senhora era uma médica, com um funil, quase que entubou a moribunda, fazendo com que ela bebesse quantidade alarmante da água corrosiva.
Como atitudes fúteis, como a da empregada, podem fomentar ódio carregado no âmago de uma pessoa; a mãe não suportou ver o último manto sagrado da filha ser invadido por uma miserável criada; e só uma mente doente, como a da velha senhora, poderia escamotear o emprego da ricina, com o uso danoso da soda: tanto a ricina como a soda seriam suficientes para matar, mas as corrosões causticas satisfizeram a intransigência da mãe, além de fazer desaparecer um vestido profanado por uma serviçal.
Após limpar todas as evidências....passou a gritar por ajuda,. afinal sua empregada havia se suicidado