Um motivo menor
Ele era um jovem, apenas 26 anos; ele era um parasita, vivia com a irmã, o cunhado e um sobrinho; não tinha qualquer ocupação, e era um viciado, metido com drogas; um pária social, mas estava morto, e como estava morto, três perfurações no peito não deixavam restar dúvidas, sua breve existência no mundo havia chegado ao fim.
O assassino não se preocupou muito em esconder evidências, os disparos foram efetuados na porta de onde morava a vítima, não usou máscaras, foi durante o dia, portanto, nenhuma tentativa de montar enigmas, ou ocultar a autoria do feito. Não haveria muito questionamentos, ainda que houvesse essa preocupação; o autor, distribuidor de drogas, era conhecido pela violência com que tratava aqueles que trabalhavam para ele; levava a sério o negócio, independente da ilicitude, do qual se via cercado.
Um boletim policial simples, já conhecedor do assassino deu início à caçada, testemunhas oculares reforçavam a primeira peça que iria, em fase seguinte, instruir um processo; e a captura não foi mais difícil que a identificação do criminoso.
O motivo do crime era muito claro, e os primeiros depoimentos ratificaram a má fé da vítima, ficou salientado que desvios de drogas e de valores resultantes daquele comércio davam respostas a cada um dos tiros, que teria posto um fim ao traficante.
Tudo solucionado, a polícia cumpriu seu papel; a família viu o responsável preso; a sociedade sentia-se confortavelmente protegida, e tudo seria arquivado, mas alguém teria alcançado, plenamente, seu intento e saía completamente incólume, em todo aquele contexto.
A irmã da vítima, ao retornar um dia para casa, observou, à distância, que um estranho pegava algo com seu irmão, e pagava pelo que recebia, a conclusão de que o tráfico de drogas estava ocorrendo em sua casa transformou a dúvida que carregava em certeza. Não fez alarde de sua descoberta, nem falou com o irmão o que descobrira. Passou a controlar as ações do ingrato, com mais acuidade, e não tardou a descobrir que o parasita, que morava com sua família, estava levando o filho dela ao vício, o que a encheu de fúria.
De tudo que o irmão descuidado arrecadava com as vendas de entorpecentes ela surrupiava uma parte: tanto do dinheiro, quanto das drogas, nunca com o intuito de se beneficiar com seus furtos, o plano era criar um clima de desconfiança entre o distribuidor maior da região, e o pequeno traficante, que pagava o aluguel viciando uma criança de 13 anos.
O seu propósito foi, plenamente, alcançado; o dono da droga matou o pequeno traficante, que “aproveitava-se” dos valores que passavam por suas mãos, supostamente ludibriando o titular de todo produto. Assim pensava o assassino, mas aquela razão teria sido um motivo menor para o crime cometido; a mãe do menor viciado sabia que havia induzido a vingança, usando mãos criminosas alheias.