O BOM LADRÃO - capítulo IX
Após aquele dia de heróis, o policial e o ladrão voltaram para casa e sossegaram.
- Ok, já visitei o museu, jantei com gente fina, tive aulas de etiqueta, aprendi a economizar, pratiquei boas ações... É, acho que não falta mais nada.
- Negativo, Tadeu! Ainda falta uma coisa..
- Sei, sei, o anel da primeira dama. Estou pensando em como vou devolvê-lo...
- Eu não estava falando disso, e sim de conseguir um emprego.
- Então não preciso mais devolver o anel?
- Claro que precisa!
- Droga.
- Mas antes vai procurar um emprego.
- Está bem, eu vou... O quê? O chefinho disse em-em-em... Emprego?
- Positivo!
- Mas eu nem sei o que é isso! Ah, chefinho, só pode estar zombando com a minha cara! Aposto que isso nem estar na lista.
- Está sim, Tadeuzinho.
- Maldita psicóloga.
- Agora vamos pensar... Em que área um ladrão poderia trabalhar?
- Ladrões não trabalham, chefinho, hehe...
- Já sei, vamos ver no jornal.
O policial pegou o jornal na gaveta da estante e leu os anúncios...
- Veja! "Precisa-se de garçon", que acha?
- Não acho nada, como de graça e ainda fico com as gorjetas.
- Humm... Melhor não. Olhe aqui: "precisamos de um porteiro".
- Veja esse: "precisa-se de um herdeiro de um milhão de dólares", que me diz?
- Hhmm... Olha! "vagas para caixa de supermercado", você devia tentar.
- É para explodir os cai...
- Não, é para trabalhar no caixa, passando as compras.
- Ah.
- E então?
- Bem, vamos tentar.
No dia seguinte, os dois foram até o supermercado e o ladrão conversava com o dono:
- Olá, eu vi o anúncio de vocês no jornal dizendo que precisavam de caixa e eu queria o emprego.
- Bom, mas antes você vai ter que passar por um teste de perguntas bem rigoroso. Está pronto?
- Acho que sim.
- Ok... Você faz parte da Máfia?
- Hhmm... Não.
- O que você faz na Máfia?
- Eu... Não participo da Máfia.
- Ok, está contratado. Seu caixa é aquele ali.
- Obrigado.
O ladrão ficou no caixa e o policial bem ao lado dele, o dono do supermercado olhou para Wilson e perguntou:
- Algum problema por aqui, policial Wilson?
- Sabe o que é? É que... Não conte para ninguém.
- Unhum.
- Acho que alguns malandrinhos andam escondendo biscoitos nos bolsos.
- Bem como eu suspeitava, aqueles pirralhos da rua 15. Tudo bem, policial, fique à vontade.
- Obrigado.
Enquanto isso, no caixa, Tadeu passava as compras de um homem cego.
- São R$ 22, meu senhor.
- Você pode pegar aqui em minha carteira? É que como você ver, eu sou cego.
O homem entregou a carteira cheia de dinheiro a Tadeu e esse suou frio. Podia se aproveitar da deficiência do homem que ele nem saberia, no entanto, notou que Wilson o fitava com avaliação e se conscientizou do que era certo, tirou apenas os R$ 22 da carteira e a devolveu ao homem, agradecendo em seguida.
- Bom trabalho, Tadeu.
- Obrigado, chefinho.
Agora uma mulher passava suas compras e Tadeu registrava tudo na máquina.
- R$ 54,40 senhora.
- Aqui está.
- Obrigado, aqui está seu troco.
O ladrão fazia tudo com muita alegria e se orgulhava de seu bom trabalho, até que a mulher deu meia volta e gritou para o ladrão:
- Está pensando que eu sou alguma otária? Eu te dei uma nota de cem, você deveria me devolver R$ 45,60 e aqui só tem R$ 45,50!
O dono do supermercado ouviu a discussão e falou para Tadeu:
- Ah, então não termina nem seu primeiro dia de trabalho e já está roubando os clientes!
- Roubando? Não, eu devo ter me enganado! E o que são dez centavos a menos?
- Pois vou te dizer o que é dez centavos a menos... É um pé na bunda, está no olho da rua! Suma daqui!
E como um cãozinho rejeitado, Tadeu baixou a cabeça e saiu na companhia de Wilson, mas, vendo o policial se retirar, o dono do supermercado perguntou:
- Ora, policial Wilson, e os garotos da rua quinze?
- Bom... Ah, acabei de lembrar que não é aqui que eles roubam doces! Com licença.
- ...
Dentro da viatura, Tadeu lamentava sua falha, à medida que era consolado pelo policial.
- Não fique assim, Tadeu, acho até que você merecia ser mais do que um simples caixa.
- É impossível, chefinho, ninguém vai querer um cara tão inesperiente como eu.
- Não diga isso... Tenho fé de que você ainda vai surpreender a todos nós!
À noite, sentados no sofá, eles assistiam à TV, quando a programação foi interrompida para um noticiário de última hora: "A primeira dama descobriu nesta manhã que o anel de pedra azul que pensava ter reencontrado é falso e ela está oferecendo uma recompensa de mais de um milhão de reais para quem encontrar o anel verdadeiro, pois ele tem um grande valor sentimental para ela. Atenção, se você encontrar esse anel, por favor, ligue para o número que está aparecendo na tela e o anel será devolvido à primeira dama e lhe será dada a recompensa."
- Minha nossa! Ouviu isso, Tadeu?
- Ouvi! Um milhão de dólares...
- Você ainda está com o anel, não está?
- Sim, está aqui no meu bol... não.
- O que foi?
- Não está aqui.
- Você... Você perdeu o anel?
- Ele estava no meu bolso!
- Seu... Seu... Tudo bem, me diz, você tirou o casaco em algum momento?
- Eu tiro esse casaco a todo momento. Mas o anel sempre continuava no bolso.
- Ok, ele não deve estar fora de casa. Vamos procurar.
Então eles começaram a vasculhar a casa toda à procura do anel, e procuraram na sala, no quarto, na cozinha e até dentro ds privada! E nada de encontrarem o anel.
- Ótimo, lá se vai um milhão de dólares.
Disse Tadeu, que sentou e punha as mãos no bolso da calça, encontrando a jóia, e exclamou:
- Mas é claro! Eu havia colocado o anel no bolso da calça quando coloquei o casaco para lavar!
- "Mas é claro..." Idiota! Me dá isso aqui, vou devolver pra...
- Ho ho ho! Me dá aqui uma ova! Eu roubei o anel, então eu que devo devolvê-lo.
- E ficar com todo o dinheiro? É ruim hein! Me dá o anel.
- Nem pensar!
- Me dá o anel!
- Não dou.
- E se dividirmos?
- O anel?
- Não, seu idiota, o dinheiro.
- Quer dizer... Quinhentos mil para você e quintos mil para mim?
- Nããão... Trezentos pra você e duzentos pra mim... Mas é claro que quero dizer isso!
- Mas por que, se você nem sequer tocou no anel?
- Porque senão eu digo a verdade à primeira dama, que você roubou o anel dela, aí o chefe vai saber que você se comportou mal e vai te levar de volta pro xadrez e...
- Está bem, está bem! Mas, quinhentos mil é tão pouquinho...
Continua...