O Condenado

Gary Taylor caminhava no meio da cela de uma lado para o outro sem atinar com as palavras do advogado que, há minutos o deixara envolto em seus pensamentos conflituosos. Por que não conseguira, até aquele momento a anulação da sentença de morte? Estava desesperado com a ideia de ser executado. As meras palavras desse narrador não possuem o poder de desvendar para o leitor o intimo do meu personagem; não o conheço de todo, podem acreditar no que estou afirmando.

Não consigo, por mais que me esforce, descobrir o que se passa nos pensamentos e nas intenções de Gary Taylor. Tentarei uma sondagem durante o desenvolvimento do texto que pretendo levar a público, mas não garanto que terei sucesso por ser o meu personagem pessoa fechada em si mesmo e não se abrir, nem mesmo para o próprio subconsciente.

Incrível como permitiram que ele utilizasse o celular depois de enclausurado, mas, segundo o grau de sua criminalidade, o mínimo que pegaria de pena, caso fosse anulada a cadeira elétrica, seria uma prisão perpétua; então, que usasse à vontade o seu aparelho. Em nada isto alteraria sua conduta, já que não fazia parte de nenhum bando ou quadrilha. Digitou um número e logo foi atendido.

- Não consegui – disse após sentar-se em sua cama e cruzar as pernas.

- O que está dizendo?! – respondeu uma voz feminina, a esposa de Gary Taylor. – Não cometeu crime algum; acredito em você. Tenho certeza de que estão mentindo quanto às impressões digitais encontradas na arma, não são suas. Precisa fazer alguma coisa, meu amor!

- Virá na próxima visita? – disse Gary, sem querer prolongar a conversa e desligou em seguida.

Guardou de volta no bolso da calça o celular e tirou, de uma mesinha de cabeceira, uma bíblia pequena e bastante surrada. Recostou-se sobre o travesseiro e leu até que o sono dominou-o de vez e ele adormeceu.

O banco em que trabalhava Gary Taylor não era dos mais famosos na cidade. Mas era um banco e todo cuidado é pouco quando se trata de segurança. Gary, na função de gerente conhecia alguns segredos velados à maioria dos funcionários.

- Ei! cara, não me coloque em apuros. Sou um trabalhador fiel aos meus princípios de honestidade e pretendo continuar assim – dizia Gary à mesa do bar ao lado de Simon, um amigo de meses que ele conhecera em uma discoteca do centro de Charleston.

- Mesmo em se tratando de uma bolada que poderá mudar sua vida; ou vai querer ficar de empregadinho até a velhice?

- Prefiro isto a ter que terminar os meus dias na cadeia ou eletrocutado.

- Deixa de ser otário! Só tem que seguir o plano e deixar o resto comigo; depois é só me encontrar no dia seguinte para dividirmos a bolada e em partes iguais. Pensa direitinho, sei que não vai resistir. É só me ligar e marcamos o dia.

Gary passou os próximos dias completamente desconcentrado por causa da insistência de Simon e, sobretudo da tentação que o dominava. A ideia de largar tudo e desfrutar de uma vida de milionário em um país distante o vinha torturando a cada dia. Mas, e os riscos? Sofria de suores e perturbação mental só de pensar num possível fracasso. Por outro lado, não via nenhum empecilho ou dificuldade; somente Simon ficaria sabendo e, é claro, ele não trairia a si mesmo. O que quer é o dinheiro e cair fora.

O dia de Gary começou normal como outro qualquer, com exceção de um fato inusitado. Simon apareceu de supetão sem que houvessem combinado qualquer encontro.

- O que faz aqui? Pelo que sei não é cliente do banco. – Simon aproximara-se do caixa em que servia Gary Taylor, fingindo que efetuava alguma operação, mas o que queria mesmo era conversar com ele.

- Marcamos ontem no barzinho; por que não apareceu? Agora, mesmo que não queira o golpe será aplicado. Espero você lá depois do expediente. Será pior se não for – disse Simon e deixou Gary pálido e muito sem graça com suas palavras inesperadas e principalmente pela ameaça. Não teve jeito a não ser respeitar o encontro forçosamente marcado; e à tarde lá estava ele em frente a uma caneca de chope e da arrogância repulsiva de Simon.

- Não quero perder mais tempo. Será na segunda-feira o ‘resgate’. Não se esqueça de como agiremos. Vai me receber como a um parente distante e me convidar para a sala de dentro para um cafezinho. Dali, você volta para o trabalho enquanto eu permaneço com o meu cafezinho até quando não mais derem por minha presença. É quando você vai à sala do dinheiro levando a requisição para a quantia que necessita. Nisto eu saio do banheiro e entro com você. Enquanto encho minha maleta com as verdinhas você pega o que precisa. Eu volto para o meu lugar e pouco depois saio normalmente. Depois é só pegar comigo a sua parte no local combinado. Veja como será fácil se apropriar de uma graninha preta que fará toda a diferença em nossas vidas! Não vejo a hora de chegar segunda-feira.

Tudo saiu de acordo com o planejado, exceto a divisão do dinheiro. Haviam marcado em um terreno desabitado e sem nenhum movimento de pessoas.

- Não foi esse o acerto. O que vou fazer com essa mixaria? Não foi para isso que me arrisquei. Onde está a grana? – disse Gary muito irritado.

- Essa é a parte que cabe a você. Não se esqueça de que toda a ideia foi minha e o risco maior também, pois que saí com o dinheiro em meu poder.

- Você é um patife e enganador! Merece morrer – Gary apontava, nesse momento, uma arma na direção do outro.

- Abaixe esse revólver cara; podemos entrar num acordo.

- Não quero acordo com quem já me passou para trás – disse essas palavras e lançou, no rosto de Simon todo o dinheiro que tinha em mãos. Em seguida virou as costas para deixar o local.

- Se me entregar será um homem morto, saiba isto! – gritou Simon nas costas de Gary Taylor. Este cuspiu para o chão e se retirou; não sem antes jogar a arma no canto do muro do terreno baldio logo que saiu da casa abandonada; Simon ficara ali todo satisfeito com mais aquele pedaço da pequena fortuna que o outro desperdiçara.

Naquela mesma noite Simon é encontrado sem vida no mesmo terreno em que houvera o encontro e, dois dias depois, uma denúncia anônima dá conta de que Gary fora visto deixando o local poucas horas antes do assassinato e, para piorar a situação, uma arma contendo suas impressões digitais fora ali encontrada.

Simon pode ter sido vítima de um assalto seguido de morte. Ou de um acerto de contas com algum parceiro de crime. Como pode ter Gary, realmente o eliminado, tal fora seu ódio e sua frustração. O que é certo é que jamais saberemos de fato o que aconteceu. É que a justiça, mesmo cega e condenando por meio de provas e evidências, pode ter falhado no caso de Gary Taylor como muitas vezes já ocorreu, levando à pena morte condenados cujo segredo foi para o túmulo junto com eles.

Professor Edgard Santos
Enviado por Professor Edgard Santos em 09/03/2016
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