O mistério da clareira
Chovia, o que não era surpreendente considerando que se tratava do início do inverno. Apesar do frio, muitas pessoas caminhavam nas ruas, indo e vindo, entrando em lojas e saindo delas. Os guarda chuvas batiam uns nos outros, transformando o ambiente num bailado de cores exóticas e estampas florais. Uma pessoa, no entanto, parecia destoar daquele cenário adocicado. Um homem, sentado num banco solitário da praça, acompanhava os passos rápidos que fugiam da chuva, observava o ir e vir de carros cortando as pistas alagadas e via as crianças entrarem agasalhadas na escola. Ele observava tudo com passividade, não esboçando qualquer reação, quase como um cadáver que aguarda na câmera fria do necrotério. No entanto, não estava morto. Os olhos azuis penetrantes fixaram-se em um ponto do parque em que poucos prestavam atenção, mas que parecia ter algo de especial para ele, já que passou toda a madrugada olhando para lá.Era uma pequena clareira, onde os cães costumavam se proteger da chuva e algumas pessoas utilizavam para fins menos nobres. Nesse dia nenhuma das classes ali se encontrava, mas o homem continuava olhando, parecendo enxergar algo que só a ele era visível. Até que, por fim, resolveu se levantar e ir até lá. Colocando as mãos nos bolsos do casaco encharcado, andou devagar, olhou de relance para os lados em busca de possíveis testemunhas e depois abaixou para que sua altura coubesse no pequeno buraco. Com um gemido silencioso, o homem deixou cair uma lágrima da qual logo se livrou. Estendendo as mãos para tatear na escuridão, encontrou o rosto tão caro e pôde sentir o que provavelmente lhe fizeram. Rezara por toda madrugada desejando que não fosse real, implorando a Deus que a pista fosse falsa, mas, infelizmente, lá estava o pequeno corpo. Uma falta de ar quase lhe trancou a garganta e sua única reação foi discar o número da polícia. Estava acabado!
Continua